sábado, 20 de julho de 2013

— RELIGIÕES E CRENÇAS

1. Seitas/religiões "cristãs" acatólicas
Santa Cruz do Rio Pardo teve intolerâncias religiosas
aos cultos sincréticos de raízes afro-ameríndia-cristã
-foto representativa afro-religiosa - internet-
1.1. Presbiterianismo - a oficialidade
O Censo de 1872, concluído em 1874 na província paulista, não identificou acatólicos na paróquia de Santa Cruz do Rio Pardo. Antigos presbiterianos diziam das primeiras famílias no lugar, e, talvez até existissem, todavia, desconsiderados pelos recenseadores que mais se embasavam nas informações da vigararia católica, no caso santacruzense, instalada em 1873.
Com segurança documental, no início dos anos de 1877 pelo menos o presbiteriano Francisco de Paula Martins Coelho, mais propriamente Francisco de Paula Martins, residia em Santa Cruz do Rio Pardo, conforme publicação oficial de governo que assim o identifica (Diário de S. Paulo, 06/05/1877: 1), num pedido para a inclusão de cidadãos santa-cruzenses na lista de jurados; mas, documentos indicam, ainda era católico.
Nos anos de 1880 - garantia histórica, talvez desde o final da década de 1870, correto que alguns presbiterianos residiam no município, numa convivência atribulada com os católicos. Carta datada de 17 de dezembro de 1883 acusava o presbiterianismo local de arrebatar "jovens da religião catholica, em que foram creados, para unil-os na seita protestante!" (Correio Paulistano, 04/01/1884: 2). 

1.1.1. A controversa conversão de Francisco Ignácio Borges
Mêmores familiares informavam a chegada de Francisco Ignacio Borges, com a família, agregados e escravos, a Santa Cruz do Rio Pardo, no início do pioneirismo, e teria sido ele o primeiro convertido ao presbiterianismo, por volta de 1873, com a chegada de parentes mineiros sectários da nova fé.
Documento de alienação de terras atesta que o Borges adquiriu propriedade em Santa Cruz do Rio Pardo em 1862, a fazenda Mandaguahy, conforme edital do juízo de direito de Santa Cruz do Rio Pardo citando transação datada de 29 de dezembro de 1862 (Correio do Sertão, 28/11/1903: 3).
Embora dono de terras na região santa-cruzense, Borges residia em Lençóis Paulista na década de 1860, onde o registro de batismo de sua filha Anna [Carolina], aos 02 de março de 1862 (Livro Batismos 1861-1869: 33).
Outras referências comprovam sua estadia naquela localidade, citado em grave crise financeira e devedor a um capitalista da região (Diário de S. Paulo, 05/05/1868: 2; Correio Paulistano, 15/01/1868: 2).
Nos anos de 1870/1880, Borges é citado morador em Santa Cruz do Rio Pardo como fazendeiro, político conservador e, em algum tempo, juiz de paz (Correio Paulistano, 03/10/1878; 02/10/1879: 2 e 09/03/1887: 4).
Em Santa Cruz, ainda, nascido suas filhas: uma cujo nome ilegível, batizada aos 02/11/1879 (Livro 1879/1884: 5); Mariana, batizada aos 25/09/1881 (Livro 1879/1884: 34); Ozoria batizada aos 06/07/1884 (Livro 1884/1890: 4); e Francisca, batizada aos 22/10/1887 (Livro 1884/1890: 67).
São, ainda, conhecidos os filhos João Ignácio Borges e Manoel Ignácio Borges (Correio do Sertão, 28/11/1903: 3; DOSP, 06/01/1904: 32).
Considerando batismo da filha Francisca [Ignácia Borges], no credo católico em 22 de outubro de 1887, depreende-se a conversão de Borges ao presbiterianismo ocorrida no período entre o referido batizado e o ano de 1889, pois falecido 'antes de 1890' (Apud Henrique Dias da Silva Junior, informando fonte Cedap/Unesp - Assis, Negócios Eleitorais), além da ciência que o mesmo não constou no rol dos eleitores santa-cruzenses inscritos para o ano de 1890, a significar morto o patriarca sabendo ainda residente em Santa Cruz do Rio Pardo a sua parentela (SatoPrado, CD: A/A). 

1.1.2. Repressão aos primeiros presbiterianos
De maneira geral, os presbiterianos foram fortemente reprimidos em Santa Cruz. Uma demonstração de ranço religioso imiscuído com a política local, deu-se quando nomeado para juiz de paz municipal o professo presbiteriano Francisco de Paula Martins, em detrimento a um católico, da religião oficial (Correio Paulistano, 02/08/1884: 3, Seção Livre: 'Ao Governo Imperial - os protestantes avançam', assinado aos 12 de julho de 1884, por Joaquim Antonio Carmillo):
—"O vice-presidente desta heroica província acaba de confirmar quanto avançámos, escolhendo, no seio de uma população inteiramente catholica, o mais aceptico de todos os protestantes - Francisco de Paula Martins - para 3º supplente do juiz municipal e orphãos deste termo."
Não se tem a data da conversão de Paula Martins, sabendo-o católico até 1882, considerando que não sofrera nenhuma discriminação religiosa, em 1872, quando nomeado subdelegado de polícia (Almanach da Provincia de São Paulo, crônica historiográfica, 1887: 542); ou inspetor literário, em 1878, (Diário de São Paulo, 03/08/1878: 2), cargo no qual permaneceu até 1882 (Correio Paulistano, 12/04/1882: 1).
Então, sua conversão ocorrera em algum tempo entre abril de 1882 a agosto de 1884.
Ainda mais, notícias de 1886 informam que o filho de um presbiteriano teve 'negação de sepultura' no cemitério local, e foi enterrado na propriedade de Francisco de Paula Martins (Imprensa Evangélica, São Paulo, 06/02/1886, Volume XXII: 46).
O fazendeiro Francisco Ignácio Borges, cuja conversão após 1887 e falecido em 1889, causara grande repercussão em Santa Cruz do Rio Pardo, inclusive sepultado 'fora do cemitério', segundo informes por Iolanda Martins e parentes (Debate, edição nº 1450). Em verdade, desde a morte do menino em 1886, com ecos negativos em todo o pais, arranjara-se lugar para futuros sepultamentos presbiterianos em Santa Cruz do Rio Pardo, campo segregado do cemitério católico, separado por uma cerca, lugar onde o atual 1º Distrito Policial, esquina das atuais Rua Euclides da Cunha com a Avenida Dr. Cyro de Mello Camarinha, e ali sepultado o Borges.
Tudo, porém, deixou de ser problema com a transferência do cemitério, tornado municipal, para os altos do Bairro São José, a partir de 14 de abril de 1894.
Em 1888 o Reverendo Georges Anderson Lands, ministro presbiteriano, foi a júri acusado ter celebrado matrimônio de uma menor, sem o consentimento paterno. O caso ganhou manchetes e o pastor protestante viu-se livre, defendido pelo renomado advogado paulista, Dr. Antonio Teixeira da Silva (Diário de Notícias, 22/01/1888: 2).

1.1.3. A oficialidade e a história presbiteriana
A despeito dos acontecimentos, oficialmente o presbiterianismo teve início em Santa Cruz do Rio Pardo aos 13 de agosto de 1889 (Matos, 2009: 2), com o reverendo João Ribeiro de Carvalho Braga e os ofícios religiosos realizados, ainda, nos lares.
Em 1900 o reverendo Othoniel Motta assumiu o lugar, e com os poucos fiéis na época, requisitou da câmara um local para a construção do templo, no 'Largo da Matriz' (Correio Paulistano, 27/10/1900: 3), bastante próximo do santuário católico, num tempo que os terrenos urbanos ainda pertenciam à Igreja Católica. A 'Igreja Oficial' opôs-se e a decisão camarária favorável e a medida tornada sem efeito.
Os presbiterianos conquistaram o terreno do antigo cemitério onde sepultados os seus mortos até 1894 "Ja está firmado o contracto para a construcção da Egreja Presbyteriana desta cidade. Grande parte do material acha-se reunido no largo do cemiterio velho, logar onde vae ser contruido o templo." (Correio do Sertão, edição 06/09/1902).
Sem qualquer indicativo de oposição, os membros da seita procuraram outro local e conseguiram terreno à rua Marechal Bittencourt esquina com a rua Quintino Bocaiuva, noticiado como elegante edifício, em construção, sob a direção de Salathiel Ferreira e Sá (Correio do Sertão, 18/04/1903: 2).
Tudo parecia certo quando se agravaram as dissenções entre os líderes presbiterianos até 'o cisma' de 31 de julho, confirmado aos 16 de agosto 1903, com reflexos imediatos em Santa Cruz, surgindo daí a Igreja Presbiteriana Independente - IPI, com total adesão dos membros locais.
O reverendo Motta, já ausente de Santa Cruz, contava entre os sete pastores do grupo independente.
Com o separatismo formou-se a Igreja Presbiteriana Independente - IPI que em Santa Cruz manteve os objetivos religiosos e assumiu a sede construída, na qual permaneceu até a inauguração do templo atual, à rua Quintino Bocaiúva, esquina com a atual avenida dr. Cyro de Mello Camarinha, em agosto de 1950, quando da data de memoração separatista.
O templo religioso presbiteriano somente teve sua oficialização em nome da Igreja Presbiteriana Independente em 1914, e a denominação Igreja Presbiteriana do Brasil - IPB, esvaziada pela cisão de 1903, construiria sua sede à Rua Joaquim Manoel de Andrade, quase três décadas depois, inaugurada em 1931.
Os religiosos católicos e presbiterianos ainda tiveram desavenças no século XX, por exemplo, em 1903, quando o vereador presidente da câmara, advogado e subdelegado dr. Fernando Eugenio Martins Ribeiro, alterego do chefe político dr. Francisco de Paula de Abreu Sodré, mandou multar o vereador e comerciante Salathiel Ferreira e Sá, presbiteriano, por ter se recusado fechar seu comércio em feriado religioso católico. Em 1916 os presbiterianos queixavam-se das atitudes de certo frei Lourenço, coadjutor, o que motivou Paulo Cagnoto, oficial marceneiro, a denunciar o procedimento do padre contra os presbiterianos e lançar-lhe público repto para debate dos princípios religiosos cristãos (O Contemporaneo, 24/09/1916: 2). O padre Vicente Rizzi, titular na paróquia, apaziguou os ânimos.
A maior dissenção posterior, entre católicos e evangélicos em Santa Cruz ocorreu no domingo de 18 de abril de 1948, quando padres missionários em incumbência religiosa coletaram bíblias impressas por editoras evangélicas, distribuídas na cidade pelos líderes religiosos cristãos não católicos, lançando-as numa fogueira elevada para tais fins ao pé do cruzeiro, caminho para o 'Bairro da Estação'.
O reverendo José Coelho Ferraz, da Igreja Presbiteriana Independente local, fez veementes protestos contra o ato sacrílego e insultuoso, através de publicações no informativo presbiteriano local (Chamas do Evangelho, 21/04/1948: 1-2 e 01/06/1948: 1-2).

1.1.4. 'IPI' no Bairro Ribeirão dos Cubas
Sudário Machado, vindo do Mato Grosso para o Bairro Ribeirão dos Cubas, nos anos de 1923, evangelizou primeiro o parente Antonio de Souza e, com a conversão deste, os demais parentes e vizinhos também aceitaram o presbiterianismo independente, e assim, praticamente, todos os moradores do bairro tornaram-se membros da Igreja local santa-cruzense.
O primeiro templo erguido no Cubas era de madeira, depois substituído por outro de alvenaria que subsiste até os dias atuais - referência 2013, com programação evangélica semanal.

2. Outros segmentos cristãos
O Censo de 1890, unificado Santa Cruz/São Pedro do Turvo, apresentava os primeiros evangélicos - 48 fiéis, sem identificar denominações e o presbiterianismo com 126 membros.
Independente do Censo de 1890, ao longo de décadas surgiram em Santa Cruz as seitas cristãs evangélicas, desde as tradicionais, como a Metodista e a Batista, aos pentecostais, Assembleia de Deus e Cruzada Nacional de Evangelização - Igreja do Evangelho Quadrangular, nesta última com os destaques para o pr. Armando Trovatti, que depois com segmento próprio, marcando a história deste ministério em Santa Cruz, através de batismos nas águas e no 'Espírito Santo', tardes de bênçãos e curas de enfermos, tornando-se nome conhecido no meio evangélico brasileiro.
Demais denominações do gênero somente marcariam presenças a partir dos anos de 1960 /1970, sob influências dos grandes líderes, David Miranda, Miranda Leal e Manoel de Mello, com os processos de curas divina e demais dons espirituais manifestos, depois seguidos dos neopentecostais - dos ministérios de curas por reivindicações e da teologia da prosperidade, com espantoso aumento das denominações de cultos oriundos de dissidências.
No ano de 1965, o norte-americano, Reverendo Steve Montgomery, presente no Brasil desde 1957 vindo do Japão, iniciou a Igreja Batista Independente em Santa Cruz do Rio Pardo, à Rua Major Gabriel Botelho (Montgomery, 1999: 13), nome bastante conceituado na sociedade santa-cruzense e no meio evangélico brasileiro.

2.1. Seitas ditas heréticas ou pseudocristãs
Vistas como pregadoras de doutrinas contrárias aos evangelhos, ou de particulares interpretações ou, ainda, destoante aos interesses de seitas tradicionais, em todo ou em partes, alguns cultos assim cognominados existem ou existiram em Santa Cruz do Rio Pardo, a exemplos e sem discutir méritos, a Congregação Cristã no Brasil, a denominação Testemunha de Jeová, os Adventistas da Promessa, enquanto a Adventista do 7º Dia já alguns anos encerrara suas atividades no lugar.
Os segmentos considerados heréticos são denominados, por alguns, como seitas enquanto as demais seriam religião.
Ainda são contados em Santa Cruz os seguidores do Tabernáculo da Fé e/ou Tabernáculo da Mensagem, originárias no norte-americano William Marrion Branham.
Também a 'Igreja Apostólica Santa Vovó Rosa' tem ministério em Santa Cruz, tipo culto miscelado e cuja patrona é considerada dotada da plenitude total do Espírito Santo de Deus, para completar na terra as obras que Jesus não pode concluir. 

2.2. Os espíritas
No censo de 1890 constou cento e vinte e seis praticantes de outros cultos, sabendo-se do crescente número de espíritas - os kardecistas, cujos cultos praticados pelos ditos intelectuais e entendidos, 'pesquisadores autodidatas' e simpatizantes.
O espiritismo praticado em Santa Cruz, desde os últimos anos do século XIX até os anos de 1920/1930, visava mais fenomenologias que a religiosidade em si; as sessões eram domésticas e restritas. Seria típico espiritismo científico, com estudos das fenomenologias à luz da metapsíquica.
A popularização do kardecismo como religião aconteceu no final dos anos de 1930, e depois, em 1940 com um grupo de abnegados sob lideranças de Argemiro Orestes da Silveira e Pedro de Almeida Gonçalves [Pedro Caco], além de importantes nomes da seita, entre eles Nelson Fleury Moraes, José Garcia, Felipe Zied, Sebastião Correa de Moraes e Augusto [Augustinho] Alóe. As mulheres Jacyra [Jacira] Ferreira de [e] Sá e Hilda Fonseca, com grupos de senhoras, foram importantes nomes do movimento espírita santa-cruzense.
O espiritismo religioso sofreu perseguições de católicos e evangélicos, tendo seu templo sido alvo de apedrejamentos e seus membros socialmente discriminados.
Os espíritas, inicialmente, foram unidos - União Espírita Santa Cruz, fundada em 19 de novembro 1950, de breve duração, e na dissidência, dois centros formados, o Jesus e Maria, e o Alan Kardec, ambos ainda ativos [2018].

3. 'Contingentes da Reacção' - movimento de fanáticos ou exaltados em Santa Cruz
Santa Cruz foi palco, no final do século XIX, de religiosos místicos, como típico catolicismo popular, centrados no pessoalismo do líder e de reivindicação política ou restauração do império.
Destacados o Francisco Izabel ou Francisco Catarina, conhecido como frei Manoel, morto em 1892, e seu substituto Francisco Garcia - o Chico Gago, autointitulado 'São Sebastião' ou 'Missionário de Cristo', à frente do grupo 'Contingente da Reacção' e, igual ao antecessor, seguido por multidão e velado apoio dos ricos, e seu grupo também caçado e desmantelado em 1893.

4. Sincretismos religiosos - os 'cultos raizes'
Aparentemente os escravos e libertos tinham liberdade de cultos próprios em sua sede, no denominado Largo do Rosário, hoje Praça Octaviano Botelho de Souza. Pelas memórias seria uma fusão de cultos mediúnicos afro-brasileiros com divindades africanas representadas nos santos católicos, vista por alguns como variante do Candomblé, por outros como cultos mediúnicos de raiz, ou, na visão dos kardecistas, como atos e manifestos do baixo espiritismo.
As práticas sincréticas observadas em Santa Cruz, desde os primeiros anos do século 20, caracterizavam-se 'cultos mistos', ou seja, com cerimoniais individualizados e centrados no conhecimento, vontade, personalidade e inspiração do chefe religioso, sem qualquer uniformidade de ritos, embora os líderes, a partir de meados de 1900, identificados com o Candomblé ou a Umbanda.
Uma mulher, sob a alcunha de 'Chumbeada', foi a primeira pessoa referenciada na então prática condenável do 'baixo espiritismo' em Santa Cruz. Perseguida pela polícia e com ordem de prisão, por curandeirismo, 'Chumbeada' pôs-se em fuga (Correio do Sertão, 01/11/1902: 2).
O afrodescendente José Dias de Melo, também conhecido por 'José Bezerra ou Zé Dias', oriundo do estado do Rio de Janeiro chegou na região do Paranapanema nos anos de 1930, com passagens por Piraju, Bernardino de Campos e Santa Cruz do Rio Pardo, onde residiu no distrito de Caporanga [Monte Belo].
Considerado o 'maior de todos os chefes de cultos de raiz na região' - seu nome virou lenda, sempre acossado pela polícia, anatematizado pelas denominações cristãs e injuriado pela imprensa.
O hebdomadário 'A Cidade ' (14/01/1954: 2 e 4) dedicou-lhe extensa reportagem, intitulada 'Curandeirismo', juntando testemunhos negativos e críticas às autoridades que não conseguiam prendê-lo. Zé Dias tinha policiais entre seus seguidores e gozava de prestígios nos mais diversos segmentos da sociedade, inclusive ostentava certidão de batismo de seu filho cujo padrinho era o Presidente do Brasil, Getúlio Vargas. Morreu no início dos anos de 1980, em Bernardino de Campos.
O médium curador João Giardulo ou Ciardulo, acusado de embusteiro, foi perseguido e preso pelo delegado Antonio Catalano (A Cidade, 21/11/1943: 4).
Nos anos seguintes se destacaram, entre outros: 'Crispim - ignorado o sobrenome, vindo de Dois Córregos - SP; Denise da Silva; Zulmira 'do Sacoco'; Josefa Reali - 'Zefa de Ipaussu'; 'Luiz Vermelho'; e Lourdes Machado'.
Todos os citados, embora federados, praticavam cultos mistos sob estranha autoidentificação: 'Umbanda por fora Candomblé por dentro'. Também destacados os 'Zé Vieira' e o 'Zé Capivara', às vezes confundidos numa só pessoa.
Do final de 1970 ao início de 1990, Celso Prado, devidamente registrado, apresentou-se formador de médiuns e atendimento público teológico-psicanalítico, práticas magicas e cultos de raízes.

4. Benzedores e benzedoras
Em Santa Cruz desde o século XIX muito se ouve dizer dos benzedores e benzedoras, praticantes do catolicismo popular, praticada por leigos que se sentiam chamados ou obrigacionados às práticas em aliviar sofrimentos e dores alheias, principalmente de crianças e idosos, através de gestos, sinais, passes mágicos e imposições de mãos, com ou sem alguma erva molhada em água sacra ou perfumada, além de incensos e velas.
Quase sempre tais vocacionados associavam a arte em benzer com algum tipo de crença religiosa: católica, afro-ameríndia - a mais comumente, espírita ou simplesmente de invocação, alguns típicos curandeiros, manipuladores de beberagens - chás de raízes ou 'garrafadas'. 
Muitos foram os praticantes conhecidos em Santa Cruz; difícil senão impossível enumera-los todos, mas cumprem os destaques:
-Rita Generoza de Andrade foi a mais famosa benzedeira santa-cruzense, mulher que trazia no corpo as chagas do Mal de Hansen, e, ainda assim, à distância benzia e aconselhava a todos aqueles que a procuravam. Muitos a tinham e ainda a consideram santa popular.
-Lourdes Leite Monteiro, 'Dona Lourdes', foi outra agraciada na crendice popular como mulher caridosa, dona de 'benzimento forte', conhecida praticamente por toda Santa Cruz do Rio Pardo e região, ainda antes do meado do século XX, e que fez de sua fé o verdadeiro sentido de vida.
-Aparecida Zacura de Almeida, 'Dona Cida', também praticava benzimentos, com grande frequência de pessoas em sua casa, num misto de invocações e práticas espiritas com as católicas.
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