sábado, 20 de julho de 2013

—ENTIDADES COMUNITÁRIAS RELIGIOSAS E ASSISTENCIAIS

1. Irmandade N. S. do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos
Encontro religioso santa-cruzense no início do século XX
com os santos representativos, destacada a comunidade 
Nossa Senhora do Rosário e São Benedito
-Acervo Geraldo Vieira Martins Jr-
Santa Cruz teve a 'Irmandade' formada por negros - escravos e forros, com sede no Largo do Rosário - atual Praça Otaviano Botelho de Souza, local destinado para reuniões, festejos, e atenções aos desvalidos.
A Irmandade do Rosário, ou São Benedito dos Homens Pretos (Almanak (…), 1910: 207), teve presença em Santa Cruz desde as chegadas das primeiras famílias, por volta de 1856, e foi exemplo de auxílio mutuo aos necessitados, com propósitos não apenas de libertação da escravatura, mas de atenções aos inválidos, expostos e anciãos desamparados.
Assunto polêmico, todavia, não se pode ignorar a presença da 'Irmandade' em Santa Cruz, pois os escravos trazidos para a região procediam do sul-mineiro, onde historicamente ativas as congregações de forros e cativos, "como por exemplo, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário" (Padre Hiansen, 2003: 101), também conhecida como de 'São Benedito dos Homens Pretos'.
Os associados tinham liberdades de ações limitadas pelo clero, para reuniões de lazer ou com objetivos sociais de libertação pacífica, mediante compra – alforria, a troca por outro cativo ou a coarctação negociada, contudo nenhum registro sabido chegou aos dias atuais, e, evidentemente nada fácil juntar os retalhos para se reconstituir traços de uma cultura que a Igreja fez arrasar.
Com a 'Lei Áurea' a confraria abriu-se à comunidade branca, sem perder as características caritativas.

2. Irmandade Nossa Senhora do Carmo
Em 1900 o vigário padre Francisco Botti fundou a 'Irmandade de Nossa Senhora do Carmo', que levava alimentos aos pobres, detectava e fazia tratar os enfermos oferecendo-lhes consultas e medicamentos, além dos auxílios sociais, conforme exposições feitas pelo farmacêutico Antonio Sanches Pitaguary (Correio do Sertão, 14/03/1903: 2).

3. Sociedade São Vicente de Paulo 
Em 21 de fevereiro de 1915 foi fundada a Sociedade dos Vicentinos – São Vicente de Paula, em Santa Cruz, pelos senhores Frei Ceslau Ceucini, Athos Bueno Couto – o primeiro presidente, Aristides Moacir Nelli – tesoureiro e Pedro Cenise Margarido – secretário. 
Sobre a entidade o 'O Contemporaneo', edição de 08/05/1915: 1,  reportou:
—"A Confraria de S. Vicente de Paulo, fundada em boa hora, tem feito tudo quanto é possível em benefício dos infelizes que procuram se abrigar a sombra bemfazeja da sua caridade, mas não pode fazer tudo quanto é preciso porque lhe faltam recursos."
'Confraria dos Vicentinos' percorria os lares dos enfermos prestando-lhes auxílios e cuidados. Não tinha sede, mas seus membros reuniam-se na 'Casa Paroquial' e, num prédio anexo, administravam espécie de dispensário de saúde, conhecido em 1940 como 'Dispensário São Vicente de Paula', à rua Benjamin Constant, sem número, segundo a Prefeitura Municipal em seu Relatório de Governo, edição de janeiro de 1940. 
O dispensário era um estabelecimento sem adequação hospitalar, prestador de cuidados de saúde simples, mais voltado para os cuidados preventivos de natureza médico-social com a distribuição de remédios a pessoas pobres, assistindo-as, inclusive, com alimentos e roupas.
A atuação dos vicentinos foi de elevada importância à sociedade santacruzense, quando da gripe epidêmica denominada espanhola, como auxiliadora para a atuação da Cruz Vermelha - Brasileira, nos anos de 1918 e 1919, quando o Hospital Santa Casa ainda estava em construção.
A atuação dos 'Vicentinos' foi de elevada importância à sociedade santacruzense, em especial a população mais pobre, mas pouco se sabe dos seus procedimentos quando da confirmação dos primeiros casos da gripe epidêmica - denominada gripe espanhola na cidade.
Infelizmente os vicentinos não registraram nenhuma ata conhecida a respeito.

4. A Cruz Vermelha em Santa Cruz nos tempos da gripe espanhola
Na ocorrência da gripe epidêmica a Cruz Vermelha Brasileira instalou-se em Santa Cruz do Rio Pardo, período de outubro/1918 a abril/1919. 
Memórias perdidas no tempo, apenas alguns descendentes de famílias, que viveram a época, informam que a população temia contato com algum doente ou suspeito de gripe espanhola, ou até entre pessoas sadias, e não havia mais como tranquilizar a população diante da virulência da gripe, tornando-se exigido o isolamento dos gripados, mas não sabem informar onde teria sido o isolatório.
Levantamentos pelos autores apontam o isolamento nas dependências do Grupo Escolar, até a adaptação numa das alas da Santa Casa, em condições de uso (O Contemporaneo, 19/12/1918: 2).
Não encontrados, até o momento, registros oficiais de quantos casos de acometidos pela gripe, qual sua virulência e o número de óbitos, senão única referência pela Igreja Católica, às folhas 70 do Livro do Tombo, designando o mal de pandemia, no entanto minimizando informações "pois só fala em uma morte, para os cem casos de incidência." (Queiroz Filho, 1966: 199).
A informação não corresponde com demais dados obtidos, ainda que não oficiais, junto à imprensa da época, com as notícias de mortes: 'um integrante do Tiro de Guerra 451 - local, envolvido nas ações contra a epidemia; um preso conhecido por Camões; Cândido proprietário do Hotel Central; a mulher de Alfredo Mamede Filho - recém-casados; Paulo, filho do advogado Pedro Camarinha; Alexandre e as senhoritas Rosa e Maria membros da família Lorenzetti'. 
Outros óbitos não foram divulgados, como a de Maria Clara – casada com Paulo Berna, e as mortes na família Magnani, situações reveladas por familiares. 
Na região mais vítimas: 'Augusta Baptista de Souza – irmã do médico Dr. Baptista Gomes de Souza, em Bernardino de Campos; o fazendeiro e advogado em Irapé, Dr. Castor Nogueira Cobra; o jovem Antonio Cezar Primo, em São Pedro do Turvo, filho do Juiz de Paz, Capitão Fernando Cezar'.
Vários organismos da sociedade mantiveram atuações conjuntas no combate à influenza: a Igreja - pelo reverendo padre Gasparini Dantas; o Corpo Clínico Médico local - dr. José Carqueijo, dr. Pedro Cezar Sampaio e dr. Emygdio de Novaes; os médicos em Bernardino de Campos, dr. João Francisco de Oliveira e dr. Baptista Gomes de Souza; os atiradores do Tiro de Guerra 451 e o seu responsável; os professores da Rede Pública, Plínio Braga, Primitiva de Oliveira e outros; os farmacêuticos da cidade e região; o Escotismo e as Irmandades da Igreja Católica; todos sob as orientações da Cruz Vermelha Brasileira.
A Medicina da época não tinha conhecimento da doença e do curativo eficaz, o suficiente, para acautelar a sociedade. Nem as medidas profiláticas eram adequadas, embora se recomendasse evitar aglomerações e resfriamentos, tomando cuidados com o nariz e garganta, e repouso absoluto, sem visitas, para evitar contágios. 
As concentrações públicas foram proibidas, as aulas suspensas e vedadas visitas ao Cemitério e às casas de diversões. As Irmandades visitavam lares em busca de casos, os Atiradores do Tiro de Guerra desinfetavam os chegadores à cidade, especialmente pela via férrea, enquanto os escoteiros angariavam fundos para aquisições de medicamentos, além da autorização camarária autorizando o Executivo para os gastos com tratamentos das vítimas da gripe espanhola.
Em abril de 1919 a 'Cruz Vermelha em Santa Cruz do Rio Pardo', caracterizada como 'Associação Médica de Socorro no período 1918/1919', encerrou suas atividades no local e repassou à provedoria da Santa Casa o seu saldo de 653$800, oriundos de donativos arrecadados no município.
Os fatos mencionados em relação à Cruz Vermelha e a gripe espanhola, em Santa Cruz do Rio Pardo, podem ser comprovados em jornais santacruzenses da época, não existindo relatórios oficiais conhecidos.

5. Asilo [atual Lar] São Vicente de Paulo
'Sociedade de São Vicente de Paulo - SSVP', faz-se presente em Santa Cruz do Rio Pardo desde 21 de fevereiro de 1915, com a Conferência de São José e seguidas, atuando em três áreas: 
-Conselho Particular da SSVP criado em 24 de outubro de 1944;
-Lar São Vicente de Paulo, em exercício desde 1938, com antiga sede na atual praça Carlos Queiroz, onde funcionou até 1946, e então transferido para o endereço atual rua José Epiphânio Botelho - Praça São Sebastião, regulamentação de 10 de março de 1946;
-Lar Fermino Magnani.
Os objetivos e metas do 'Lar São Vicente de Paulo' consistiam na atenção integral aos idosos em regime de abrigo, visando a valoração da vida e dignidade humana, e o dinamismo ganhou notoriedade com as atuações de Nilda Pereira dos Santos Caricati à frente de uma equipe de profissionais, administrativos e auxiliares, além de pessoal de retaguarda, com atendimento médico clínico especializado e terapêutico ao abrigado e os cuidados complementares de saúde, com oferecimentos recreativos, ludoterápicos e atividades físicas/ocupacionais recomendadas por profissionais.
O Lar é voltado para a manutenção de vínculos afetivos entre o idoso interno e grupos familiares e de amigos, até com possibilidades de reintegrar o interno ao convívio familiar, e mais o atendimento aos idosos carentes portadores de doenças terminais, crônicas, e de patologias ortopédicas até a recuperação.
Até 2010 o Lar era a única entidade congênere no município e ainda atendendo localidades como São Pedro do Turvo, Ipaussu e Espírito Santo do Turvo, sustentado por doações, vendas de artesanatos e variedades de artigos recebidos, além de recursos de fontes governamentais – municipal, estadual e federal.

6. Educandário Nossa Senhora Aparecida
Instituição sob a responsabilidade das 'Irmãs Dominicanas - da Beata Imelda', e o primeiro trabalho foi o Educandário Nossa Senhora Aparecida, para atendimento de crianças do sexo feminino. Integrava o rol de entidades subvencionadas, como obra assistencial (DOU, 14/12/1952 – Seção I: 583). 
A inauguração da obra deu-se aos 25 de março de 1953, no prédio adquirido da União Espírita, construção semipronta, onde os espíritas pretendiam a criação de um lar para abrigo de crianças carentes. As Irmãs Dominicanas tiveram auxílios da população e do poder público para tornar-se realidade.
Através da Lei Municipal nº 70, de 03 de junho de 1960, a Municipalidade doou um terreno com área de 2.080 metros quadrados à Sociedade Bemaventurada Imelda, diviso, por um lado, com a mesma Sociedade; por outro lado com antigo beco sem nome - atual rua Padre Pio Giocondo Lorgna, tamanho de 14,50 metros; depois, ainda com a referida Sociedade, na distância de 92,000 metros e, pelos fundos, com terrenos municipais da 'Estação de Tratamento de Água – aonde atual SABESP', na distância de 30,00 metros.
A Instituição manteve convênio durante anos, a partir de 1976, com a antiga 'FEBEM - Fundação do Bem-Estar do Menor', para acolhimento de meninas com problemas sociais (Beata Imelda – Obras Sociais: Educandário Nossa Senhora Aparecida, 2008: 1). 
Em 1983 iniciou projeto de recuperação de crianças abandonadas, e em 1986 aplicou estilo de trabalho em regime de semi-internato, sem distinções de sexo. 
A Instituição anunciou encerramento das atividades em 2013.

7. Educandário Lar da Criança 
'Sociedade' denominada ou conhecida por 'União Espírita Santa Cruz' foi fundada em 19 de novembro 1950, sob a presidência de Jacyra [Jacira] Ferreira de [e] Sá, com personalidade jurídica adquirida em 18 de maio de 1951 (O Regional, 24/02/1961: 1). Jacyra doou terreno na Vila Saul, para a construção do Lar da Criança onde a atual Escola Zilda Monti (referência 2012). 
Outro terreno, no entanto, deu opção à Sociedade iniciar as obras de um moderno prédio à rua Pedro Manoel de Andrade para acolhimento de menores desamparados, todavia o prédio não concluído por desentendimento entre os membros da 'União Espírita', que acabou por desfazer-se do local, e a Igreja Católica adquiriu a construção em andamento e ali instalou, aos 25 de março de 1953, o 'Educandário das Irmãs Dominicanas (da Beata Imelda)'.
O sonho ressurgiu aos 17 de junho de 1960 com a reorganização da 'Sociedade Espírita' preparando-se para o recebimento de terreno doado pela Municipalidade, para fins de um 'Educandário - Lar da Criança', com área de 13.640 m², situada na vila Joaquim Paulino, rua Quintino Bocaiúva, conforme Lei Municipal nº 80, de 24 de agosto de 1960. 
O Educandário foi destinado exclusivamente para crianças do sexo masculino, e estavam entre os seus diretores: 'Uaraci Fortes da Silva - presidente; Luiz Marchesi - vice-presidente; Jorge Riston - secretário; Pedro de Almeida Silos (Pedro Caco) - 1º tesoureiro; e Jairo Muniz da Silva - 2º tesoureiro'.
Segundo o presidente Uaraci, entrevistado em 1961, esclareceu que a exclusividade ao sexo masculino se dava em razão que "para meninas já existe um estabelecimento similar", referindo-se ao Educandário Nossa Senhora Aparecida (O Regional, 24/02/1961:1).
O projeto para a construção foi ofertado pelo engenheiro José Carlos Nascimento Camarinha, e a obra iniciada de imediato, porém somente inaugurada aos 25 de outubro de 1970.
O Educandário teve ilustres nomes em sua formação e primeiros anos de atividades, e foi conhecido por Lar Espírita, em causa de sua direção composta por membros da seita, pela ministração de regras da doutrina [passes], mas não se fazia acepção de credo religioso.
Na gestão Onofre Rosa de Oliveira (1969-1972), a Câmara Municipal autorizou permuta de imóvel da Municipalidade - à rua Conselheiro Saraiva, onde outrora Posto de Puericultura e, atual Conservatório Musical Osvaldo Lacerda - referência 2018, com terreno da 'Sociedade Espírita [Educandário]' onde edificada a 'Escola Zilda Comegno Monti'. O município voltou importância em dinheiro para a o término das obras do Educandário.
Nos anos de 1980 adequou-se às normas ou exigências de governo para recebimento de subsídios públicos.

8. Lar Fermino Magnani
Após construção do novo prédio para abrigo de idosos, o senhor Fermino Magnani, membro da 'Sociedade Vicentina', teve a ideia de alguma realização em favor das mulheres, e daí surgiu o projeto de uma creche.
A sociedade santacruzense apoiou a iniciativa e a obra teve início em terrenos particulares doados por Onofre Rosa de Oliveira, Basílio Vidor, Cyro de Mello Camarinha, José Pinheiro Ribeiro, José Acácio dos Santos e Pedro Cesar Sampaio. 
'Lar das Crianças - denominado Fermino Magnani', foi fundado em 1960, com a finalidade em prestar assistência diurna às crianças cujos pais ou responsáveis trabalhassem.
O crescimento da Instituição obrigou aquisições de imóveis periféricos, esbarrando-se no antigo 'Clube Japonês - Kaikan' cuja associação somente poderia permutá-lo por outro imóvel, conforme cláusula, o que viria acontecer quando Lar Fermino Magnani, acordado com a direção do Kaikan, comprou um terreno na avenida Tiradentes e construiu um novo clube.
A instituição sempre esteve identificada com a professora Noêmia Alóe, sua mais atuante e destacada Presidente por um quarto de século.

9. Centro Social São José e a Casa do Menor
Frei Laurentino Pessuto, conhecido por 'Frei Chico', fundou o 'Centro Social São José', aos 04 de maio de 1985, inaugurado em 04 de março de 1987, com objetivos de atendimento às crianças carentes do município.
A seguir o frei fundou a 'Casa do Menor Adelina Alóe' para atendimento às crianças e adolescentes com lares desestruturados.
Em ambos os projetos e realizações, frei Chico contou com todo apoio da sociedade santacruzense e autoridades legalmente constituídas, tendo como destaques na iniciativa o casal Yutaka Sato e sua mulher Ângela Maria Claudino Sato.
'Casa do Menor' tornou-se referência em toda a região e importante apoio ao Conselho Tutelar e o Juizado de Santa Cruz do Rio Pardo, para a reintegração familiar de adolescentes e inserção social.
Mantém importante ação educacional auxiliando na formação estudantil dos menores, além de oferecer serviços de atenções à saúde e psicoterápico, e o apoio às famílias de crianças e adolescentes problemáticos. Atua legalmente nos processos de adoções.
As mortes do frei Chico e, depois Ângela, não fracassaram os projetos, e as entidades interligadas montaram uma chocolataria - 'Doceria Frei Chico', com vendas de panetones, chocotones e 'ovos de páscoa', com produção já em escala industrial (ano referência de 2012). 
Também trabalham - até por objetivos em laborterapia e de profissionalização - com produtos hortigranjeiros para consumo e os excedentes postos a vendas.
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