domingo, 27 de outubro de 2024

O PAPEL DA IGREJA E OS PRIMEIROS PADRES EM SANTA CRUZ

1. Conquistas consolidadas - os primeiros padres
Santa Cruz, bairro ou sede de fazenda, teve início jurisdicionado à freguesia de São João de São Domingos, no município de Botucatu, a partir de 18 de fevereiro de 1856, com a posse do padre Andrea Barra.
—São João de São Domingos tornou-se conhecida como São Domingos e, tempos depois como Tupá entre outros nomes.
Assentos eclesiais atestam a movimentação no lugar, assim como expedientes camarários de Botucatu e documentos provinciais, por citações ou referências.
Antes de 1856 os serviços religiosos eram prestados pelos 'padres visitadores' que corriam o sertão, em troca e benefícios para a ordem ou a sim mesmos, sendo alguns clérigos altamente negociantes.
Manoel Francisco Soares foi o doador das terras para o patrimônio da Santa Cruz, entre 1861/1862, com o empenho do fazendeiro João Domingos Figueira, padre sem o exercício das funções, que no entanto se esforçara em fazer o rossio, erguer o cruzeiro, construir o templo religioso, manter cemitério decente, com isso a dar condições para o lugar seu reconhecimento como Capela, pela Igreja, e Distrito - Policial e de Paz pelas autoridades civis.
O feito do padre Figueira atrairia a rivalidade do  vigário Andrea Barra, com dissenções entre ambos, nada interessante para a Igreja. Figueira denunciou Barra ao Bispado de São Paulo:
"(...).
Esta Capella dista de S. Domingos quatorse leguas, o vigario bastante inpolitico negou-me todas as licenças para baptisados e casamentos, talves julgando que o privaria de seus emulumentos. Estes habitantes tendo entre si um padre vio-se na dura necessidade, com incommodos innauditos hirem para S. Domingos e dispesas imcompativeis, subscrivendo cotas para o vigario ir, ao lugar, e assim mesmo, não hia se não por, contribuição espantoza, como fosse a benção do cemiterio q. exigio oitenta mil reis dizendo que era a licença, quando a provisão q tenho de cemiterio para minha fazenda importou hum mil duzentos e oitenta.
Senhor esta capella não foi benta e para esse fim requeiro a V. Ex. faculdade para mim ou outro sacerdote de confiança sua. Assim mais a ereção de pia Baptismal. V. Ex. que em todos os actos de sua sublime administração tem apresentado amor paternal, caridade, e desinteresse. Eu em nome daquellas ovelhas submissas do seu grandioso rebanho supplicamos serem atendidas.
Eu, e aquelles ficamos rogando a Deos pela conservação de sua vida apreciavel para ingrandecimento das almas por isso.
Ilegivel-." (ACMSP, Documentos Diversos para Santa Cruz do Rio Pardo).
A Igreja o manteve o padre Barra no lugar e obrigou o Figueira paroquiar em Bom Sucesso, atual Caconde, para dois anos depois abandonar a localidade, avisando a Igreja que se dele precisasse estaria disponível em Santa Cruz do Rio Pardo, onde reassumiria sua liderança junto aos moradores.
Santa Cruz mantinha sua condição de Capela, com alguns ofícios religiosos, aparentemente sem muita dedicação do padre capelão Andrea Barra. Não se sabe como foi a administração eclesiástica sobre Santa Cruz, especulando-se que de maneira singela a Igreja administrava os seus bens e os residentes pagavam uma taxa para manutenção do povoado, sem nenhum expediente a respeito, mas era assim que se procedia na época sobre os bens patrimoniais destinados ao público.
Testemunho em processo de 1891, no Juizo Municipal de Santa Cruz do Rio Pardo, disputa sobre terrenos urbanos entre Igreja e Câmara Municipal, consta que o Clero assumiu efetivamente a povoação em 1868, aplicando suas leis, direitos e obrigações.
No ano de 1870, com as chegadas de Joaquim Manoel de Andrade e do coronel e deputado Emygdio José da Piedade, Santa Cruz tornou-se progressista, deixando de ser povoado cambeta, suplantando São João de São Domingos.
Não tardou Santa Cruz ser guindada à condição de Freguesia, ainda que equivocadamente, pela Lei Provincial nº 71, de 20 de abril de 1872, que elevava a Capela São Pedro [dos Campos Novos do Turvo] à nova categoria, sob a invocação de Santa Cruz do Rio Pardo.
Aos 13 de janeiro de 1873, a Igreja sem qualquer objeção quanto ao erro político cometido, através da Carta de Provisão confirmava o ato civil para Santa Cruz, tornando-a Paróquia, e, doravante, de maneira organizada, exerceria o seu domínio sobre o patrimônio através da 'Fábrica'.
'Fábrica' [eclesial], na época, era a designação ou escolha de um setor leigo da Igreja Matriz, com a responsabilidade em administrar os bens patrimoniais, obrigando-se ao controle e às cobranças de taxas e emolumentos do uso de bens, e gastando com as despesas diversas para manutenção e conservação patrimonial.
Este gerenciamento eclesial praticamente absoluto, vigorou de 1872/1873 a 1876, quando Santa Cruz elevada pelo poder civil à condição de Vila, pela Lei nº 06 de 24 de fevereiro de 1876, consequente município, emancipação político-administrativa em toda a territorialidade e, aí, o impasse entre interesses e responsabilidades da 'Igreja e do Município' sobre o distrito sede, no caso a urbe Santa Cruz do Rio Pardo com tudo aquilo que lhe foi patrimonialmente doado.
Conseguiram acordo. A Câmara, pelo 'Código de Posturas', receberia os impostos retribuídos por serviços públicos prestados, sem prejuízos das taxas cobradas pela Igreja sobre ocupações de terrenos considerados seus.
Com o advento republicano e logo o Brasil declarado estado laico, outro entrave entre a Igreja e a Câmara, sobre quem recairia, exatamente, a responsabilidade gerencial do município, com volumoso processo da Igreja ao Juizado, reivindicando seus direitos e anexando documentos e testemunhos de seu recebimento de doações patrimoniais, e a posse imediata sobre eles, na realidade em 1868.
Mas, a Igreja não tinha a escritura da doação de Manoel Francisco Soares, com justificativas desde o seu desaparecimento num incêndio na Câmara Eclesiástica de São Paulo, em 1870 (Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva - SP, apud Ciaccia - CD: A/A), ao simplesmente não existir.
Destarte, a conciliação proposta, a Câmara administraria o município e a Igreja receberia taxas dos moradores, a título de enfiteuse - permissão remunerada para o uso de imóveis, além do laudêmio cobrado, quando da transferência de posse de imóveis urbanos entre terceiros e herdeiros (Acervo: Escola Pública Leônidas do Amaral Vieira, Registro nº 22, de 04/02/1893, da Igreja Matriz Santa Cruz). Destarte, segundo o vigário, mantinham-se todos os bens sob o domínio eclesial, administrado pela 'Fábrica' (Juízo Municipal, SCR. Pardo, Processo de 28/07/1890).
A combinação não durou tanto, e, de vez a solução em 1903, com a decisão camarária de desapropriar todos os terrenos da Igreja, advindo desta a contraproposta em repassá-los todos à municipalidade, reservando alguns deles para si. Acordo fechado.

2. Capelania vacante
O padre Andrea Barra, vigário em São Domingos, deixou a titularidade da vara e o capelanato de Santa Cruz, aos 13 de setembro de 1870 (Oliveira Zanoni, 1976: 61), após quatorze anos de serviço religioso, numa situação bastante incomum: ele foi atingido por um tiro de arma de fogo disparado por João, alcunhado Italiano, acontecimento que a malícia sertaneja tornou caso passional. O criminoso foi preso e o processo lançado em "Crimes Notáveis da Província de São Paulo." (RG U 1117, 1870/1870: 5).
Já aos 24 de maio de 1870 João havia atentado contra a vida do padre, com uma faca (RG BN 1012, 1870/1871: 120), todavia, com a chegada de populares evadiu-se para retornar, meses depois, e consumar o ato com uso de arma de fogo.
Com o acontecido ao padre Barra, em setembro de 1870, São Domingos ficou sem vigário até março de 1872, então, desprovidas também as suas 'capelas'.
No entanto, a 08 de janeiro de 1872, apresentou-se em 'Capela de Santa Cruz' o padre Antonio Zielinski (Livro Eclesial, Santa Cruz do Rio Pardo), celebrando atos e sacramentos religiosos sob aparente autorização do Bispado de São Paulo, pelos registros oficializados, e, por certo, a ciência da 'Vigararia Capitular de Botucatu'.
O padre polonês Zielinski deixara sua terra natal quando do fracassado Levante de Janeiro de 1861, dos polônios contra o regime tzarista russo, refugiando-se no México junto às tropas do austríaco arquiduque Ferdynando Maximiliano Habsburgo - 'Imperador do México', fugindo Zielinski para o Texas - EUA, em seguida à queda do aventureiro Maximiliano. Perseguido em território norte-americano, o padre usufruiu da simpatia de D. Pedro II para abrigar-se no Brasil, em Santa Catarina, no ano de 1867. No hiato de sua biografia conhecida, chegou a Santa Cruz do Rio Pardo, ao sentir-se ameaçado no sul brasileiro por agentes estrangeiros, após sofrer atentado. Tornou-se conhecido como 'o padre que fugia'.
A presença de Zielinski em Santa Cruz é comprovada por inconfundíveis assinaturas em assentos eclesiásticos.
Zielinski permaneceria em Santa Cruz até 07 de abril de 1872, mesmo com a presença do padre Francisco José Serôdio, português, que assumiu a titularidade da vigararia de São João de Domingos, como vigário forâneo, aos 15 de março de 1872.
O crescimento populacional sertanejo, assim como sua extensão territorial, exigia presença de padres capelães para sub-regiões de São Domingos, sendo nomeado o padre João Domingos Figueira coadjutor para Santa Cruz do Rio Pardo, a partir de 31 de maio de 1872 (Oliveira Zanoni, 1976: 61).

3. A vigararia santa-cruzense e o padre Figueira vigário
Nos tempos do 'Brasil Império', o Estado e a Igreja ajustavam-se juridicamente, o que equivale dizer, uma lei civil somente teria validade se ratificada pela Igreja, assim como todo e qualquer ato jurígeno eclesiástico dependeria, por sua vez, da confirmação do estado, como complementações harmoniosas, raramente com arbítrio do Imperador.
De 13 de janeiro de 1873, a Carta de Provisão Eclesiástica elevando Santa Cruz a Paróquia, confirmava a Lei nº 71 de 20 de abril de 1872 que instituía a Capela.
Antes do reconhecimento eclesiástico, Santa Cruz tinha templo religioso decente e paramentado, levantado pelo padre João Domingos Figueira desde 1862, medindo 40 por 60 palmos, equivalendo a 8,80 metros de frente por 13,20 de fundos, evidentemente a necessitar de reparos e adaptações para servir de matriz (Processo para elevação de Freguesia Canônica, 28/12/1872), o que foi providenciado. O templo situava-se na denominada 'Praça Anchieta', a partir do imaginário sequente atual da Travessa Manoel Herculano, pelos fundos da Igreja, entre a Avenida Tiradentes e a Rua Benjamin Constant.
A confirmação do ato designativo de vigairaria trouxe, consequentemente, a nomeação do padre Figueira, cofundador de Santa Cruz, como o primeiro vigário local (ALESP, CO 73.1.1).
O reconhecimento religioso para Santa Cruz refletiu-se nas melhorias político-administrativas, com sua integração ao rol de paróquias existentes na Província de São Paulo (RG D 1015, 1874/1874: 50), como apresentação e reconhecimento de Governo às destinações de recursos para despesas com a manutenção da matriz, além dos pagamentos pelos serviços civis prestados pelo vigário, como os alistamentos, censos, escriturações e expedições de documentos diversos com fé pública.
Em 1876 a Igreja em Santa Cruz do Rio Pardo recebia do Governo de São Paulo 40$000 - verba ordinária para sua fábrica (RG AN 1018, 1876/1877: S 2-19). Pelo mesmo relatório, em ''S 3-22'', a concessão estendia-se para os exercícios 1877/1878 e sequentes. Enquanto a Igreja manteve-se religião oficial, Santa Cruz auferiu recursos públicos para manutenções da Matriz.
A elevação eclesial de Santa Cruz retirou de São Domingos sua importância junto às Capelas do Sertão [médio] Paranapanema, daí sua decadência selada em 1877, com a criação da Comarca Eclesiástica de Santa Cruz do Rio Pardo.
Com a elevação de Santa Cruz à condição de vigararia fez-se, então, novas demarcações, e São Pedro do Turvo subordinou-se à nova paróquia, não conseguindo emancipação, conforme pleiteada em documentos de Governo, ainda no ano de 1890 (IBGE - Coleção Digital 1890, Synopse do Recenseamento de 31 de dezembro de 1890, página 140 e outras).
Também Piraju, em cujo termo inclusa a povoação de Ilha Grande [Ipaussu], subordinou-se à sede eclesial santa-cruzense; e, igualmente a Santa Cruz pertenceram as "Parochias do Espirito Santo, São Domingos, Capellas do Oleo, Lageado e Ilha Grande ..." (Correio do Sertão, 21/02/1903: 1).

4. Os vigários pós Figueira
Ao vigário Figueira substituiu o padre Antonio Manoel Bicudo, ainda em 1878, "apenas por espaço de 15 dias" (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 542), no entanto, nenhum expediente oficial, conhecido, atesta sua presença na localidade.
Oliveira Zanoni (1976: 61) mencionou como substituto de Figueira, o padre Pedro Gaggino de Montaldo, período de 27/11/1878 a 06/07/1879, mas os autores não localizaram, até 2020, qualquer informe que possa confirma-lo vigário em Santa Cruz.
Radicado em Piraju por mais de duas décadas, a contar de 1872, nenhum impedimento havia para o padre Montaldo oficiar atos religiosos em Santa Cruz, eventualmente, entre os anos 1878/1879, assim como o fez, interinamente, o padre Décio Chefallo ou Chefalo, de São Pedro do Turvo (Livro Eclesial, Assentos para Santa Cruz do Rio Pardo).

4.1. Padre Próspero Antonio Iorio
Com ou sem as presenças oficiais dos padres Bicudo e Montaldo, no lugar do padre Figueira apresentou-se vigário em Santa Cruz do Rio Pardo, o padre italiano, naturalizado brasileiro, Próspero Antonio Iorio, aos 08 de outubro de 1879, permanecendo à frente dos trabalhos até os 12 de dezembro de 1882 (Oliveira Zanoni, 1976: 61), apesar de sua preterição pelos políticos liberais dominantes em 1880.
Foi no ministério de Iorio que a política liberal pretendeu e impôs um novo templo religioso, desde o lamentável episódio ocorrido aos 29 de junho de 1880, véspera das eleições municipais:
"(...) quando o povo se achava na igreja, ouvindo a missa conventual, nela entrou o coronel Francisco Dias Baptista, acompanhado de quarenta e cinco capangas todos armados, trazendo dois delles bandeiras vermelhas, marchando á dois de fundo, com as armas em punho e bandeiras desfraldadas; rodearam a egreja e desfilaram pelas ruas da villa, indo todos apear-se na casa do delegado de policia Nicolau Tolentino Rodrigues Barreiros, donde logo depois e do mesmo modo, dirigiram-se para a casa do primeiro."
Vitorioso nas eleições municipais o 'Partido Liberal', tão logo assumiu o poder, às expensas da Câmara Municipal fez levantar paredes de tijolos em torno da antiga matriz, construção por isso apelidada de 'barracão', obra sem nenhuma beleza arquitetônica e criticada pela população.
Em 1887 a Câmara solicitou do deputado coronel, Emygdio José da Piedade, esforços no sentido de reservar verba pública para o levantamento da cumeeira da Igreja, igualando-a à altura da primeira linha da torre em construção (Câmara Municipal, Livro Ata, 12/01/1887).
'barracão' manteve em seu interior o velho templo construído de tábuas (Cúria Diocesana de Ourinhos, padre dr. Luiz Priulli, 19/05/ 1906).
Quanto ao padre Iorio, "tendo aqui reunido bom peculio, deixou a Igreja retirando-se para a Italia" (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 543).

4.2. Padre Bartholomeu Comenale
Após Iorio, outro italiano, brasileiro naturalizado, padre Bartholomeu Comenale assumiu o vicariato, entre 17/08/1883 a 09/01/1895, como vigário forâneo, e a ele coube apelar à Câmara Municipal para requerer junto ao Governo Provincial a instituição de imposto anual obrigatório a todos os munícipes, emancipados e alforriados, a favor do templo religioso, até que este estivesse pronto e paramentado.
O atendimento do Governo de São Paulo foi dado pela Resolução nº 008, de 14 de março de 1884, "Que cria, na Circunscrição da Vila de Santa Cruz do Rio Pardo, o imposto anual de dois mil réis por cada pessoa, nacional ou estrangeira, de 21 anos para mais, ou mesmo menor de idade quando a pessoa coletada viva sobre si."
Mencionado despacho ainda definia que, os designados responsáveis pelos recolhimentos do dito imposto e das demais providências, seriam obrigados a pagar pelos parentes, ou aqueles nomes omitidos propositadamente da lista oficial, além da incômoda multa de 20 [vinte] mil réis.
O imposto, a ser pago por recolhimento no mês de outubro de cada exercício, seria elevado para 5 [cinco] mil réis em caso de atraso até 15 de novembro, e a partir daí as sanções legais seriam pelo confisco ou penhora de bem, para leilão, compatível com o valor devido.
Em ofício de 12 de novembro de 1884, a Câmara Municipal comunicou à Presidência da Província de São Paulo a execução da Resolução 008, e, a seguir, propôs a nomeação de Comissão, com lista sugerida, para responder pelas obras da Igreja Matriz, consequentemente responsáveis pela entrada e saída de recursos originários do imposto legalmente recolhido.
Foram indicados membros da Comissão, o vereador Joaquim Manoel de Andrade, o vigário e vereador padre Bartholomeu Comenale e o então tenente-coronel Emygdio José Piedade, chefe da Guarda Nacional, cada qual "por sua dedicação aos negócios da igreja, por seu caráter ilibado e por todos os títulos que recomendão estão nas condições de bem desempenhar." (Câmara SCR. Pardo, Livro dos Ofícios Expedidos e Recebidos, exercício de 1884).
As decisões de governo foram ineficazes, o imposto não foi bem-vindo, o povo não aceitava o malfadado templo, preferindo sua demolição, e não se tem registros de penações aplicadas por inadimplência.
Afora o imposto, o Governo da Província beneficiava a Igreja em Santa Cruz com valores às côngruas ao pároco e coadjutores, além das adjudicações de conformidade com a Lei nº 92 de 17 de maio de 1883, artigo 1º § 4º (RG: BN 1028, 1883/1884: A-92).
Enfim padre Comenale, engajado na política como vereador nas legislaturas de 1893/1896, em certo tempo também ocupando a presidência da casa e intendência, estranhamente deu por concluso o templo da matriz, ampliada em quatro metros - projeto seu de 1886 (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 544), estando prédio ainda em obras.
Comenale, por motivos de transferência de paróquia não concluiu o mandato de vereador, renunciando em 1894/1895.
Padre Comenale foi possuidor de fazenda em Santa Cruz, assim vista em 1903 a "Mandassaia dos srs. padre Bartholomeu Comenale, tn. Manoel Pereira Tavares e outros (...)" (Correio do Sertão, 11/02/1903: 2).
Embora bastante criticado pelo sucessor, padre Comenale foi "um dos mais preciosos ornamentos do clero catholico" (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 542).

4.3. Monsenhor João Soares do Amaral
Após Comenale, o monsenhor João Soares do Amaral assumiu exercício a partir de 21 de abril de 1895.
O monsenhor, no pouco tempo em Santa Cruz, denunciou a precária situação da igreja:
"(...) um barracão defficiente, mal construido, fora do alinhamento e esquadro e que não se deverá concluir, mas sim procurar levantar por nova planta d'um profissional." (Documentos Eclesiásticos para Santa Cruz do Rio Pardo, Livro do Tombo, 1895: 10, por frei João Basílio, apud Junqueira, 2006: 41).
O hebdomadário 'Correio do Sertão' (21/02/1903: 1) publicou as revelações do monsenhor Soares em quais condições encontrara a paróquia:
"(...) em um estado verdadeiramente lastimavel, debaixo de todos os pontos de vistas. Sem Egreja Matriz, por isso que esta não passava de um barracão defficiente mal construido, fora do alinhamento e do esquadro ameaçado próxima queda. O patrimônio da Egreja em poder da Camara Municipal. A Egreja pauperrima de paramentos e alfaias, reinando a maior desordem e confusão no livro do Tombo e na Fabrica, estando esta com um grande deficit e com a escripturação toda por fazer-se."
Pelo mesmo semanário, o monsenhor Soares escreveu no Livro do Tombo a sua indignação quanto a religiosidade local: "Não encontrei uma devoção qualquer de modo que a religião deste povo, cifrava-se em baptisar seus filhos", o mesmo indiferentismo também observado nas Igrejas jurisdicionadas a Santa Cruz.
Mostrava-se padre abespinhado em relação a Santa Cruz do Rio Pardo; e conclamou para o lugar a presença de um padre jovem "que, com seus esforços, cooperados pelo influxo da graça, deverá chamar ao redil já muitas ovelhas que se dizem crentes ou protestantes."
E o periódico encerrava a matéria: "Eis dito por elle mesmo o estado em que encontrou a Egreja local. (...). Pois bem: Monsenhor João Soares, sem alarde e ostentação, sem dar a perceber a ninguem o estado miserando em que seu antecessor havia deixado a Egreja - ..."
O monsenhor Soares encerrou atividades no local aos 30 de novembro de 1895. 

4.4. Padre Paschoal Maria Giffoni
O padre Giffoni assumiu a paróquia em 19/01/1896, para enfrentar a apatia religiosa da população.
Não lhe foi demérito algum; nenhum outro padre, após Figueira, conseguira sensibilizar a população para a construção do templo matriz, e o reverendo Giffoni sentia-se no desconforto em reunir os fiéis na antiga edificação cercada pelos paredões, deixando a paróquia em 1900, sem ver a conclusão da obra.
No seu diário manuscrito o frei Modesto M Gonçalves de Rezende refere-se a ajuda que recebera do reverendo padre Paschoal Giffoni, nessas suas andanças evangélicas: "(...) padre avulso, italiano, residente em Santa Cruz do Rio Pardo, de onde foi vigário em tempos remotos, também muito político." (Minhas Viagens pela Diocese de Botucatu em Visitas Pastorais com Dom Lucio Antunes de Souza, 01 de junho de 1909: rolamento 32 - lado direito, gentileza Claudinei Balduíno, CD: A/A).
Padre Giffoni faleceu em Santa Cruz do Rio Pardo, aos 29 de junho de 1937 (Prefeitura, Registro de Óbitos), quando a vigararia já sob o controle dos padres dominicanos desde 10 de setembro de 1936.

4.5. Cônego João Antonio da Costa Bueno
Após Giffoni chegou o cônego João Antonio da Costa Bueno, aos 02 de dezembro de 1900, o qual pretendeu outra igreja, uma verdadeira obra arquitetônica em lugar da infelicitada matriz. Tal construção daria fundos para a rua Benjamin Constant e frente para a travessa Manoel Herculano, a aproveitar parte da construção anterior.
Já entrado o século XX, a ideação de Bueno não prosperara além das escavações para alicerces, segundo reportagem do 'Correio do Sertão' (19/04/1902):
"Era intenção do Revmo Cônego João Antonio da Costa Bueno, intenção que teve seu começo de execução, como diriam os criminalistas, edificar a igreja matriz nesta Praça, conforme se vê nas escavações para os alicerces da igreja, a qual ficara com a frente para a Travessa de Manoel Herculano, com o fundo para a rua que passa em frente das casas do Dr. Cleophano Pitaguary e Major Arlindo Piedade de modo a cortar o corpo da igreja velha, e fazer com esta um ângulo quase recto."
A Igreja já não tinha o poder de outrora, todavia organismo ainda forte.

4.6. Padre Francisco Botti
A matriz encontrava-se na situação lamentável, quando da chegada do padre Francisco Botti, sucessor do cônego Costa Bueno, a partir de 17/10/1901. Botti, favorável a uma nova igreja mostrou-se, prudentemente, atento às manifestações populares contrárias ao projeto de seu antecessor.
O semanário Correio do Sertão, na edição de 19/04/1902, acrescentava sua opinião ao coro de queixas e justificativas da população:
"O local onde se acha a igreja velha em absoluto também não se presta para nelle ser edificado o templo projectado, não só porque para isso seria preciso arrasar o barracão que esta servindo de Igreja, como também porque ficando no meio da Praça Marechal Deodoro, inutilizará o largo, que já é tão pequeno." 
Tratava-se da antes 'Praça Padre Anchieta'. 
O povo não queria qualquer aproveitamento da desditosa matriz, porém os lugares propostos, como o Largo da Liberdade, para as novas obras foram descartados: "O local que mais se presta, sob todos os pontos de vista, para a egreja é inquestionavelmente aquelle em que está o templo maçônico da loja União Paulista, na Praça Marechal Deodoro" (Correio do Sertão, 03/05/1902: 1).
A justificativa era aceitável: "(...) porque collocada ahi a egreja como que respeitamos a vontade dos primitivos fundadores desta cidade, os quaes escolheram a hoje Praça Marechal Deodoro para ahi ser levantado o primeiro templo que serviu de egreja matriz nesta cidade."
As ideias de padre Botti determinavam que a solução fosse mesmo construir a nova igreja lá onde a antiga e inconclusa matriz, todavia uma concepção ousada com ampliação da praça - para os limites atuais, com isto a necessidade de derrubar duas outras antigas construções, a sede da maçonaria e o assobradado prédio do antigo 'Quartel - Delegacia de Polícia e Cadeia' - próprio do Governo do Estado, além de alienar terrenos particulares para a efetivação dos planos:
"Ao lado do templo maçonico existem duas datas de terrenos: uma pertencente ao Capitão João Baptista de Oliveira Mello e outra pertencente ao Estado, por isto que faz parte da cadêa, proprio estadual.
O Revmº Padre Botti deve, desde que a egreja seja edificada no local em questão, procurar adquirir os terrenos que ficam aos lados do templo maçonico o que mais tarde ficarão aos lados da egreja, para transformal-os em dous lindos jardins que virão tornar a nossa egreja poeticamente seductora sob os pontos de vista artistico e hygienico.
Quanto à data pertencente ao capitão Mello, estamos certos de que dificil serà ao revmº Padre Botti adquiril-a porque o capitão é uma alma nobre, bemfazeja, amante do progresso e do bem estar desta localidade. Si a fabrica não tem o dinheiro necessario para essa acquisição, estamos certos de que o povo não deixará de, por meio de uma subscripção, entrar com a quantia necessaria para a compra da referida data desde que a egreja tenha de ser edificada no ponto em questão.
Agora quanto ao terreno da cadêa velha, como faz parte do largo, facilimo será ao revmº Padre Botti transformal-o em jardim, porque estamos certos de que a isso não se opporá a nossa edilidade. O que é preciso, porém, é que o edificio da cadêa velha seja removida do largo, porque está enfeiando-o extraordinariamente. Tal edificio, que è todo de taboas, está em ruinas, inteiramente podre. O governo certamente não mandará consertal-o, não só porque não tem necessidade delle, como tambem porque será pôr dinheiro fóra. Si ao menos o edificio da cadêa velha se prestasse para ser adaptado para um grupo escolar ou para qualquer outro fim util, vá que o governo mande retocal-o; mas, não se prestando para cousa alguma, e sendo um grande caixão de taboas, feio, indecente, ninho de traças, de cupins e de carunchos, o melhor que o governo do Estado tem a fazer é cedel-o à municipalidade, para esta dar-lhe o destino que melhor lhe parecer.
(...)." - (Correio do Sertão, 17/05/1902: 1, Assumptos do dia - O local da egreja).
Com a aquisição do terreno e o prédio da maçonaria, através de escritura de compra e venda, e mais a autorização de se usar próprios do estado e do particular - capitão João Baptista de Oliveira Mello, o padre Botti conseguiu seus intentos e os prédios foram demolidos, para dar lugar à nova matriz e praça estendida.
A cadeia velha foi derrubada e o terreno repassado à Igreja, para a construção da praça, sendo a municipalidade compensada com um lote correspondente na esquina das atuais Avenida Tiradentes com a Farmacêutico Alziro de Souza Santos, aonde em 1908 pretendeu-se construir a Câmara ou que o Governo Federal ali fizesse uma Agência do Correio (Livro Ata, Câmara, 14/01/1908), ideias que não prevaleceram.
O alicerce - abertura de valas teve início em 17 de junho e concluído aos 30 de agosto de 1902 (Correio do Sertão, 06/09/1902: 2). Uma foto tirada pelo major Vicente Finamore atesta a obra ainda antes da demolição do prédio da Maçonaria (Edwin Luiz Brondi de Carvalho - CD: A/A).
Padre Botti, coadjuvado pelo padre Affonso Aloia, fez abrir os alicerces do templo, em 1902, e iniciar as obras. Foi transferido, em 1903, para Cravinhos - SP deixando foto da matriz em obras (Livro Ata, Câmara, 01/05/1903), infelizmente desaparecida.

4.7. Padre dr. Luiz Priulli
O reverendo Luiz Priulli ordenado padre em 01 de abril de 1900, ocupou o lugar de Botti, conforme carta de sua lavra, de 19 de maio de 1906, e deu continuidade às obras do templo iniciado pelo padre Botti, e derrubou a parte interna da velha construção ou o que dela restava, "feita de taboas", transferindo os restos mortais do padre João Domingos Figueira, Joaquim Manoel de Andrade e sua mulher, da antiga para a nova matriz (Curia Diocesana de Ourinhos, Documentos para Santa Cruz do Rio Pardo).
O novo templo foi concluído e assim noticiado: "A Matriz nova, que acabamos de examinar, representa o esforço ingente d'esse Pastor verdadeiramente Ministro de Jesus Christo" (O Progresso, edição de 21/04/1906).
A seguir a inauguração do templo, em 1906, padre Priulli recebeu a esperada autorização eclesial "para a exhumação dos ossos de várias pessoas, da egreja velha para serem transladados para a matriz nova..." (Correio Paulistano, 01/06/1906: 4).
Apesar de dinâmico e elogiado, o padre Priulli tinha problemas que passavam despercebidos ou ignorados pela população, sendo ele viciado em jogos e gostador de prostitutas.
O frei Modesto M Gonçalves de Rezende, em seu  diário manuscrito informa sua opinião: "(...) achei Santa Cruz do Rio Pardo uma cidade triste e paralysada. (...).", Diz, ainda o frei Modesto, sem mencionar nome, o que se sabe ser procedimentos do padre Priulli:
"Por ser Santa Cruz uma cidade muito turbulenta já desde o principio era preciso [?] ser guardada por praças dia e noite como se faz nas grandes cidades. Coube-lhe o serviço de guarda noturno no largo da matriz. Foi então, que elle tinha occasião de ver todas as noites as dez horas  duas [?] sujeitas, as quais só sahiam pelas quatro horas da madrugada mais ou menos, antes de clarear o dia. Felizmente, continuou elle, o tal padre não durou aqui muito tempo. {...)."  (Minhas Viagens pela Diocese de Botucatu em Visitas Pastorais com Dom Lucio Antunes de Souza, 01 de junho de 1909: rolamento 32 - lado direito, gentileza Claudinei Balduíno, CD: A/A).
Não tardou ser descoberto na prática de irregularidades e denunciado pelo monsenhor Francisco de Paula Rodrigues - Governador do Arcebispado de São Paulo, processo pelo Bispado de São Carlos.
Em carta sigilosa ao Núncio Apostólico o monsenhor elencou uma série de irregularidades de Priuli.
"Foi acusado de ter se apropriado de uma quantia de dinheiro que os fieis de Santa Cruz do Rio Pardo tinham dado para um altar", diz o denunciante, acrescendo num ofício de 1914, anexado ao processo "Era ele, então, vigario dessa paroquia e, chamado por mim, confessou a falta." (Arquivo Secreto do Vaticano, Nunciatura Brasileira - Processo 157, Fascículo 787).
Luiz Priulli soube que estava sendo investigado e não negou as denúncias. E em sua defesa ao Vaticano, por escrito, tentou comover os juízes contando sua história 'de menino pobre', além de comprometer-se devolver à paróquia de Santa Cruz o dinheiro indevidamente apropriado.
Também pesaram contra Priulli outras acusações, por exemplo, quando na vigararia de Espírito Santo de Pedras - atual Itápolis, as ofensas ao então papa Pio X, a quem se referia como "comedor de polenta", inclusive, "Não satisfeito, ele criou um prato de polenta e batizou-o de Pio X." (Arquivo Secreto do Vaticano, Nunciatura Brasileira - Processo 157, Fascículo 787: 205 verso).
O Bispado de São Carlos se pronunciou sobre o caso e outra grave atitude do padre: "Tirei a parochia de Itapolis do Luiz Priulli principalmente porque, para lá, para a casa parochial, levava de S. Paulo uma mulher do mundo - dizendo ser sua cunhada (...)." (Arquivo Secreto do Vaticano, Nunciatura Brasileira - Processo 157, Fascículo 787, páginas 205-206).
Priulli foi considerado insano e afastado de suas funções por algum tempo, em Curitiba-PR, posteriormente anotado presente no exercício de suas funções na Diocese de Erechim-RS entre 25/03/1917 a 20/10/1918, como Cura da Igreja São José - município de Sertão-RS; no ano 1919 está no exercício das funções em São Paulo - Capital, na Igreja Santa Generoza em 1919, depois na Igreja da Consolação 1924 ... (Livros Eclesiais e referências - CD: A/A).
Em São Paulo tem rua com o seu nome na Vila Prado, Bairro do Limão.

4.8. Conego Sismondo de [da] Cruz Dias
Ao Priulli substituiu o reverendo Sismondo, a partir de 25 de julho de 1908.
Praticamente sem notícias, Sismondo parece não ter ido além do exercício de suas funções religiosas em Santa Cruz. Documentos eclesiais apontam-no, desde fevereiro de 1881, Cônego em Jaguariaíva  (Livros Eclesiais, Matriz de São Francisco de Assis, Jaguariaiva-PR, https://www.familysearch.org/search/collection/2177282).

4.9. Padre José Cacere
O reverendo padre dr. José Cacere chegou à paróquia em 25 de março de 1909 e nela permaneceu até a chegada do padre Vicente Rizzi, em 02 de maio de 1910.
O Frei Modesto M Gonçalves de Rezende escreveu sobre a estadia de José Cacere em Santa Cruz do Rio Pardo:
"Padre Dr. José Cacere - até fevereiro de 1909 estivera como vigario em Itapetininga.
Foi portanto muito contra sua vontade que elle veio para esta cidade.
Sua contrariedade era tão grande e deixava transparecer na melancolia perene da phisionomia como tambem na negligencia com que cumpria o seu dever. Era por isso que quando sahimos da estação para vir para a cidade, ao ver a desordem que reinava entre as irmandades e meninas que deveriam formar alas durante todo o trajeto, e por outra parte, a tranquillidade e quasi satisfação que mostrava o vigario em deixal-as caminhar em tanta desordem, ouviamos de todo lado dizer-se esse padre sem expediente! Demais, tendo elle encontrado a parochia tão extragada pelos seus predecessores, faltam-lhe coragem para a encaminhar direito; era o esmorecimento que se casava, em seu coração, com a contrariedade de ser tirado de Itapetininga.
Notei n'esse povo muito indifferentismo religioso, mas muito mesmo.
Mas se explica. Varios vigarios que ahi parochiaram alem de pouco se importarem do cumprimento dos seus deveres, chegavam até escandalizarem publicamente o seu povo, como sucedia em outros lugares.
Uns inmoraes, como que pousava na igreja com duas taes de vida alegre; outros avarentos e gananciosos como o que vendeu o patrimonio, a casa parochial e até a outra metade dos alicerces da igreja - metade que ficaram sem se poder continuar. Do primeiro, contou-me um desses conterraneos que ahi mora ha muito tempo. Quando de facto se deu elle ainda era moço e estava como soldado nessa cidade.
Por ser S. Cruz uma cidade muito turbulenta já desde o principio (...)." - e aí segue a narrativa diretamente sobre o padre Luiz Priulli. (Minhas Viagens pela Diocese de Botucatu em Visitas Pastorais com Dom Lucio Antunes de Souza, 09 de junho de 1909: rolamento 34 - lado direito, gentileza Claudinei Balduíno, CD: A/A).

4.10. Padre Vicente Rizzi
O padre Rizzi marcou época em Santa Cruz do Rio Pardo, desde sua chegada em maio de 1910, com o principal objetivo em promover ambiciosa reforma da Igreja Matriz.
O templo existente, apesar de recente, parecia não ser do agrado da população e nem da Câmara Municipal, inclusive com 'Projeto de Lei' em tramitação, pedindo "para remover da praça Marechal Deodoro um trambolho de construcção a que chamam igreja matriz" (Cidade de Santa Cruz, 07/09/1910: 1).
A obra não foi removida.
Doravante o padre Rizzi deu início à ampliação e total remodelação do prédio da Matriz dando-lhe características de grande beleza arquitetônica, assim vista em 1913:
"O esforçado vigario dessa parochia, revmo. padre Vicente Rizzi, conseguio impor-se à gratidão de todos os santa-cruzenses, sem distincção de credo religioso ou de ideal político.
Provando o quanto vale o poder da vontade, nas causas nobres, o Revdmo. vigario Rizzi vê em grande adiantamento as obras da Matriz, que elle atacou, sem contar com um vintém em caixa, mas tão sòmente com a generosidade de nosso bom povo.
Os fossos em que repousam os alicerces da parte nova do edifício, foram abertos, sem o digno vigario saber de onde poderia receber o dinheiro, que elle de sua bolsa, adiantara.
Não foi, porém, perdida a boa vontade pelo serviço de sua Religião e o levita poude receber - d’aqui e d’acolá, - esportulas, menóres e grandes, com as quaes tem pago os empreiteiros.
Dentro de pouco tempo, será inaugurada, solemnemente, a nova Egreja, que será um dos mais importantes templos catholicos desta zona. A fachada da Matriz, que se acha quase concluída, não é uma dessas obras toscas em que o mourisco e o manuelino formam baralhadamente, um estylo confuso e grotesco, a fachada da Matriz apresenta um conjuncto architectonico, que não deixa de ter um tanto de byzantino, mas obedece, na linha geral, ao estylo gothico.
Os torreões lateraes não repousam no quadrilatero, mas n’um polygono irregular e são ornamentados por artísticas janelas.
Por sobre o espaço gazophylaceo, fica o coro.
A nave ampla do templo é ornada de columnas com capitéis, artisticamente trabalhadas.
A abside, onde se levanta o altar mor, depois de prompta, será uma verdadeira obra-prima.
E si vamos ter, em Santa Cruz do Rio Pardo, um templo que há de attestar aos posteros, a sinceridade da fè de nossos coetaneos e a generosidade do povo contemporaneo, a quem o devemos?
Exclusivamente á tenacidade edificante, nobre e altruistica, do revmo. vigario Rizzi, a quem não podemos regatear os mais enthusiasticos e applausos pelo zelo com que se empenha, em tudo o que concerne ao serviço do Templo, que lhe está entregue.
Urge, pois, que todos os habitantes de nosso opulento municipio pressurósos, venham trazer seus obulos ao digno vigario, certos de que, por pequena que seja a offerta, ella se torna grande, pois, como já dizia Seneca: Bis dat qui cito dat." - (O Sul Paulista, 30/04/1913).
Conforme o descrito vê-se fase preliminar detalhada do projeto já em andamento. A conclusão das obras, no entanto, demoraria anos. Em 1917 criou-se uma Comissão para a terminação do templo: "As obras constam da erecção da torre, já bem iniciada; reforma do que é de telha nacional para telhas francesas; forro de madeira; ladrilhos de mosaico e revestimento interno e externo, bem como o calçamento em derredor da egreja" (O Contemporâneo, 05/05/1917: 3).
Questão de referência histórica, ao reverendo Rizzi coube primazia em adquirir o primeiro automóvel a circular em Santa Cruz, um modelo Page, "que mandou vir para os serviços de alugueis" (Cidade de Santa Cruz, 26/10/1913: 1), esclarecendo que "O producto dos alugueis desse automovel sera revertido a beneficio das obras da matriz."
Rizzi deixou a paróquia em 1917, sem conclusão da obra, e a ele sucedeu o padre Gasparino Dantas.

4.11. Padre Gasparino Dantas
O padre Gasparino Dantas iniciou o exercício de suas funções em 01 de janeiro de 1918, até sua transferência para Tietê - SP em 1923 (Correio Paulistano, 03/03/1923: 7).
O ativo clérigo marcou presença em Santa Cruz do Rio Pardo destacando-se em diversas frentes de trabalhos comunitários e sociais, cujos reconhecimentos publicados inclusive pela grande imprensa paulista, sendo exemplo, em 1921, "pela nova matriz, cuja construção é dirigida pelo vigario revmo. padre Gasparino Dantas." (Correio Paulistano, 13/08/1921: 5).
A obra era a finalização da reforma proposta e iniciada pelo seu antecessor, padre Vicente Rizzi, e à frente dela o padre Dantas, desde 1918, pode finalmente entrega-la, por volta de 1923, como um dos mais belos templos do interior paulista, e assim permaneceria até meado de 1960 quando abaixo, contra a vontade popular, para dar lugar à atual edificação inaugurada em 1967.

4.12. Outros padres destacados (01/01/1918-10/09/1936)
Após Gasparino Dantas passaram pela paróquia, sucessivamente: padre João Marques da Silva Faia (1923); padre Adauto Rocha (1925); padre Acchilles E. Triksmans (1927); padre Afonso Tojal (1928); padre Gasparino Dantas (1933 - uma segunda vez); e padre José Montezuma (1934 até 1937).

4.13. Os freis dominicanos
Os primeiros dominicanos para Santa Cruz chegaram da Itália - Bologna, e assumiram a paróquia aos 21 de janeiro de 1937, tendo à frente frei Miguel Lanzini, efetivado vigário (21 de abril de 1937), auxiliado por frei Domingos Acerbi, e os cooperadores frei Irmão Dorvi e frei Guala Ferrari.
Os dominicanos, além dos ofícios religiosos de praxe, também foram recrutadores de vocacionados à vida sacerdotal, com a abertura da Escola Apostólica Dominicana.

4.13.1. Paroquiamento dominicano
Após o frei Miguel Lanzini, outros nomes ocuparam a responsabilidade paroquial: frei Ceslau Cencini (1941 e 1950); frei Reginaldo Orlandini (1948); frei Humberto Pereira (1957 e 1959); frei Bernardo Monti (1958); frei João Alves Basílio (1967); frei José Maria Lorenzetti (1969).
A partir de então, sem conflitos, o rol de padres pode ser encontrado junto às Casas Paroquiais onde disponíveis todas as informações complementares.
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