sábado, 20 de julho de 2013

1862 - A HISTÓRIA REFERENCIADA

1. Surgimento de Santa Cruz do Rio Pardo
O Almanach para a Província de São Paulo, 1887: 542-549, trouxe o primeiro histórico conhecido para Santa Cruz do Rio Pardo:
—"SANTA CRUZ DO RIO PARDO—Villa
Ha ja muitos annos, o velho e estimado sertanejo Manoel Francisco [Soares] habitante quase unico neste vastissimo e então inculto sertão, luctando sempre com a horda de indigenas ferozes que infestavam estas paragens e sempre victima, sem tranquilidade de espirito e privado, por isso mesmo, de trabalhar desembaraçadae convenientemente em sua lavoura, resolveu attrahir a attenção publica para este ponto do sertão, e captar immigrantes que o coadjuvassem na lucta cruenta, que a longos annos mantinha com os indios bravios.
Depois de reflectir e por muito tempo estudar qual o melhor plano a adoptar para attingir esse escopo, em boa e feliz hora Manoel Francisco, em occasião em que tinha a vista presa em uma cruz de madeira, que orgulhosamente se ostentava na beira do terreiro de sua habitação, como recordação dos soffrimentos do Salvador e Redemptor da humanidade, costume ainda hohe adoptado em nossos sertões, resolveu fundar uma povoação sob a invocação de Santa Cruz.
Em boa e feliz hora, concebeu elle essa inspiração e pô-la em execução.
Para iniciar a povoação, fez doação de boa porção dos terrenos que possuia do lado direito do ribeirão no Rio Pardo, para patrimonio, e nelle construio uma pequena capella, que cobrio com taquáras rachadas e sobre-postas umas ás outras, dando-lhe o nome Capella de Santa Cruz. E desde então ficou a Santa Cruz como sendo a padroeira da povoação.
No decurso de alguns annos, depois da construcção da Capella, conseguio o velho Manoel Francisco, acercar-se de destemidos sertanejos, os quaes accedendo aos seus instantes e reiterados convites para aqui immigraram, povoando o terreno do patrimonio e mesmo os de propriedade particular do doador, que os dava gratuitamente a todos que os quizessem para nelles trabalhar.
Nessa época o Padre João Domingues Figueira, de saudosissima lembrança, era vizinho de Manoel Francisco, e muito concorreu para execução do plano adoptado pelo sertanejo. Foi elle quem mandou fazer a primeira rouçada nos terrenos doados para o patrimonio, e, ainda sob suas vistas e conselhor foi levantada a Capellinha. O Padre João Domingues Figueira, foi ainda o primeiro sertanejo que fez um rancho de páos a pique, coberto como a Capella, com taquáras sobre-postas, nos terrenos do patrimonio, mudando para alli sua habitação. Esse rancho digno de nota pela sua originalidade e esquisita construcção, existio até o anno de 1878, sem soffrer em todo o seu conjucto [conjunto] reforma alguma. Nesse anno, qual velho decrepto, o pequeno rancho escorado de todos os lados para não cahir, servio ainda de habitação ao seu proprietario, já então vigario da igreja e da vara e um dos mais ricos e bastados fazendeiros do Municipio.
Erigida a Capellinha e nela colocada uma grande Cruz e a imagem de S. Sebastião, soberba imagem doada pelo mesmo fundador, ahi Manoel Francisco, sua numerosa familia, e todos os já então habitantes deste sertão e dos terrenos do patrimonio, se reuniam, e, em fervorosas orações, acompanhavam o virtuoso em sua supplica ao Creador e Redemptor da humanidade.
As cousas assim continuaram, todos em perfeita harmonia, collaborando reciprocamente nos melhoramentos e augmentos da sua povoação.
Em 1872, tanto já havia prosperado a povoação e tão grande era o numero de pessoas que habitavam esta zona e que trabalhavam por vêl-a prospera e desenvolvida, o cidadão Joaquim Manoel de Andrade, respeitavel e respeitado por todos pelas suas bellissimas qualidades e por ser o fazendeiro mais abastado d'entre todos os criadores e agricultores, conseguio que a povoação fosse elevada á categoria de freguezia, sob a denominação de Santa Cruz do Rio Pardo, por estar o povoado na margem direita deste rio. Nesse mesmo anno foram nomeadas as respectivas autoridades policiaes: Subdelegado de policia, Francisco de Paula Martins; Supplentes do mesmo, Luiz Antonio Rodrigues, Manoel Garcia de Oliveira, Fortunado Rodrigues da Costa.
A parochia foi confiada á deligente e criteriosa direção daquelle virtuosissimo sacerdote, Padre João Domingues Figueira, que nella se conservou como vigario da igreja e vara até o seu fallecimento, em 1878, substituindo-o nesse mesmo anno, o Padre Antonio Manoel Bicudo, apenas por espaço de 15 dias.
Deixando a parochia o Padre Bicudo, que retirou-se para S. Paulo, foi nomeado para ella o Padre Prospero Antonio Iorio, Italiano e Brazileiro naturalisado.
Em Agosto de 1883, épocha em que tendo aqui reunido bom peculio deixou a igreja o Padre Prospero, retirando-se para a Italia, foi ella novamente provida com o actual vigario, Padre Bartholomeu Comenale, tambem italiano, um dos mais preciosos ornamentos do clero catholico.
Em 1872, conseguida a elevação da povoação á categoria de freguezia, nomeadas e impossadas as autoridades policiais e o vigario, o jubilo foi geral e todos possuindo-se do nobre e elevado intuito de concorrerem para o melhor desenvolvimento moral e material, notadamente o prestioso e já popularissimo cidadão Joaquim Manoel de Andrade, não pouparam esforços e sacrificios.
Já aquella pequenina Capella lhes parecia insufficiente e pouco decentepara ponto de reunião de fieis, reedificaram-n'a, adornando-a melhor e de maneira decente; então foi ella conerta com telhas, pois a primitiva conservava a sua exquisita cobertura de taquáras. Iniciou-se a construção de boas casas, em fórma de casas e não mais aquelles pequeninos ranchos de páo a pique, cobrindo-as com boas telhas, construindo o cidadão Andrade para sua moradia, uma casa grande e de aspecto elegante, uma das melhores entre as boas casas hoje existentes na povoação.
Os ranchos desde então foram esquecidos e, podemos affirmar, Santa Cruz do rio pardo nasceu em 1872, sendo desde então rapido o seu progresso e admiravel os melhoramentos que tem recebido.
Foi elevada a freguezia á catergoria de villa, em 1876, sendo nesse mesmo anno, elevado o Municipio á categoria de termo, com fôro civil e conselho de jurados.
A eleição dos vereadores para a Camara Municipal, effectuou-se no dia 15 de outubro, sob a immediata direcção e fiscalisação do deputado provincial Coronel Emygdio José da Piedade, o qual, transferindo para aqui, nesse anno, a sua residencia, adoptou como filha esta nascente e propsera povoaç~sao, imprimindo-lhe desde logo esses melhoramentos e fazendo della, dessa indigena, uma villa importante e já civilisada.
É Santa Cruz do Rio Pardo, actualmente, uma das melhores e mais importantes povoações sertanejas.
A Camara então eleita, compunha-se dos seguintes Vereadores:—Joaquim Manoel de Andrade, Luiz Antonio Rodrigues, Luiz Antonio Braga, João Bonifacio Figueira, Fermino Manoel Rodrigues, Manoel Candido da Silva, e Claudino José Marcos [Marques].
Secretario, João Americo Bressane; Procurador, José Garcia de O. [Oliveira] Netto; Fiscal, João Evangelista da Silva; Porteiro, Joaquim de A. Prado.
Juizes de Paz:—1º Joaquim Manoel de Andrade; 2º Luiz Antonio Rodrigues; 3º Domingos José de Andrade; 4º Manoel Candido da Silva. 
Nessa épocha, a ultima agencia postal era na villa de Lençóes, a 18 legoas de distancia, onde commerciantes e habitantes desta villa mandavam receber e levar as suas correspondencias; e mesmo em Lençóes o correio então sómente era recebido de 10 em 10 dias; e difficilimo eram os meios de communicação com as povoações vizinhas, devido a falta absoluta de estradas, que ligassem umas ás outras. Pois bem, os esforços da população reforçados pela solicitude, zelo e dedicação do Exm. Coronel Emygdio José da Piedade, desde então e ainda hoje deputado provincial, puzeram cobro a essa estado calamitoso.
Ainda, em 1876, foi nesta villa creada e installada uma agencia postal, e desde então boas estradas tem sido abertas, ligando as vizinhas povoações.
Para cargo de agente do correio foi nomeado o Exm. Coronel Emygdio José da Piedade, que acceitou, servindo ocargo gratuitamente, sem remuneração de especie alguma até o fim de 1879, épocha em que foi exonerado por seus adversarios politicos, então no Governo.
Em 1877, em Outubro, foi installado o termoi, com as seguintes autoridades e empregados:
[-] Juiz Municipal e de orphãos, 1º Coronel Emygdio José da Piedade, 2º Alferes Antonio Caetano de Oliveira, 3º Luiz Antonio Braga,
[-] Delegado de Policia, Joaquim Manoel de Andrade.
[-] Supplentes do mesmo: Luiz Antonio Rodrigues, 2º Manoel Garcia de Oliveira, 3º Fortunato Rodrigues da Costa.
[-] Escrivão do civil, crime e tabelião, José Manoel de Almeida.
[-] Escrivão de orphãos, Galdino Carlos da Silveira.
Providos em 1878.
[-] Official de justiça, Eduardo Bressane Leite.
Em 1878 foi creado e provido o logar de agente da collectoria das rendas geraes de Lençóes, sendo nomeado agente Eloy Rodrigues da Costa, que deixou pouco tempo depois o exercicio, sendo então nomeado para substituil-o Manoel Luiz de Souza, que no dia 1º de Junho de ste ano (1886) passou a exercer o cargo de escrivão da collectoria desta mesma villa, com o collector Joaquim Manoel de Andrade, épocha da installação da collectoria de renda geraes deste Municipio.
Em 1884 foi o termo elevado á categoria de comarca pela lei provincial n. 7 de 13 de Fevereiro, continuando entretanto o termo anexado á comarca de Lençóes por falta de verba orçamentaria e nomeação das respectivas autoridades.
Trata-se de construir uma nova igreja, que offereça aos fies [fieis]melhor commodidade e em fórma mais decenete que a actual matriz. Mas, para que o templo existente continue a servir até a realisação da construcção que se projecta, resolveu o digno vigario Padre Bartholomeu Comenale, consertal-a fazendo nella os reparos, forro e obras d'arte necessarios para sua util conservação, fazendo tambem um noovo frontespicio e augmentando em seu comprimento mais 4 metros.
Para a nova igreja, além do imposto municipal de capitação [captação] sobre os habitantes desta parochia, imposoto que por si só deixará uma soffrivel receita annual, ha auxilio dos fieis e da provincia, sendo por isso possivel a realisação do projectado edificio.
AGUA POTAVEL
Com auxilio dos cofres provinciais e da camara deste Municipio, cheia de coragem e de zelos pelo progresso e melhoramentos da povoação, conseguio encaminhar as aguas do Ribeirão S. Domingos, trazendo-as de distancia superior a 6 kilometros ao ponto mais elevado da povoação, podendo assim, como acontece já, serem ellas approveitadas por todos os habitantes da povoação.
Não basta, porém, o que já está feito, é mister que as aguas sejam convenientemente canalisadas, que se façam depositos e chafarizes, em logares apropriados.
Consta que a illustrada edelidade [edilidade] pretende dentro em pouco tempo concluir todos esses indispensaveis serviços, esperando sómente receber mais um pequeno auxilio da provincia para reforçar as suas diminutas rendas dadas á applicação desse melhoramento.
CADÊA E CASA DA CAMARA
Á expensa da provincia acha-se em via de conclusão o bello edificio destinado para cadêa, sala da camara, audiencia, jury, etc. etc., o qual ha mais de um anno que ha sido utilisado pela camara e outras autoridades, sendo-o também agora em Agosto, pelo douto Juiz de Direito da Comarca, com as sessões do jury. Com pequeno dispendio de um conto de réis si tanto, este edificio ficará perfeitamente acabado, pois bem poucas são as obras que elle necessita.
PONTE SOBRE O RIO PARDO
O Presidente da Provincia, sob requisição da Camara Municipal, ordenou a factura de uma ponte sobre o Rio Pardo, nesta villa, na rua do Andrade; estando para isso autorisado pela Assembléa Provincial no orçamento vigente. A realisação dessa obra se impõe urgentemente no espirito publico, como necessidade inadiavel e indispensavel para melhoramento da povoação.
Outras, e não menos importantes, além das obras publicas referidas, formam o ideal da nossa edealidade, taes como: —mercado, matadouro publico, edificios para escólas publicas, etc., mas todas vão sendo adiadas pelas dificuldades que tem a camara encontrado quando se trata de receber os auxilios prestados pela Assembléa Provinciais ás obras publicas do Municipio.
Não obstante, tal tem sido o zelo, boa vontade e actividade da camara, que talvez, dentro em pouco tempo, todas essas obras projectadas estejam convenientemente realizadas.
A installação desta camara e a approximação da ferro-via Sorocabana farão de Santa Cruz do Rio Pardo, como dissemos, se reevele, como actualmente é já uma das mais prosperas e adiantadas povoações do sertão.
ACTUALIDADE
Administração de justiça
— JUIZ DE DIREITO
Joaquim A. do Amaral Gurgel, Dr.
—Juiz Municipal
Marcolino Pinto Cabral, Dr.
—Supllentes
1º João Baptista Botelho.
2º Antonio de Souza.
3º Francisco Martins.
—Promotor Publico
Simeão Eugenio de O. Lima, Dr.
—Escrivão do jury
José Manoel de Almeida.
—Escrivão de orphãos
Manoel Pereira Tavares.
—Contador
José Sebastião de Almeida.

Policia
—DELEGADO
Luiz Antonio Rodrigues.
—Supplentes
1º Arlindo Crescencio da Piedade.
2º João B. de Oliveira Mello, Alf.
3º José Antonio de Andrade
—Subdelegado
Firmino Silverio de Andrade.
—Supplentes
1º Delfino Z. da Silva e Oliveira.
2º Francisco Candido da Silva.
3º Jonas Botelho de Souza.
—Escrivão da delegacia
José Manoel de Almeida.
—Escrivão da subdelegacia e de paz
Faustino Correa de Salles.
—Juizes de paz
1º Emygdio José da Piedade, Cel.
2º Luiz Antonio Rodrigues.
3º Firmino Manoel Rodrigues.
4º Raphael Silverio de Andrade.
—Audiencias
Todas as autoridades dão audiencias ás segunda-feiras, no paço da Camara Municipal, no proprio provincial que serve de cadêa.

Destacamento
—Commandante
João Caetano de Figueiredo.
-Existem 7 praças.

Camara Municipal
—VEREADORES
Arlindo Crescencio da Piedade, Maj.
Luiz antonio Rodrigues.
Firmino Silverio de Andrade.
Marcello Gonçalves de Oliveira.
Manoel Antonio de Andrade.
"        " [Manoel] Garcia Duarte
Bernardino Antonio Pereira de Lima.
—Secretario
Vicente Finamore.
—Procurador
Francisco Antonio da Silva.
—Fiscal
Luiz Antonio Goulart.
—Porteiro
Manoel Herculano Leite.
—Arruador
João Aureliano de Lima

Instrucção publica
—INSPECTOR LITTERARIO
Arlindo Crescencio Piedade, Maj.
—Professor
João Castanho de Almeida
—Professora
Clementina Etelvina de Almeida, D.
—Professora particular
Adriana de Oliveira, D.

Culto Publico
—VIGARIO
Bartholomeu Comenale.
—Sachristão
Luiz Rodrigues.
—Escrivão da vara
Vicente Finamore.

Collectoria
—COLLECTOR
Joaquim Manoel de Andrade
—Escrivão
Manoel Luiz de Souza.

Correio
—AGENTE
João Bonifacio Figueira.
—Horário
- Chega nos dias, 5, 11, 17, 23 e 29, ao meio dia.
- Parte nos dias, 4,10, 16, 22 e 28 ás 6 horas da manhã.

[Diversos]
—Agrimensor
João Aureliano de Lima.
—Capitalista
Joaquim Manoel de Andrade.
—Commerciantes
Arlindo Piedade.
Antonio Victorino de Castro.
Botelho & Irmão.
Candido Rufino Chaves.
Emygdio José da Piedade, Cel.
Firmino Manoel Rodrigues.
José Luiz de Andrade.
   "   Gomes de Oliveira.
João Bonifacio Figueira.
   "    Evangelista da Silva.
   "    Evangelista de Lima.
Luiz de Oliveira Martins.
   "   Antonio Rodrigues
Marcello Gonçalves de Oliveira.
Além dos outros que estão estabelecidos fóra da area urbana.

—Fogueteiros
José Pereira.
Luiz Antonio da Costa Goulart.

—Fazendeiros e lavradores
A excepção dos habitantes da povoação, todos os mais habitantes do Municipio occupam-se, uns em maior outros em menor escala, da factura de capinsaes para criação e engordo de gado vaccum, lanigero, e suino, e occupam-se tambem na cultura do milho e outros cereaes alimenticios.



—Medico
Samuel Gemeta [Genuta], Dr.

—Obras publicas
Igreja Matriz.

—Olarias
João Machado.
Salvador Gonçalves.
Manoel Garcia de Oliveira.
Raphael Silverio de Andrade.

—Serrarias
Joaquim Manoel de Andrade.
Francisco Garcia de Oliveira.
Bernardino Antonio P. [Pereira] de Lima.

—Selleiro
José Sebastião de Almeida.

—Serralheiro
Antonio Victoriano de Castro.

-(Fonte: Almanach para a Província de São Paulo, 1887: 542-549, exercício referência 1886, publicação1887, transcrição incluída em blog aos 25 de junho de 2020).

2. Os primeiros bairros
2.1. Alambari – o primeiro bairro rural entre as fazendas santa-cruzenses
No ano de 1852 são identificados moradores na região do Alambari: 'José Luiz Correa, Manoel Alves dos Reis, Manoel Duttra [Dutra] Pereira e Silvério Gomes dos Reis' (AESP, Lista de Votantes de 1852, para a Capela de São Domingos, Freguesia de Botucatu, no município de Itapetininga). 
O lugar, Alambary, apresentou-se, depois, como o 3º Quarteirão Eleitoral da Freguesia de São Domingos, em 1858/1859, identificados os votantes:
-Antonio José Correa, 42 anos, casado;
-Antonio Cardoso da Silva, 55 anos, casado;
-Antonio Moreira de Souza, 30 anos, casado;
-Joaquim Cardoso da Silva, 25 anos, casado;
-José Cardoso da Silva, 35 anos, casado;
-José Pedro Nunes, 35 anos, casado;
-Manoel Dutra [Duttra] Pereira, 56 anos, casado;
-Manoel Nunes de Moraes, 52 anos, casado;
-Miguel Roiz¨ de Moura, 42 anos, casado;
-Manoel Ferreira Nantes, 35 anos, casado;
-Francisco Nunes de Moraes, 58 anos, casado.
—(AESP/BTCT, Quarteirões da Freguesia de S. Domingos). 
O bairro do Alambari integrou-se ao território de Santa Cruz quando da elevação desta à condição de freguesia e dadas suas divisas pela Câmara Municipal de Lençóis Paulista, em sessão de 26 de outubro de 1872:
"Principiando-se no rio Alambary, no logar chamado dos Cardosos, procuram o espigão e por este abaixo até frontear o ribeirão de Santa Clara. E por este ribeirão acima até ultimas cabeceiras e d’aqui, o rumo, ao rio Pardo por entre as terras de Manoel Baptista e Antonio de Oliveira Marinho e por estas, a rumo, até o rio Paranapanema, divisando sempre com a Freguezia de S. Domingos e pelo lado opposto com o sertão."
O Governo da Província de São Paulo aprovou a decisão camarária lençoense por Ato de 09 de novembro de 1872, e o bairro Alambari permaneceu rural.

2.2. Santa Cruz – sede de fazenda e bairro rural no pontal Pardo/São Domingos
Manoel Francisco Soares assumiu as fazendas Jacutinga, a Crissiumal desmembrada daquela, e a Santa Cruz, documentalmente informada em 1857:
"André, filho legitimo de Antonio Rodrigues de Moraes e Ana Apparecida da Conceição, da freguezia de Campestre, da Provincia de Minas Gerais, que residem no bairro de Santa Cruz. Forão padrinhos Jose Manoel de Andrade e Dona Maria da Conceição." (Santa Cruz do Rio Pardo, Batismos, 1856/1884: 6).
O bairro informado correspondia à sede da fazenda Santa Cruz, lugar de morada para o proprietário, posseiros adjacentes, agregados e trabalhadores, livres ou não, que ali mutuamente se protegiam, com isto, o arraial contado como uma das povoações surgentes no futuro território santa-cruzense, destacado em 1858 ao ser classificado como o "7º Quarteirão de Eleitores do Rio Pardo, para a Freguesia de São Domingos, no município de Botucatu", relacionados os eleitores:
-Antonio Francisco Soares, casado, 38 anos;
-Francisco Pires de Sousa, casado, 40 anos;
-Francisco Soares, casado, 24 anos;
-Fellipe de Moura Rocha, casado, 40 anos;
-Faustino Machado de Oliveira, casado, 50 anos;
-José Francisco Chaves, casado, 50 anos;
-José Francisco Soares, casado, 31 anos;
-Joaquim José Soares, casado, 32 anos;
-José Domingues Chaves, casado, 30 anos;
-Justino Soares, casado, 30 anos;
-Joaquim Pereira da Silva, casado, 32 anos;
-José Geraldo, casado, 50 anos;
-José Custodio de Sousa, casado, 30 anos;
-Ignacio Pinto Gomes, casado, 24 anos;
-Joaquim Machado, casado, 24 anos;
-José Francisco de Oliveira, casado, 24 anos;
-Manoel Francisco Soares, casado, 64 anos;
-Antonio Machado, casado, 60 anos.
—(AESP/BT, 1859, Freguesia de S. Domingos – Rio Pardo, 7º Quarteirão). 
—Discutível se o José Francisco Soares, anotado no rol de eleitores de 1859 para Santa Cruz do Rio Pardo, seria ou não parente do Manoel Francisco Soares, porém a ausência de dados impede assertiva ou negativa a respeito. 
Para o Quarteirão Eleitoral Rio Pardo deu-se a dimensão, grosso modo definida, conforme observação em 1862:
—As divisas combinadas com os moradores, e as mais apropriadas devem ser: Principiando na foz do rio Pardo com o Paranapanema, subindo este até frontiar em linha reta com o ribeiro Santa Clara, descendo este a entrar no Turvo, descendo este athe onde principiou a divisa." (ACMSP, texto extraído de uma das cartas do Padre Figueira, referente ao ano de 1862, Documentos Diversos para Santa Cruz do Rio Pardo). 
Por regra legal os eleitores eram, ou deveriam ser, ao menos um ano residentes onde inscritos, mas não se tratava de lugar específico e sim região, dentro de determinada freguesia.
Cada eleitor representava família própria constituída, embora nem todos os moradores preenchessem as exigências para a qualificação eleitoral, e, então, a região do Rio Pardo poderia abrigar, em 1859, outras famílias que não tinham votantes, ou por não atingirem a renda mínima anual exigida de 200$000, ou residir fora ou, ainda, sonegar informações.
São exemplos de fazendeiros, não citados eleitores no 7º Quarteirão: João Rodrigues de Oliveira, sócio de Manoel Francisco Soares na Fazenda Crissiumal; João Vieira Teixeira e Silva, da Fazenda Três Ilhas, por posse primária; Joaquim José Martins, Fazenda Ribeirão Grande/Salto da Boa Vista.
Alguns fazendeiros, eleitores ou não, nunca residiram no lugar, a exemplo do capitalista, arquiteto e entalhador, José da Costa Allemão Coimbra, documentalmente conhecido, mas o seu agregado Francisco Pires de Souza era inscrito votante.

3. Doações patrimoniais para formação de Santa Cruz do Rio Pardo
3.1. Patrimônio da Santa Cruz
Manoel Francisco Soares e sua mulher Ignacia Porcina de Senne, entre os anos de 1861/1862, doaram ao Patrimônio da Santa Cruz, cerca de cem alqueires de terras para oficialização do povoado, cujas medidas, a partir da barra do São Domingos e por ele acima até o valo feito, rumo ao rio Pardo, pelo qual abaixo ao início da demarcação (ACMSP, Relatório dos Bens Imóveis da Diocese de São Paulo de 1904: 55-56). 
O valo limitador da dimensão patrimonial se iniciava defronte a junção das águas do São Domingos com as do Mandassaia, rumo à atual rua Conselheiro Saraiva, e, por esta abaixo e a sequente Padre Pio Giocondo de Lorgna, chegar ao Pardo.
Prova-se o valo na Conselheiro Saraiva, como limite urbano, a Lei Municipal de nº 193, de 17 de setembro de 1912, sobre a 'desapropriação de terrenos para utilidade pública', relacionada ao abastecimento de água aos moradores da sede do município, sito entre as atuais ruas Antonio Mardegan e Euclides da Cunha onde, posteriormente, o Almoxarifado Municipal, agora prédio ocupado pela empresa Qualitá - VW [2020].
Documentos resgatados junto a Cúria Diocesana de Ourinhos testificam a posse e administração da Igreja, desde 1861/1862, sobre as terras doadas por Soares ao Patrimônio da Santa Cruz (Juízo Municipal, SCR.Pardo, Processo de 28/07/1890). 
José dos Santos Coutinho, aos 12 de dezembro de 1891, idade de 75 anos, no referido processo reconheceu a doação dos terrenos por seu sogro, Manoel Francisco Soares "para que a Igreja tivesse seu patrimonio e amparo de Nossa Senhora protegesse a elle doador e sua familia contra o asalto dos indios que infestavam nessa época este sertão". 
O pioneiro Joaquim Pereira da Silva, idade 62 anos, ao testemunhar no mesmo expediente, aos 12 de dezembro de 1891, declarou: "Que essa doação foi uma promessa para livral-os dos selvagens habitantes destas mattas e elle testemunha, conjuntamente com outras pessoas, foi quem erigio o Cruzeiro no largo atualmente da matriz".
O reverendo padre João Domingos Figueira, comprovado morador do lugar entre os anos 1861 a 1878, assegurou em cartas referentes ao ano de 1862 a doação dos cem alqueires de terras para o Patrimônio da Santa Cruz (ACMSP, Documentos Diversos para SCR. Pardo).

3.2. Patrimônio do Santo Antonio 
O casal José dos Santos Coutinho e Rita de Sene, genro e filha de Manoel Francisco Soares e Ignácia Porcina de Sene, aos 09 de março de 1868 doaram vinte alqueires de terras ao Patrimônio do Santo Antonio, parte onde o atual Bairro São José, conforme escritura lavrada em São Domingos (Livro de Notas, nº 3, fls. 59-v a 60-v, 1º traslado pelo Tabelião de Santa Bárbara do Rio Pardo, aos 04 de dezembro de 1891).
O terreno pertencera antes a João Paulo Garcia, extraído da primitiva posse de Faustino Machado de Oliveira. Mapa referente ao patrimônio, datado de 14/04/1900, assinado pelo engenheiro Lars Swenson, revela dimensão do terreno em 24,2 alqueires (Prefeitura, Cadastro).
Documentos de 1893 revelam posse imediata da Igreja sobre os bens, já em 1868, formando povoado (Cúria Diocesana de Ourinhos, Documentos para SCR. Pardo), anexado ao da Santa Cruz, para um só núcleo residencial. 

4. Formação da Capela Santa Cruz do Rio Pardo 
Citada crônica de 1887 informa que o pioneiro Manoel Francisco Soares residia na sede da sua fazenda, onde "uma cruz de madeira, que orgulhosamente se ostentava na beira do terreiro de sua habitação" (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 541), e outras moradias havia, daí o nome Bairro Santa Cruz, posteriormente elevado a Capela, com o designativo Santa Cruz acrescido do Rio Pardo.
Soares mandara, ainda, construir pequeno espaço religioso, coberto "(...) com taquáras rachadas e sobre-postas umas ás outras (...). E desde então ficou a Santa Cruz como sendo a padroeira da povoação." (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 542).
A mesma crônica aponta a presença do Padre João Domingos Figueira, fazendeiro residente no Bairro Santa Cruz, vizinho de Manoel Francisco Soares (Almanach para Provincia de S. Paulo, 1887: 542), o doador das terras para o Patrimônio da Santa Cruz, entre 1861/1862, nas quais o padre pôs-se a trabalhar para a formação urbana, com o rossio, a fixação do cruzeiro e a ereção de templo religioso, permitindo a elevação do bairro à condição de Capela, denominada Santa Cruz do Rio Pardo, jurisdicionada à Freguesia de São Domingos, no município de Botucatu. 
Ausente qualquer expediente anterior de oficialização, aos 23 de novembro de 1862 o povoado teve sua primeira identificação civil conhecida, como Santa Cruz do Rio Pardo, num ofício expedido pela Câmara Municipal de Botucatu à Presidência da Província de São Paulo:
—"Ha neste Municipio sette Igreijas, a Matriz desta Villa, a de Lençois, a de São Domingos, da Piedade do Rio do Peixe, a de Santa Crus do Rio Pardo, da Santa dos Remedios no Tiete, e a do Rio Novo, as treis primeiras pouco tem sido auxiliada pelo Governo, e as ultimas mais pequenas porem decentes e feitas a custa dos fieis, pelo que V.Exa. colligera que neste Município o povo he religiozo o que sertamente satisfara ao Governo de V.Exa. para assim ajudal-los." (AESP/BTCT, Documentos: Ofícios Diversos).
Aos 25 de novembro de 1862, também a Igreja reconheceria o lugar como Capela Santa Cruz, no registro de batismo de Maria, filha de Miguel ou Miziel com a liberta Rozalia:
"(...). Na Capela filial de Santa Crus Baptizei pus santos oleo na inosente Maria de idade de tres mes filga legitima de Mizial [e] Rozalia, Escravo do Padre João Domingos Figueira, forão padrinhos Jose Peres das Chagas e Maria Inosencia da Conceição (...) – Padre Andrea Barra." (Eclesial, 1859/1879).
Padre Figueira, referindo-se a Santa Cruz do Rio Pardo dos anos de 1862, descreveu-a:
"(...) nova povoação cujo povo bem dedicado ao servisso de Deos e da Igreja com minha estada de dois annos fes se uma Capella môr, forrada, assoalhada, com Prezbiterio, altar, trono, sacrário, e retabulo. O patrimonio doado é de 100 alqueires já conta com 18 a 20 fogões no arraial. A afluencia do povo é imensa." (ACMSP, Documentos Diversos para Santa Cruz do Rio Pardo).
O edifício sacro construído pelo Padre Figueira, ou às suas ordens, situou-se onde parte dos fundos da atual matriz de São Sebastião, vista como significativa construção para o ano de 1862, com as medidas de 40 por 60 palmos, equivalendo a 8,80 metros de frente por 13,20 de fundos, com reparos e adaptações dez anos depois para servir de Matriz, a partir de 1873 (Cúria Diocesana de Ourinhos, Documentos para SCRPardo, Processo de elevação para Freguesia, 28/12/1872). 

5. Dos fundadores
Indiscutivelmente Manoel Francisco Soares foi o doador, em 1861/1862, de cem alqueires de terras, mais ou menos, para o patrimônio da Santa Cruz, e, de imediato nelas se pôs a trabalhar o reverendo padre João Domingos Figueira, para o reconhecimento da localidade como Capela. Nisto, ambos reconhecidos pela história, como os fundadores de Santa Cruz do Rio Pardo em 1862.
—Os autores disponibilizam capítulo à parte, pequena biografia documentada até onde possível, dos fundadores de Santa Cruz do Rio Pardo: https://satoprado-ebook.blogspot.com/2013/07/dos-fundadores.html

6. As primeiras vias da integração 
Qualquer povoação somente é dada conhecer quando se sabe quais os caminhos que a interligam com seus patrimônios e os lugares civilizados.

6.1. Pelo espigão
Uma estrada, a partir do limite extremo do patrimônio com a já desmembrada fazenda Santa Cruz, também conhecida por São Domingos - nome que se perpetuou, permitia ligações da povoação com os bairros adjacentes e fazendas, além de outros centros habitados, desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Esta via conduzia até as proximidades do despejo do Alambari no Turvo, onde o encontro com a velha e conhecida estrada Botucatu/Paranapanema e sertão, sendo à direita rumo a Espírito Santo do Turvo, São João do Turvo, São Domingos, Lençóis onde possível atravessar o Tietê, e Botucatu, de onde seguir trajeto até Sorocaba, São Paulo e São Vicente/Santos; enquanto à esquerda, além do Turvo, abaixo da barra do Alambari, caminho conduzia para São Pedro do Turvo, Salto Grande, Campos Novos e adiante.

6.2. Ingressos e saídas pelo Pardo
No princípio santa-cruzense, pela obviedade, canoas e pequenas balsas serviram como meio de travessia do Pardo, para acessos aos caminhos das fazendas, povoados e centros comerciais, a partir de um potreiro onde viria se tornar conhecida a Fazenda Água dos Pires.
No entanto, a senda que melhor serviu a primitiva Santa Cruz, ultrapassava o Pardo por uma ponte nas proximidades do 'Salto Bonito' - local hoje conhecido por 'Usina Velha', onde a fazenda do padre João Domingos Figueira. Esta estrada, já conhecida desde 1861/1862, ainda era importante em 1897, lembrada para se colocar nova ponte no lugar denominado 'Fazenda do Padre', "na estrada que da villa de Santa Cruz do Rio Pardo se dirige para o Jacarezinho no estado do Paraná" (Correio Paulistano, 30/05/1897:1).
Depois se fez uma primeira ponte sobre o Pardo urbano, na atual rua Farmacêutico Alziro de Souza Santos - antes Visconde de Pelotas ou rua 9 [Nove] identificação mais antiga. Outra ponte sobre o Pardo foi pensada em 1886/1887 (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 545), na então Rua 7 [Sete] ou do Andrade - atual Saldanha Marinho, somente providenciada, como obra pública, em 1900, pela Lei 0743, de 10 e publicada aos 18 de novembro.
Referida lei desapropriava, para utilidade pública, a ponte particular de Manoel Pereira de acesso à sua serraria, do outro lado rio, sendo as obras de reformas pelo governo conclusas em 1901.
Se no século XIX não construída qualquer ponte oficial pela Rua do Andrade [atual Saldanha Marinho], pelo menos a antiga reformada em 1899: "na Rua Visconde de Pelotas - que sobe em direção á cadêa velha, tendo espaço para tres cavaleiros juntos" (Correio Paulistano, 21/04/1899: 2); mesmo local onde a atual ponte, apenas a rua agora com o nome Farmacêutico Alziro de Souza Santos.

6.3. Do outro lado do Ribeirão São Domingos
Os moradores iniciais de Santa Cruz atingiam as propriedades, para adiante do 'Ribeirão São Domingos', ultrapassando-o pelo leito, a pé ou por uma pinguela, nas proximidades do ainda hoje chafariz, onde também as passagens sobre montarias e veículos por tração animal.
Do outro lado do ribeirão estradas rudimentares seguiam o desenvolvimento das fazendas ao sul riopardense, ou em direção a São Pedro do Turvo, por uma trilheira que, aos poucos, substituía o caminho acessado através do baixio no Turvo nas proximidades da barra do Alambari.
Com o aumento populacional e exigências comerciais, construiu-se a ponte sobre o Ribeirão São Domingos, pela Rua Conselheiro Dantas, por volta de 1880/1890, adiante da qual a estrada para atendimentos às fazendas, bairros rurais, além de melhor comunicação com a povoação de São Pedro do Turvo e adiante, unindo Santa Cruz às vias de integração sertaneja desde Campos Novos.

7. Conquistas consolidadas
7.1. O papel da Igreja
Santa Cruz, bairro ou sede de fazenda, teve início jurisdicionado à freguesia de São Domingos, no município de Botucatu, a partir de 18 de fevereiro de 1856, com a posse do padre Andrea Barra.
Os documentos são escassos até 1862. Uns poucos assentos eclesiais atestam pequena movimentação no lugar. Também, alguns expedientes camarários de Botucatu, por citações ou referências.
Antes de 1856 os serviços religiosos eram prestados pelos padres visitadores que corriam o sertão, em troca e benefícios para a ordem ou a sim mesmos, sendo alguns clérigos altamente negociantes.
Soares (Almanach para Provincia de S. Paulo, 1887: 542), foi o doador das terras para o patrimônio da Santa Cruz, entre 1861/1862, com a certeza do empenho do fazendeiro João Domingos Figueira, padre licenciado, que se esforçara abrir ruelas para, ao longo delas, levantar moradas aos interessados; fazer o rossio; erguer o cruzeiro; construir o templo religioso; além dos cuidados para se manter um cemitério decente, condições que permitiram ao lugarejo o reconhecimento como Capela.
Os residentes pagavam uma taxa à Igreja para manutenção do povoado, sem nenhum expediente a respeito, mas era assim que se procedia na época sobre os terrenos de um patrimônio eclesial destinado ao público.
Desde 1862, portanto, de maneira aparentemente singela a Igreja administrava o patrimônio da Santa Cruz, quando equivocadamente a Lei Provincial nº 71, de 20 de abril de 1872, elevou a Capela São Pedro [dos Campos Novos do Turvo] à categoria de freguesia, sob a invocação de Santa Cruz do Rio Pardo.
Aos 13 de janeiro de 1873, a Igreja, pela Carta de Provisão Eclesial confirmava o ato da Lei nº 71, de 20 de abril de 1872, e, doravante, de maneira organizada, exerceria o seu domínio sobre o patrimônio através da 'Fábrica'.
—'Fábrica' [eclesial], na época, era a designação ou escolha de um setor leigo da Igreja Matriz, com a responsabilidade em administrar os bens patrimoniais, obrigando-se ao controle e às cobranças de taxas e emolumentos do uso de bens, e gastando com as despesas diversas para manutenção e conservação patrimonial.
Este gerenciamento eclesial praticamente absoluto, vigorou de 1872/1873 a 1876, quando Santa Cruz guindada à condição de vila, consequentemente município, com emancipação político-administrativa em toda a territorialidade municipal, e aí o impasse entre interesses e responsabilidades da 'Igreja e do Município' sobre o distrito sede, no caso a urbe Santa Cruz do Rio Pardo com tudo aquilo que lhe foi doado.
Concordou-se. A Câmara, pelo 'Código de Posturas', receberia os impostos retribuídos por serviços públicos prestados, sem prejuízos das taxas cobradas pela Igreja sobre ocupações de terrenos considerados seus.
Com o advento republicano e logo o Brasil declarado estado laico, um entrave mais sério entre a Igreja e a Câmara, sobre quem, exatamente, a responsabilidade gerencial do município, com volumoso processo da Igreja ao Juizado, reivindicando seus direitos e apresentando documentações e testemunhos de seu recebimento de doações patrimoniais, e a posse imediata sobre eles.
Mas, a Igreja não tinha a escritura da doação de Manoel Francisco Soares, indo desde o seu desaparecimento num incêndio na Câmara Eclesiástica de São Paulo, em 1870 (Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva - SP, apud Ciaccia - CD: A/A), ao simplesmente não existir.
Destarte, a conciliação proposta, a Câmara administraria o município, e a Igreja receberia taxas dos moradores, a título de enfiteuse - permissão remunerada para o uso de imóveis, além do laudêmio cobrado, quando da transferência de posse de imóveis urbanos entre terceiros (Acervo: Escola Pública Leônidas do Amaral Vieira, Registro nº 22, de 04/02/1893, da Igreja Matriz Santa Cruz). Assim, segundo o vigário, mantinham-se todos os bens sob domínio eclesial, administrado pela 'Fábrica' (Juízo Municipal, SCR. Pardo, Processo de 28/07/1890).
A combinação não durou tanto, e, de vez a solução em 1903, com a decisão camarária de desapropriar de todos os terrenos da Igreja, advindo contraproposta da mesma em repassar os ditos terrenos à municipalidade, no entanto, reservando alguns deles para si. Acordo fechado.

7.2. Capelania vacante
O padre Andrea Barra, vigário em São Domingos, deixou a titularidade da vara e o capelanato de Santa Cruz, aos 13 de setembro de 1870 (Oliveira Zanoni, 1976: 61), após quatorze anos de serviço religioso, numa situação bastante incomum: ele foi atingido por um tiro de arma de fogo disparado por João, alcunhado Italiano, acontecimento que a malícia sertaneja transformou em caso passional. O criminoso foi preso e o processo lançado em "Crimes Notáveis da Província de São Paulo." (RG U 1117, 1870/1870: 5).
—Já aos 24 de maio de 1870 João havia atentado contra a vida do padre, com uma faca (RG BN 1012, 1870/1871: 120), todavia, com a chegada de populares evadiu-se para retornar, meses depois, e consumar o ato.
Com o acontecido ao padre Barra, em setembro de 1870, São Domingos ficou sem vigário até março de 1872, e, assim, desprovidas suas 'capelas'.
No entanto, a 08 de janeiro de 1872, apresentou-se em 'Capela de Santa Cruz' o padre Antonio Zielinski (Livro Eclesial), celebrando atos e sacramentos religiosos sob aparente autorização do Bispado de São Paulo, pelos registros oficializados, e, por certo, ciente a 'Vigararia Capitular de Botucatu'.
—O padre polonês Zielinski deixara sua terra natal quando do fracassado Levante de Janeiro de 1861, dos polônios contra o regime tzarista russo, refugiando-se no México junto às tropas do austríaco arquiduque Ferdynando Maximiliano Habsburgo - 'Imperador do México', fugindo Zielinski para o Texas - EUA, em seguida à queda do aventureiro Maximiliano. Perseguido em território norte-americano, o padre usufruiu da simpatia de D. Pedro II para abrigar-se no Brasil, em Santa Catarina, no ano de 1867. No hiato de sua biografia conhecida, chegou a Santa Cruz do Rio Pardo, ao sentir-se ameaçado no sul brasileiro por agentes estrangeiros, após sofrer atentado. Tornou-se conhecido como 'o padre que fugia'.
Zielinski permaneceria em Santa Cruz até 07 de abril de 1872, mesmo com a presença do padre Francisco José Serôdio, português, que assumiu a titularidade da vigararia de São Domingos, como vigário forâneo, aos 15 de março de 1872.
O crescimento populacional sertanejo, assim como sua extensão territorial, exigia presença de padres capelães para sub-regiões de São Domingos, sendo nomeado o padre João Domingos Figueira coadjutor para Santa Cruz do Rio Pardo, a partir de 31 de maio de 1872 (Oliveira Zanoni, 1976: 61).

7.3. A vigararia santa-cruzense e o padre Figueira nomeado vigário
Nos tempos do 'Brasil Império', o Estado e a Igreja ajustavam-se juridicamente, o que equivale dizer, uma lei civil somente teria validade se ratificada pela Igreja, assim como todo e qualquer ato jurígeno eclesiástico dependeria, por sua vez, da confirmação do estado, como complementações harmoniosas, raramente com arbítrio do Imperador.
De 13 de janeiro de 1873, a Carta de Provisão Eclesiástica elevando Santa Cruz a Vigararia, confirmava a Lei nº 71 de 20 de abril de 1872 que instituía a Capela como Freguesia, vigorando desde então as mesmas divisas que lhe foram dadas pelo poder civil.
Antes do reconhecimento eclesiástico, Santa Cruz tinha templo religioso decente e paramentado, levantado pelo padre João Domingos Figueira desde 1862, medindo 40 por 60 palmos, equivalendo a 8,80 metros de frente por 13,20 de fundos, evidentemente a necessitar de reparos e adaptações para servir de matriz (Processo para elevação de Freguesia Canônica, 28/12/1872), o que foi providenciado.
A história revela a construção do templo numa pequena parte da atual 'Praça Dr. Pedro César Sampaio', denominada 'Praça Anchieta', a partir do imaginário sequente atual da Travessa Manoel Herculano, pelos fundos da Igreja, entre a Avenida Tiradentes e a Rua Benjamin Constant, com frente para a rua Farmacêutico Alziro de Souza Santos.
A confirmação do ato designativo de vigairaria trouxe, consequentemente, a nomeação do padre Figueira, cofundador de Santa Cruz, como o primeiro vigário local (ALESP, CO 73.1.1).
O reconhecimento religioso para Santa Cruz refletiu-se nas melhorias político-administrativas, com sua integração ao rol de paróquias existentes na Província de São Paulo (RG D 1015, 1874/1874: 50), como apresentação e reconhecimento de Governo às destinações de recursos para despesas com a manutenção da matriz, além dos pagamentos pelos serviços civis prestados pelo vigário, como os alistamentos, censos, escriturações e expedições de documentos diversos com fé pública.
Em 1876 a Igreja em Santa Cruz do Rio Pardo recebia do Governo de São Paulo 40$000 - verba ordinária para sua fábrica (RG AN 1018, 1876/1877: S 2-19). Pelo mesmo relatório, em ''S 3-22'', a concessão estendia-se para os exercícios 1877/1878 e sequentes. Enquanto a Igreja manteve-se religião oficial, Santa Cruz auferiu recursos públicos para manutenções da Matriz.
A elevação eclesial de Santa Cruz retirou de São Domingos sua importância junto às Capelas do Sertão [médio] Paranapanema, daí sua decadência selada em 1877, com a criação da Comarca Eclesiástica de Santa Cruz do Rio Pardo.
Com a elevação de Santa Cruz à condição de vigararia fez-se, então, novas demarcações, e São Pedro do Turvo subordinou-se à nova paróquia, não conseguindo emancipação, conforme pleiteada em documentos de Governo, ainda no ano de 1890 (IBGE - Coleção Digital 1890, Synopse do Recenseamento de 31 de dezembro de 1890, página 140 e outras).
Também Piraju, em cujo termo inclusa a povoação de Ilha Grande [Ipaussu], subordinou-se à sede eclesial santa-cruzense; e, igualmente lhe pertenceram as "Parochias do Espirito Santo, São Domingos, Capellas do Oleo, Lageado e Ilha Grande ..." (Correio do Sertão, 21/02/1903: 1).

8. Os vigários pós Figueira
Ao vigário Figueira substituiu o padre Antonio Manoel Bicudo, ainda em 1878, "apenas por espaço de 15 dias" (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 542), no entanto, nenhum expediente oficial, conhecido, atesta sua presença na localidade.
Oliveira Zanoni (1976: 61) mencionou como substituto de Figueira, o padre Pedro Gaggino de Montaldo, período de 27/11/1878 a 06/07/1879, mas os autores não localizaram, até 2020, qualquer informe que possa confirma-lo vigário em Santa Cruz.
—Radicado em Piraju por mais de duas décadas, a contar de 1872, nenhum impedimento havia para o padre Montaldo oficiar atos religiosos em Santa Cruz, eventualmente, entre os anos 1878/1879, assim como o fez, interinamente, o padre Décio Chefato, de São Pedro do Turvo (Eclesial, Assentos para Santa Cruz do Rio Pardo).

8.1. Padre Próspero Antonio Iorio
Com ou sem as presenças oficiais dos padres Bicudo e Montaldo, no lugar do padre Figueira apresentou-se vigário em Santa Cruz do Rio Pardo, o padre italiano, naturalizado brasileiro, Próspero Antonio Iorio, aos 08 de outubro de 1879, permanecendo à frente dos trabalhos até os 12 de dezembro de 1882 (Oliveira Zanoni, 1976: 61), apesar de sua preterição pelos políticos liberais dominantes em 1880.
Foi no ministério de Iorio que a política liberal pretendeu e impôs um novo templo religioso, desde o lamentável episódio ocorrido aos 29 de junho de 1880, véspera das eleições municipais:
—"(...) quando o povo se achava na igreja, ouvindo a missa conventual, nela entrou o coronel Francisco Dias Baptista, acompanhado de quarenta e cinco capangas todos armados, trazendo dois delles bandeiras vermelhas, marchando á dois de fundo, com as armas em punho e bandeiras desfraldadas; rodearam a egreja e desfilaram pelas ruas da villa, indo todos apear-se na casa do delegado de policia Nicolau Tolentino Rodrigues Barreiros, donde logo depois e do mesmo modo, dirigiram-se para a casa do primeiro."
Vitorioso nas eleições municipais o 'Partido Liberal', tão logo assumiu o poder, às expensas da Câmara Municipal fez levantar paredes de tijolos em torno da antiga matriz, construção por isso apelidada de 'barracão', obra sem nenhuma beleza arquitetônica e criticada pela população.
Em 1887 a Câmara solicitou do deputado coronel, Emygdio José da Piedade, esforços no sentido de reservar verba pública para o levantamento da cumeeira da Igreja, igualando-a à altura da primeira linha da torre em construção (Livro Ata, 12/01/1887).
O 'barracão' manteve em seu interior o velho templo construído de tábuas (Cúria Diocesana de Ourinhos, padre dr. Luiz Priulli, 19/05/ 1906).
Quanto ao padre Iorio, "tendo aqui reunido bom peculio, deixou a Igreja retirando-se para a Italia" (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 543).

8.2. Padre Bartholomeu Comenale
Após Iorio, outro italiano, brasileiro naturalizado, padre Bartholomeu Comenale assumiu o vicariato, entre 17/08/1883 a 09/01/1895, como vigário forâneo, e a ele coube apelar à Câmara Municipal para requerer junto ao Governo Provincial a instituição de imposto anual obrigatório a todos os munícipes, emancipados e alforriados, a favor do templo religioso, até que este estivesse pronto e paramentado.
O atendimento do Governo de São Paulo foi dado pela Resolução nº 008, de 14 de março de 1884, "Que cria, na Circunscrição da Vila de Santa Cruz do Rio Pardo, o imposto anual de dois mil réis por cada pessoa, nacional ou estrangeira, de 21 anos para mais, ou mesmo menor de idade quando a pessoa coletada viva sobre si."
Mencionado despacho ainda definia que, os designados responsáveis pelos recolhimentos do dito imposto e das demais providências, seriam obrigados a pagar pelos parentes, ou aqueles nomes omitidos propositadamente da lista oficial, além da incômoda multa de 20 [vinte] mil réis.
O imposto, a ser pago por recolhimento no mês de outubro de cada exercício, seria elevado para 5 [cinco] mil réis em caso de atraso até 15 de novembro, e a partir daí as sanções legais seriam pelo confisco ou penhora de bem, para leilão, compatível com o valor devido.
Em ofício de 12 de novembro de 1884, a Câmara Municipal comunicou à Presidência da Província de São Paulo a execução da Resolução 008, e, a seguir, propôs a nomeação de Comissão, com lista sugerida, para responder pelas obras da Igreja Matriz, consequentemente responsáveis pela entrada e saída de recursos originários do imposto legalmente recolhido.
Foram indicados membros da Comissão, o vereador Joaquim Manoel de Andrade, o vigário e vereador padre Bartholomeu Comenale e o então tenente-coronel Emygdio José Piedade, chefe da Guarda Nacional, cada qual "por sua dedicação aos negócios da igreja, por seu caráter ilibado e por todos os títulos que recomendão estão nas condições de bem desempenhar." (Câmara SCR. Pardo, Livro dos Ofícios Expedidos e Recebidos, exercício de 1884).
As decisões de governo foram ineficazes, o imposto não foi bem-vindo, o povo não aceitava o malfadado templo, preferindo sua demolição, e não se tem registros de penações aplicadas por inadimplência.
Afora o imposto, o Governo da Província beneficiava a Igreja em Santa Cruz com valores às côngruas ao pároco e coadjutores, além das adjudicações de conformidade com a Lei nº 92 de 17 de maio de 1883, artigo 1º § 4º (RG: BN 1028, 1883/1884: A-92).
Enfim padre Comenale, engajado na política como vereador nas legislaturas de 1893/1896, em certo tempo também ocupando a presidência da casa e intendência, estranhamente deu por concluso o templo da matriz, ampliada em quatro metros - projeto seu de 1886 (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 544), estando prédio ainda em obras.
Comenale, por motivos de transferência de paróquia não concluiu o mandato de vereador, renunciando em 1894/1895.
Padre Comenale foi possuidor de fazenda em Santa Cruz, assim vista em 1903 a "Mandassaia dos srs. padre Bartholomeu Comenale, tn. Manoel Pereira Tavares e outros (...)" (Correio do Sertão, 11/02/1903: 2).
Embora bastante criticado pelo sucessor, padre Comenale foi "um dos mais preciosos ornamentos do clero catholico" (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 542).

8.3. Monsenhor João Soares do Amaral
Após Comenale, o monsenhor João Soares do Amaral assumiu exercício a partir de 21 de abril de 1895.
O monsenhor, no pouco tempo em Santa Cruz, denunciou a precária situação da igreja:
—"(...) um barracão defficiente, mal construido, fora do alinhamento e esquadro e que não se deverá concluir, mas sim procurar levantar por nova planta d'um profissional." (Documentos Eclesiásticos para Santa Cruz do Rio Pardo, Livro do Tombo, 1895: 10, por frei João Basílio, apud Junqueira, 2006: 41).
O hebdomadário 'Correio do Sertão' (21/02/1903: 1) publicou as revelações do monsenhor Soares em quais condições encontrara a paróquia:
—"(...) em um estado verdadeiramente lastimavel, debaixo de todos os pontos de vistas. Sem Egreja Matriz, por isso que esta não passava de um barracão defficiente mal construido, fora do alinhamento e do esquadro ameaçado próxima queda. O patrimônio da Egreja em poder da Camara Municipal. A Egreja pauperrima de paramentos e alfaias, reinando a maior desordem e confusão no livro do Tombo e na Fabrica, estando esta com um grande deficit e com a escripturação toda por fazer-se."
Pelo mesmo semanário, o monsenhor Soares escreveu no Livro do Tombo a sua indignação quanto a religiosidade local: "Não encontrei uma devoção qualquer de modo que a religião deste povo, cifrava-se em baptisar seus filhos", o mesmo indiferentismo também observado nas Igrejas jurisdicionadas a Santa Cruz.
Mostrava-se padre abespinhado em relação a Santa Cruz do Rio Pardo; e conclamou para o lugar a presença de um padre jovem "que, com seus esforços, cooperados pelo influxo da graça, deverá chamar ao redil já muitas ovelhas que se dizem crentes ou protestantes."
E o periódico encerrava a matéria: "Eis dito por elle mesmo o estado em que encontrou a Egreja local. (...). Pois bem: Monsenhor João Soares, sem alarde e ostentação, sem dar a perceber a ninguem o estado miserando em que seu antecessor havia deixado a Egreja - ..."
O monsenhor Soares encerrou atividades no local aos 30 de novembro de 1895. 

8.4. Padre Paschoal Maria Giffoni
O padre Giffoni assumiu a paróquia em 19/01/1896, para enfrentar a apatia religiosa da população.
Não lhe foi demérito algum; nenhum outro padre, após Figueira, conseguira sensibilizar a população para a construção do templo matriz, e o reverendo Giffoni sentia-se no desconforto em reunir os fiéis na antiga edificação cercada pelos paredões, sem ver a conclusão da obra.
Giffoni deixou a paróquia no ano de 1900, para retornar quase quatro décadas depois, onde faleceu aos 29 de junho de 1937 (Prefeitura, Registro de Óbitos), quando a vigararia já sob o controle dos padres dominicanos desde 10 de setembro de 1936.

8.5. Cônego João Antonio da Costa Bueno
Após Giffoni chegou o cônego João Antonio da Costa Bueno, aos 02 de dezembro de 1900, o qual pretendeu outra igreja, uma verdadeira obra arquitetônica em lugar da infelicitada matriz. Tal construção daria fundos para a rua Benjamin Constant e frente para a travessa Manoel Herculano, a aproveitar parte da construção anterior.
Já entrado o século XX, a ideação de Bueno não prosperara além das escavações para alicerces, segundo reportagem do 'Correio do Sertão' (19/04/1902):
—"Era intenção do Revmo Cônego João Antonio da Costa Bueno, intenção que teve seu começo de execução, como diriam os criminalistas, edificar a igreja matriz nesta Praça, conforme se vê nas escavações para os alicerces da igreja, a qual ficara com a frente para a Travessa de Manoel Herculano, com o fundo para a rua que passa em frente das casas do Dr. Cleophano Pitaguary e Major Arlindo Piedade de modo a cortar o corpo da igreja velha, e fazer com esta um ângulo quase recto."
A Igreja já não tinha o poder de outrora, todavia organismo ainda forte.

8.6. Padre Francisco Botti
A matriz encontrava-se na situação lamentável, quando da chegada do padre Francisco Botti, sucessor do cônego Costa Bueno, a partir de 17/10/1901. Botti, favorável a uma nova igreja mostrou-se, prudentemente, atento às manifestações populares contrárias ao projeto de seu antecessor.
O semanário Correio do Sertão, na edição de 19/04/1902, acrescentava sua opinião ao coro de queixas e justificativas da população:
—"O local onde se acha a igreja velha em absoluto também não se presta para nelle ser edificado o templo projectado, não só porque para isso seria preciso arrasar o barracão que esta servindo de Igreja, como também porque ficando no meio da Praça Marechal Deodoro, inutilizará o largo, que já é tão pequeno." 
—Tratava-se da antes 'Praça Padre Anchieta'. 
O povo não queria qualquer aproveitamento da desditosa matriz, porém os lugares propostos, como o Largo da Liberdade, para as novas obras foram descartados: "O local que mais se presta, sob todos os pontos de vista, para a egreja é inquestionavelmente aquelle em que está o templo maçônico da loja União Paulista, na Praça Marechal Deodoro" (Correio do Sertão, 03/05/1902: 1).
A justificativa era aceitável: "(...) porque collocada ahi a egreja como que respeitamos a vontade dos primitivos fundadores desta cidade, os quaes escolheram a hoje Praça Marechal Deodoro para ahi ser levantado o primeiro templo que serviu de egreja matriz nesta cidade."
As ideias de padre Botti determinavam que a solução fosse mesmo construir a nova igreja lá onde a antiga e inconclusa matriz, todavia uma concepção ousada com ampliação da praça - para os limites atuais, com isto a necessidade de derrubar duas outras antigas construções, a sede da maçonaria e o assobradado prédio do antigo 'Quartel - Delegacia de Polícia e Cadeia' - próprio do Governo do Estado, além de alienar terrenos particulares para a efetivação dos planos:
—"Ao lado do templo maçonico existem duas datas de terrenos: uma pertencente ao Capitão João Baptista de Oliveira Mello e outra pertencente ao Estado, por isto que faz parte da cadêa, proprio estadual.
O Revmº Padre Botti deve, desde que a egreja seja edificada no local em questão, procurar adquirir os terrenos que ficam aos lados do templo maçonico o que mais tarde ficarão aos lados da egreja, para transformal-os em dous lindos jardins que virão tornar a nossa egreja poeticamente seductora sob os pontos de vista artistico e hygienico.
Quanto à data pertencente ao capitão Mello, estamos certos de que dificil serà ao revmº Padre Botti adquiril-a porque o capitão é uma alma nobre, bemfazeja, amante do progresso e do bem estar desta localidade. Si a fabrica não tem o dinheiro necessario para essa acquisição, estamos certos de que o povo não deixará de, por meio de uma subscripção, entrar com a quantia necessaria para a compra da referida data desde que a egreja tenha de ser edificada no ponto em questão.
Agora quanto ao terreno da cadêa velha, como faz parte do largo, facilimo será ao revmº Padre Botti transformal-o em jardim, porque estamos certos de que a isso não se opporá a nossa edilidade. O que é preciso, porém, é que o edificio da cadêa velha seja removida do largo, porque está enfeiando-o extraordinariamente. Tal edificio, que è todo de taboas, está em ruinas, inteiramente podre. O governo certamente não mandará consertal-o, não só porque não tem necessidade delle, como tambem porque será pôr dinheiro fóra. Si ao menos o edificio da cadêa velha se prestasse para ser adaptado para um grupo escolar ou para qualquer outro fim util, vá que o governo mande retocal-o; mas, não se prestando para cousa alguma, e sendo um grande caixão de taboas, feio, indecente, ninho de traças, de cupins e de carunchos, o melhor que o governo do Estado tem a fazer é cedel-o à municipalidade, para esta dar-lhe o destino que melhor lhe parecer.
(...)." - (Correio do Sertão, 17/05/1902: 1, Assumptos do dia - O local da egreja).
Com a aquisição do terreno e prédio da maçonaria, através de escritura de compra e venda, e mais a autorização de se usar próprios do estado e do particular - capitão João Baptista de Oliveira Mello, o padre Botti conseguiu seus intentos e os prédios foram demolidos, para dar lugar à nova matriz e praça estendida.
A cadeia velha foi derrubada e o terreno repassado à Igreja, para a construção da praça, sendo a municipalidade compensada com um lote correspondente na esquina das atuais Avenida Tiradentes com a Farmacêutico Alziro de Souza Santos, aonde em 1908 pretendeu-se construir a Câmara ou que o Governo Federal ali fizesse uma Agência do Correio (Livro Ata, Câmara, 14/01/1908), ideias que não prevaleceram.
O alicerce - abertura de valas teve início em 17 de junho e concluído aos 30 de agosto de 1902 (Correio do Sertão, 06/09/1902: 2). Uma foto tirada pelo major Vicente Finamore atesta a obra ainda antes da demolição do prédio da Maçonaria (Edwin Luiz Brondi de Carvalho - CD: A/A).
Padre Botti, coadjuvado pelo padre Affonso Aloia, fez abrir os alicerces do templo, em 1902, e iniciar as obras. Foi transferido, em 1903, para Cravinhos - SP deixando foto da matriz em obras (Livro Ata, Câmara, 01/05/1903), infelizmente desaparecida.

8.7. Padre dr. Luiz Priulli
O reverendo Luiz Priulli ocupou o lugar de Botti, conforme carta de sua lavra, de 19 de maio de 1906, e deu continuidade às obras do templo iniciado pelo padre Botti, e derrubou a parte interna da velha construção ou o que dela restava, "feita de taboas", transferindo os restos mortais do padre João Domingos Figueira, Joaquim Manoel de Andrade e sua mulher, da antiga para a nova matriz (Curia Diocesana de Ourinhos, Documentos para Santa Cruz do Rio Pardo).
O novo templo foi concluído e assim noticiado: "A Matriz nova, que acabamos de examinar, representa o esforço ingente d'esse Pastor verdadeiramente Ministro de Jesus Christo" (O Progresso, edição de 21/04/1906).
A seguir a inauguração do templo, em 1906, padre Priulli recebeu a esperada autorização eclesial "para a exhumação dos ossos de várias pessoas, da egreja velha para serem transladados para a matriz nova..." (Correio Paulistano, 01/06/1906: 4).
Apesar de dinâmico e elogiado, o padre Priulli tinha problemas que passavam despercebidos ou ignorados pela população, sendo ele viciado em jogos e gostador de prostitutas.
Não tardou ser descoberto na prática de irregularidades e denunciado pelo monsenhor Francisco de Paula Rodrigues - Governador do Arcebispado de São Paulo, numa época que Santa Cruz pertencia ao Bispado de São Carlos, pelo menos documentalmente.
Em carta sigilosa ao Núncio Apostólico o monsenhor elencou uma série de irregularidades de Priuli.
—"Foi acusado de ter se apropriado de uma quantia de dinheiro que os fieis de Santa Cruz do Rio Pardo tinham dado para um altar", diz o denunciante, acrescendo num ofício de 1914, anexado ao processo "Era ele, então, vigario dessa paroquia e, chamado por mim, confessou a falta." (Arquivo Secreto do Vaticano, Nunciatura Brasileira - Processo 157, Fascículo 787).
Luiz Priulli soube que estava sendo investigado e não negou as denúncias. E em sua defesa ao Vaticano, por escrito, tentou comover os juízes contando sua história 'de menino pobre', além de comprometer-se devolver à paróquia de Santa Cruz o dinheiro indevidamente apropriado.
Também pesaram contra Priulli outras acusações, como o fato de ofender o então papa Pio X, a quem se referia como "comedor de polenta", inclusive, "Não satisfeito, ele criou um prato de polenta e batizou-o de Pio X."
Priulli foi considerado insano e afastado de suas funções por algum tempo.

8.8. Padre Sismondo de [da] Cruz Dias
Ao Priulli substituiu o reverendo Sismondo, a partir de 25 de julho de 1908.
Praticamente sem notícias, Sismondo parece não ter ido além do exercício de suas funções religiosas em Santa Cruz.

8.9. Padre José Cacere
O reverendo José Cacere chegou à paróquia em 25 de março de 1909 e nela permaneceu até a chegada do padre Vicente Rizzi, em 02 de maio de 1910, sem qualquer destaque documentado, digno de nota.

8.10. Padre Vicente Rizzi
O padre Rizzi marcou época em Santa Cruz do Rio Pardo, desde sua chegada em maio de 1910, com o principal objetivo em promover ambiciosa reforma da Igreja Matriz.
O templo existente, apesar de recente, parecia não ser do agrado da população e nem da Câmara Municipal, inclusive com 'Projeto de Lei' em tramitação, pedindo "para remover da praça Marechal Deodoro um trambolho de construcção a que chamam igreja matriz" (Cidade de Santa Cruz, 07/09/1910: 1).
A obra não foi removida.
Doravante o padre Rizzi deu início à ampliação e total remodelação do prédio da Matriz dando-lhe características de grande beleza arquitetônica, assim vista em 1913:
—"O esforçado vigario dessa parochia, revmo. padre Vicente Rizzi, conseguio impor-se à gratidão de todos os santa-cruzenses, sem distincção de credo religioso ou de ideal político.
Provando o quanto vale o poder da vontade, nas causas nobres, o Revdmo. vigario Rizzi vê em grande adiantamento as obras da Matriz, que elle atacou, sem contar com um vintém em caixa, mas tão sòmente com a generosidade de nosso bom povo.
Os fossos em que repousam os alicerces da parte nova do edifício, foram abertos, sem o digno vigario saber de onde poderia receber o dinheiro, que elle de sua bolsa, adiantara.
Não foi, porém, perdida a boa vontade pelo serviço de sua Religião e o levita poude receber - d’aqui e d’acolá, - esportulas, menóres e grandes, com as quaes tem pago os empreiteiros.
Dentro de pouco tempo, será inaugurada, solemnemente, a nova Egreja, que será um dos mais importantes templos catholicos desta zona. A fachada da Matriz, que se acha quase concluída, não é uma dessas obras toscas em que o mourisco e o manuelino formam baralhadamente, um estylo confuso e grotesco, a fachada da Matriz apresenta um conjuncto architectonico, que não deixa de ter um tanto de byzantino, mas obedece, na linha geral, ao estylo gothico.
Os torreões lateraes não repousam no quadrilatero, mas n’um polygono irregular e são ornamentados por artísticas janelas.
Por sobre o espaço gazophylaceo, fica o coro.
A nave ampla do templo é ornada de columnas com capitéis, artisticamente trabalhadas.
A abside, onde se levanta o altar mor, depois de prompta, será uma verdadeira obra-prima.
E si vamos ter, em Santa Cruz do Rio Pardo, um templo que há de attestar aos posteros, a sinceridade da fè de nossos coetaneos e a generosidade do povo contemporaneo, a quem o devemos?
Exclusivamente á tenacidade edificante, nobre e altruistica, do revmo. vigario Rizzi, a quem não podemos regatear os mais enthusiasticos e applausos pelo zelo com que se empenha, em tudo o que concerne ao serviço do Templo, que lhe está entregue.
Urge, pois, que todos os habitantes de nosso opulento municipio pressurósos, venham trazer seus obulos ao digno vigario, certos de que, por pequena que seja a offerta, ella se torna grande, pois, como já dizia Seneca: Bis dat qui cito dat." - (O Sul Paulista, 30/04/1913).
Conforme o descrito vê-se fase preliminar detalhada do projeto já em andamento. A conclusão das obras, no entanto, demoraria anos. Em 1917 criou-se uma Comissão para a terminação do templo:
—"As obras constam da erecção da torre, já bem iniciada; reforma do que é de telha nacional para telhas francesas; forro de madeira; ladrilhos de mosaico e revestimento interno e externo, bem como o calçamento em derredor da egreja" (O Contemporâneo, 05/05/1917: 3).
Questão de referência histórica, ao reverendo Rizzi coube primazia em adquirir o primeiro automóvel a circular em Santa Cruz, um modelo Page, "que mandou vir para os serviços de alugueis" (Cidade de Santa Cruz, 26/10/1913: 1), esclarecendo que "O producto dos alugueis desse automovel sera revertido a beneficio das obras da matriz."
Rizzi deixou a paróquia em 1917, sem conclusão da obra, e a ele sucedeu o padre Gasparino Dantas.

8.11. Padre Gasparino Dantas
O padre Gasparino Dantas iniciou o exercício de suas funções em 01 de janeiro de 1918, até sua transferência para Tietê - SP em 1923 (Correio Paulistano, 03/03/1923: 7).
O ativo clérigo marcou presença em Santa Cruz do Rio Pardo destacando-se em diversas frentes de trabalhos comunitários e sociais, cujos reconhecimentos publicados inclusive pela grande imprensa paulista, sendo exemplo, em 1921, "pela nova matriz, cuja construção é dirigida pelo vigario revmo. padre Gasparino Dantas." (Correio Paulistano, 13/08/1921: 5).
A obra era a finalização da reforma proposta e iniciada pelo seu antecessor, padre Vicente Rizzi, e à frente dela o padre Dantas, desde 1918, pode finalmente entrega-la, por volta de 1923, como um dos mais belos templos do interior paulista, e assim permaneceria até meado de 1960 quando abaixo, contra a vontade popular, para dar lugar à atual edificação inaugurada em 1967.

8.12. Outros padres destacados (01/01/1918-10/09/1936)
Após Gasparino Dantas passaram pela paróquia, sucessivamente: padre João Marques da Silva Faia (1923); padre Adauto Rocha (1925); padre Acchilles E. Triksmans (1927); padre Afonso Tojal (1928); padre Gasparino Dantas (1933 - uma segunda vez); e padre José Montezuma (1934 até 1937).

8.13. Os padres dominicanos
Os primeiros dominicanos para Santa Cruz chegaram da Itália - Bologna, e assumiram a paróquia aos 21 de janeiro de 1937, tendo à frente frei Miguel Lanzini, efetivado vigário (21 de abril de 1937), auxiliado por frei Domingos Acerbi, e os cooperadores frei Irmão Dorvi e frei Guala Ferrari.
Os dominicanos, além dos ofícios religiosos de praxe, também foram recrutadores de vocacionados à vida sacerdotal, com a abertura da Escola Apostólica Dominicana.

8.13.1. Paroquiamento dominicano
Após o frei Miguel Lanzini, outros nomes ocuparam a responsabilidade paroquial: frei Ceslau Cencini (1941 e 1950); frei Reginaldo Orlandini (1948); frei Humberto Pereira (1957 e 1959); frei Bernardo Monti (1958); frei João Alves Basílio (1967); frei José Maria Lorenzetti (1969).
A partir de então, sem conflitos, o rol de padres pode ser encontrado junto às Casas Paroquiais onde disponíveis todas as informações complementares.
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