sábado, 20 de julho de 2013

ENTRETENIMENTOS MUSICAIS

1. Orquestras, bandas, corais e conjuntos
Conjunto da Saudade anos 1920 - Sta. Cruz do Rio Pardo
Acervo Geraldo Vieira Martins Junior
As bandas, formadas por instrumentos de sopro e percussão, marcaram presenças nos principais acontecimentos da vida santa-cruzense, desde os acompanhamentos de marchas cívicas, fúnebres, religiosas e desfiles solenes, às recepções de autoridades civis, militares, eclesiásticas, além das anunciações de visitantes ilustres e chegadas dos circos à cidade.
São desconhecidos os primeiros conjuntos musicais de Santa Cruz, as orquestras, as bandas e corais, porém certo que existiram desde o princípio da localidade. Os corais na Igreja e solenidades religiosas, as bandas nas praças públicas, as orquestras nos salões da sociedade, e os conjuntos nos acompanhamentos de bailes em geral.
Não se desprezam os cantores, as duplas, trios e quartetos acompanhados de instrumentos.
Algumas grupos ganharam destaques através dos tempos:


1.1. Banda Lira São José
Até o ano de 2013, a primeira banda que se tem notícias, para Santa Cruz, foi a 'Banda Lyra São José', de 1902, dirigida pelo proprietário maestro Tenente José Cypriano Nenê, chamado de 'Professor'.
A Lyra São José é vista a primeira vez na solenidade religiosa de 21 de março de 1902, tocando durante todo o percurso de uma procissão (Correio do Sertão, 24/03/1902: 1), e no ato de entronização da imagem de Nossa Senhora em próprios da Coletoria da cidade.
A banda tinha Estatuto de Formação, com regulamentos dos ensaios, obrigações, comportamentos e, sobretudo, das responsabilidades dos músicos, e das multas às infrações, por exemplo, no artigo 11º:
"Todo musico de banda, é obrigado, toda véspera de Domingo do mes, limpar o instrumento que toca e quando o professor da banda lhe ordene; o infractor será multado em 5$000, sendo ainda sujeito a limpar o mesmo, e na reincidencia será multado em 10$000" (Correio do Sertão, 03/05/1902: 2-3).
Também ao músico era proibido apresentar-se embriagado, tocar com o chapéu na cabeça, fumar no ambiente, fazer algazarras, abandonar o instrumento ainda que provisoriamente nalgum lugar - sem deixá-lo aos cuidados de algum colega, podendo, inclusive, ser demitido por incapacidade, não acatamento às ordens, procedimentos inadequados e desrespeitos outros que pudessem ser considerados graves.
Oferecendo os serviços aos interessados, públicos ou particulares, independente de cores políticas, em 1902 a banda fez acompanhamento do funeral de José Ferreira dos Santos, colono português, assassinado por José Antonio de Moraes Peixe, onde "compareceram mais de 200 pessoas de todas as classes sociaes, tocando marchas funebres durante o trajeto, a banda 'Lyra S. José'-" (06/09/1902: 1).

1.1.2. Banda Carlos Gomes
A 'Banda Carlos Gomes' tem sua primeira citação conhecida, em 1909, para o septenário de Nossa Senhora Carmo, período de 12/18 de julho, que na data do encerramento "(...) às 4 horas da madrugada, a excellente banda musical 'Carlos Gomes' regida, pelo Major Hylarino Nogueira, percorrerá as principais ruas da cidade, depois do ribombar de 21 tiros de salva." (Cidade de Santa Cruz, edição de 10/07/1909: 3).

1.1.3. Banda Santa Cecília
Presente em espetáculos cinematográficos no ano de 1916, a 'Banda Santa Cecília', identificada como Coral, era dirigida pelo professor José Cypriano Ferreira Nenê – da 'Banda Lyra São José', e teve apresentação anunciada para o dia 17 de janeiro de 1918, na praça, com destaque para a execução do 'Dobrado Tiro 451', autoria do maestro Theodorico Franco em homenagem à Instituição (O Contemporaneo, 10/01/1918: 2).
Nos anos de 1950, a Banda [Coral] Santa Cecília contava com as integrantes: Dagmar Marques, Leila Biel, Maria Liberina Romano, Mariquinha Libarde, Odila Renófio e Zeni Benassi, entre outras da época.

1.1.4. Banda União dos Artistas
Ainda em 1918 é citada a 'Banda União dos Artistas' (O Contemporâneo 27/04/1918: 3), sendo o artista por significação de operários especializados em determinados tipos de trabalhos. Foram os principais regentes da Banda União dos Artistas, a seu tempo, os maestros Theodorico Franco e José Amorim Ribeiro.
—O capitão e maestro Theodorico José Teixeira Franco, também diretor do 'União Sportiva' - time de futebol, para onde ia o time, sempre que possível, levava a banda para apresentações.
A Banda União dos Artistas tinha sede recreativa e era partícipe na política local, demonstrado em 1921 quando "adheriu ao Partido Municipal, demittindo o regente sictuacionista e acclamando o Capitão Theodorico Franco para o substituir" (A Ordem, 02/06/ 1921), sem informar quem teria sido o maestro anterior, porém o sucessor foi o célebre José Amorim Ribeiro, o maestro Zequinha, já observado a partir de agosto de 1921 (Cidade de Santa Cruz, 14/08/1921: 1).
A União dos Artistas, sob a regência do maestro Zequinha, recepcionou a chegada do time de futebol de Avaré, em 1923, para jogo amistoso com a equipe União Santacruzense (Correio Paulistano, 13/01/1923: 2) - clube presidido por Jandyra Trench.

1.1.5. Banda Municipal
A Banda Municipal foi criada em 1919, pelo português José Amorim Ribeiro, o 'maestro Zequinha', conhecida como 'Furiosa', já a partir do anos de 1920, quase sempre apresentando-se com vinte ou mais integrantes.
Ao maestro Zequinha sucedeu o Silvio de Paula – de saudosa memória, depois o professor Alcinio (...), morto em 1990, então substituído pelo maestro Iramis Trevisan, presente na banda desde 1949, tocando clarinete.
Sabe-se que em 1932 a Banda Municipal esteve desativada. "Uma cidade sem banda de música" (Santa Cruz Jornal, 29/05/1932: 1).
Mencionada no ano de 1943, a Banda integrava o rol de entidades beneficiárias de recursos públicos, de acordo com publicação da aprovação do Parecer nº 1.694/43, pelo Conselho Administrativo do Estado de São Paulo, referente ao Projeto [Municipal] de Resolução nº 1.582 de 1943 (DOSP, 17/10/1943).
A Banda tem o nome 'Corporação Musical Maestro Zequinha', em homenagem ao fundador e regente.
Tecnicamente abandonada em 2008, senão para apresentações eventuais em festas cívicas, e em 2009 efetivamente encerrada, com suspensão de repasses da Municipalidade.

1.1.6. Orquestra Wolf
Certamente anterior à data, mas 12 de outubro de 1927 noticiou-se a animação da 'Orchestra Wof' na festa de inauguração do Clube Grêmio Santa Cruz: "Seguiu-se animadíssimo baile onde viam-se as mais distinctas famílias desta cidade, prolongando-se as dansas até ao romper da aurora, tocando a orchestra Wolf variadas musicas de seu variado repertorio" (A Cidade, 16/10/1927: 1).

1.1.7. Conjunto Jazz Tabajara
Sem nenhum respaldo histórico que possa associar o nome Tabajara ao clube referenciado em 1915, sabe-se que em 1935 era ativo o Jazz Tabajara, com a formação: 'Gilberto – trombone; Pedro Charuto – pistom; Pedro lamoso – clarinete; Hélio Castanho de Almeida – violino; Noé Portezan – saxofone; Octacílio Longo – violão; Cláudio Magnani – pandeiro, Walter Biel – chocalho; e Dede – bateria (Debate, 07/07/2013: 8, por Pedro Lamoso, integrante do Conjunto)'.
Em 1944 ainda existia o 'Jazz Tabajara', dirigido pelo Maestro Mário Piedade (A Cidade, 29/10/1944: 2).

1.1.8. Corporação Musical Sete de Setembro Independente
A tradição santa-cruzense guardou com carinho as lembranças da banda 'Corporação Musical Sete de Setembro Independente', sabendo esta atuante nos anos de 1930, regida pelo Maestro Eugenio Vecturelli (O Trabalho, 22/03/1931: 2).
Publicação de 1932 informa ausências de bandas de música no município em 1932, mas em fase de reorganização a Banda Sete de Setembro, graças aos 'empenhos do Prefeito Abelardo Pinheiro Guimarães e Américo Roder' (Santa Cruz Jornal, 29/05/1932: 1).

1.1.9. Conjunto MN 7
Nos anos de 1950 destacou-se o maestro Mário Nelli, considerado o maior músico da história santa-cruzense, formando conjuntos musicais e apresentando-se em programas de rádios e clubes, até liderar, em 1959, o conjunto 'Mário Nelli e o Clube dos XX', e depois, em 1964, formando o célebre 'MN7 – Emi Eni Sete' (Debate, 05/12/2010, Caderno D).
O talento de Mário Nelli, levou-o à capital paulista, juntamente com outro músico santa-cruzense, Vasco de Britto, convidados pelo empresário do cantor Tony Angeli.
—Britto seguiu carreira como cantor, enquanto Mário, também professor na rede pública, optou deixar a música por incompatibilidade de horários entre as profissões, além da necessidade de retornar a Santa Cruz em causa da enfermidade da mãe.
Nelli regressaria, como músico local, pouco tempo depois.
Ainda em atividade regional, ano de referência 2012, o Maestro Mario Nelli é sempre grande atração, sendo o autor do hino oficial santa-cruzense e de diversas composições e jingles políticos.

1.1.10. Banda Light Brasil
Versátil banda santa-cruzense, sob a direção do casal José Carlos Sales – Bodon e Ana Maria Crivelli Sales, músicos e professores na matéria, especializada em casamentos, formaturas, shows, bailes e quaisquer outros tipos de apresentações musicais, com três cantoras, um tecladista cantor, um guitarrista cantor, um baixista, um baterista, um flautista transversal e um percursionista. Acompanham a banda três bailarinos – duas mulheres e um homem.
A Banda iniciou-se com o 'Duo Bodon e Crivelli Sales', depois um trio e posteriormente a 'Corporação' propriamente dita, e hoje, para atendimento às demandas, a 'Light Brasil' apresenta a Banda completa, quarteto, duo ou DJ. Tem repertório eclético e com ritmos dançantes variáveis.
Paralelo à Banda, o casal Sales formou, em março de 2001, o 'Duo Light Brasil' com o projeto pioneiro regional 'Musica no Hospital', mais voltado aos gêneros de seresta, choro, erudito e antigas canções da Musica Popular Brasileira.
O 'Duo Light Brasil' também apresenta-se em eventos particulares, especialmente em empresas de grande fluência pública.

1.1.11. Banda Landau 1969
Em meado de 2002 surgiu o quarteto intitulado 'Banda Landau 69', com os jovens 'João Rafael Nantes – baixo, Luciano Pimentel (Barry) – bateria, Tiago Cachoni – guitarra, Thiago Pitol – vocal'.
Com a saída de Pitol, em 2004, Cachoni assumiu o lugar.
O trio, aparentemente despretensioso no início, tornou-se sucesso regional, com participações em shows nos anos de 2010 e 2011.

1.1.12. Outras bandas, orquestras e conjuntos
Outras bandas e conjuntos musicais santa-cruzenses, cada qual a seu tempo, marcaram época e foram sucessos na cidade e região.
'Conjunto da Saudade' fazia sucesso nos anos de 1920, inicialmente com Francisco Rios, Guilherme Wolf e José V. Sobrinho entre outros integrantes. Nos anos de 1960, o 'Conjunto da Saudade' estava em atividade com os músicos Antonio Alves Farias, Arcílio Mardegan, Dante Saleme e Hélio Castanho de Almeida, apresentaram-se inclusive a Televisão - TV Excelsior, em 1968.
Nos anos de 1930 era atuante a 'Banda do Rios'.
O 'Conjunto Serenata', em 1968, tinha no Professor Messias de Brito como o seu intérprete nas músicas românticas, já saudosismos para a época.
Nos anos de 1970 as 'Fanfarras das Escolas Estaduais' em Santa Cruz do Rio Pardo encantavam a todos com suas apresentações oficiais, destacando-se aquela ou aquelas que estiveram sob o comando do Maestro Excedil Magnani Filho.
—Excedil, com morte acidental no final dos anos de 1990, foi grande musico e maestro, e seu nome foi dado à Fanfarra Municipal de Taquarituba.
Em 2010 o grande sucesso popular estava com o grupo 'Borogodó do Samba', liderado pelo músico Ubirani Gonçalves.
No clássico, a 'Camerata' formada e liderada pelo músico [professor e autor] José Magali Ferreira Junqueira.
Despertou grandes atenções a 'Associação Aprendizes de Sodrélia', a partir de 2010 – ano da fundação, voltada para educação, cultura e cidadania, através da música, sob responsabilidade de Maria Cecília Donsbach Camargo, no exercício de trabalho voluntário.
A 'Associação Aprendizes de Sodrélia' está voltada para os menores daquela localidade, e já e atração obrigatória em festividades cívicas e apresentações diversas.

2. Carnaval e os blocos carnavalescos
Os carnavais santa-cruzenses, sem tradições memoráveis, remetem aos tempos do 'entrudo', com foliões adolescentes às ruas, apresentando danças histórico-representativas de grandes eventos, com simulações de lutas, músicas satíricas, ano a ano com algumas variações introduzidas, a exemplos de vestimentas folclóricas de personagens do imaginário popular da época.
Então, vigiados ou prestigiados pelos pais e parentes, que ficavam nos passeios, os jovens saíam às ruas, fantasiados de almas ou assombrações, de esqueletos, de facínoras, de diabos, e todos se divertiam.
Os adultos somente ousavam mais nas folias promovidas pelos clubes restritos aos associados, com os rostos cobertos por máscaras, enquanto os mais velhos optavam pelos retiros espirituais promovidos pelas religiões.
Existia pensamento na época que carnaval era palavra oriunda de 'carni vast' com significado livre de 'festa da carne', ou seja, festejos profanos, amplitude da carne – a matéria sobrepondo-se ao espírito, ou expansão carnal – onde tudo era permitido, inclusive o pecado, a carnalidade como orgia advinda de festa pagã ou cultura do paganismo.
Publicação do começo do século anunciava-se certo Julio da Silva como organizador carnavalesco, diretor de algum clube, que meses antes do evento já convidava "a todas as pessoas que queiram fazer parte no carnaval do anno de 1903, próximo, a virem se entender com director abaixo assignado. Santa Cruz, 20-12-1902, Julio da Silva" (Correio do Sertão, 03/01/1903: 3).
A edição do 'Correio do Sertão – 28/02/1903: 1', trouxe pequena nota do carnaval daquele ano: "Passaria inteiramente despercebido o carnaval desta cidade si não fossem alguns mascarados bem desenxabidos que andaram fazendo graças pelas ruas".
Em 1916, um artigo publicado no hebdomadário 'O Contemporâneo', intitulado 'O Carnaval', discorre sobre a apatia santa-cruzense diante da festa do Mono:
—"Hoje, amanhã e depois, são os dias consagrados à festa mais popular do Brasil, a festa em que todos, sem distinção de crenças, de idades, de fortuna, de colocação social, se divertem doidamente, alacremente, numa promiscuidade descuidosa, esquecidos todos dos dias e horas de amargor que porventura tenham passado. Divertir-nos-hemos também em Santa Cruz? Parece-nos que muito pouco. A nossa população diverge por completo das de outras cidades. Não gosta de folguedos carnavalescos. Nem mesmo a creançada, que não tem preconceitos, nos alvoroça ou nos inferna os ouvidos o clássico Zépereira que precedem aos dias consagrados a Momo. A excepção de uma ou outra pequena lucta de lança-perfumes, animada pelo Lobo ou pelo Benedicto Carlos na anciã de venderem os seus stocks desse artigo: do carnaval dos Sérvulo, representado por uma ceia e um baile em projecto, em que diz elle: 'nós muito nos divertiremos', parece-nos que não teremos nenhum folguedo externo ou mesmo interno, nos salões familiares e que denuncie a festa de Momo".
O articulista convocava a cidade a sair do costumeiro torpor, especialmente os jovens, para os divertimentos carnavalescos. Conta de sua participação em carnavais de outras localidades, narra fatos recorrentes e, por fim, anuncia um acontecimento inesperado, aparentemente a ser realizado pelos membros da maçonaria local:
—"Já estavam escriptas estas linhas quando nos communicaram que o 'Club dos Pellas' ia dar a nota no carnaval, tinha resolvido à ultima hora e sairiam todos os socios phantasiados em alegre folgança. Com a nossa costumeira bisbolhetice, depois de muito indagar, conseguimos descobrir as phantasias de alguns dos socios e são elles:
O irmão 2º Orador envergará um vistosa sobre-casaca de cascas de amendoim torrado, calção a Luiz XV, confeccionado com bilhetes de loteria e uma fina cartola de casca de coco da Bahia.
O irmão Tiradentes, todo lampeiro, vestirá um dominó de cascas de cebollas, e um gorro a luxo, feito de paralelepípedos.
O irmão Vice-Presidente, com os seus 96 kilos, vestirá bombachas de sorvete de caju, blusa mexicana de penas de papagaio e cantará o meu boi morreu.
O irmão Clinico do Largo do Jardim, vestidinho de anjo, com uma phantasia a luxo, de folha de bananeira, corôa de louro cereja e asas de tico-tico, cantará o mineiro páu.
O irmão Secretario, sahirá vestidinho de mordomo de castello, com uma libré de palha de café e um chapéu ornado de sementes de laranja.
O irmão Magister deitará elegante casaca de todos de cigarro, calção de sellos de charuto e na cabeça trará uma cartolla do tamanho da matriz.
O irmão Clinico da Villa Nova, virá vestido de mulher: saias de marmelada e bluza de goiabada, com uma cabeleira de corda de bacalháu; com os outros irmãos cantará em côro o luzimento.
O futuro irmão de choupana, como ainda não está iniciado, irá vestido de leigo, com uma batina de pregos e chapéu de parafusos.
Fechará o prestito o irmão Presidente vestido de bébé, com uma camisinha de tela de arame, meias e sapatinhos de lã de cágado, touca de semente de abóbora e chupando uma mamadeira de vidro de oleo de rícino.
Enorme saparia acompanhará o bando.
Já não passará despercebido o carnaval em S. Cruz.
(a) Pierrot de Colombina". 
-(O Contemporaneo, 05/03/1916: 1-2).
Tratou-se de brincadeiras do articulista e identificações de maçons da época, sem qualquer efetiva notícia de participação da Loja, como tal, no Carnaval de 1916.
A partir dos anos de 1930 as festas carnavalescas mostravam foliões nos clubes, com nenhuma história significativa de desfiles de ruas.
O carnaval santa-cruzense de 1933, nos salões do Bar Paulista, do Tertuliano Vieira da Silva, encheu apenas o bar, com boa presença feminina, muita música ao som de orquestra, enquanto "Nas ruas silencio quase absoluto" – Santa Cruz Jornal, 05/03/1933: 1); e a fonte revelava que as folias carnavalescas ali "chegaram ao delírio, na noite de terça feira quando a despedida a Momo revestio-se de intenso brilho e de uma belleza sem par em festas dessa natureza".
Nos anos de 1940 noticiam-se concentrações defronte aos clubes, a exemplos do 'Soarema' e dos 'Vinte' com sedes próximas, misturando-se os participantes, e nos anos de 1950 famosas as marchinhas carnavalescas marcaram época, e a banda tocando no coreto do jardim com o público manifestando-se ao som das músicas.
Os casais ou moças e rapazes passeavam pelo jardim, aspergidos por águas de cheiro, confetes e talcos, ou mesmo o 'sangue do diabo' – uma combinação caseira de amoníaco com fenolftaleína, álcool e água, que por algum tempo – segundos – deixava a roupa manchada de vermelho na parte onde atingida, quando não algum ataque mais agressivo com 'pó de mico' – feito com apêndices que cobrem as superfícies de alguns vegetais, ou mesmo de pólen de flores, existindo também os minerais.
Os 'lança-perfumes', ou as drogas dos carnavais, eram restritos aos salões, mas a mocidade inventava misturas para cheiros em lenços umedecidos. Comumente o lança-perfume era combinação de éter, clorofórmio, cloreto de etila – gás, e essência de algum perfume; nas fabricações caseiras dispensava-se o uso do cloreto de etila, daí o uso dos panos umedecidos.
Nos clubes alguns homens fantasiavam-se de mulheres tipificando que no carnaval elas – as mulheres mandavam.
Em meado dos anos 1960, Eliseu [do] Nascimento e o grupo 'Amigos do Bairro São José' teriam ousado o primeiro carnaval de rua, naquele bairro e em carnavais seguintes avançando ruas do centro da cidade. Com o tempo e outras lideranças o grupo tornou-se Império do São José.
Não tardou e o Bairro da Estação fundou o seu grupo, caracterizado carnavalesco, por volta de 1967, com poucos instrumentos, porém contagiante. Estariam à frente do grupo, logo batizado de 'Califórnia', o 'eco Beguetto e o João Andreolli.
As disputas entre os grupos São José e a Estação eram divertidas, ainda que acirradas, quando os grupos desfilavam pelas Avenida Tiradentes, rua Conselheiro Dantas e rua Euclides da Cunha.
Já adiante de 1974, João Pitaca – o Pitaquinha, que aprendera 'Carnaval em São Paulo' juntamente com Américo Bruno Filho, destacou-se carnavalesco e fundou em Santa Cruz, juntamente com Ubirani Gonçalves, a 'Escola Unidos da Baixada', cantando os primeiros sambas-enredos culturais homenageando destaques do município – o café e o algodão, e os nomes ilustres ou famosos, como Tonico Lista, os irmãos Villas Boas, com letras João José 'Dedé' Corrêa, Umberto Magnani e outros, musicadas por Mário Nelli e o próprio Ubirani, além dos nomes esquecidos no tempo.
—Pitaquinha residira por anos em São Paulo aos fundos da casa da avó de Américo Bruno Filho, e ambos passaram alguns carnavais em Santa Cruz do Rio Pardo, destacando-se Pitaca como bom formador de grupos de foliões, repassando aprendizados adquiridos junto aos carnavalescos da Penha.
Por alguns anos, após 1978, o carnaval de rua ganhou desataques, com o 'Califórnia' agregando-se com o 'Unidos da Baixada', criando dissidência na Unidos que migraram para o São José e formaram a Escola Império São José.
As intrigas, as ausências de estrutura e auxílio público, encerraram as atividades carnavalescas de ruas, ficando os espetáculos mais para os clubes, sendo destacado o 'Carnaval no Ginásio Aniz Abras'.
Com a decadência do 'Clube dos Vinte' e, mais adiante, a não autorização para brincadeiras do gênero no Ginásio de Esportes, somente o Icaiçara Clube manteve inalterado programação carnavalesca, às vezes incrementada com decorações de artistas plásticos da cidade, destacando-se Plinio Rigon.
Desde o carnaval de 2000 as tradicionais escolas não mais desfilaram em Santa Cruz.
No carnaval de 2003 as escolas, 'Pequerrucho' e 'Objetivo', fizeram desfiles com os blocos dos pais, dos professores e dos alunos, procurando o resgate das marchinhas carnavalescas, mas o grande nome estava com a 'Unidos de São Benedito', com o seu carnaval cristão idealizado pelo padre Esdras Moraes Freire, quatro anos antes.
Sem verbas ou interesses do poder público e empresarial para desfiles das escolas de samba, em 2003 a Prefeitura Municipal por concursos de blocos carnavalescos - em média de dez integrantes e carros alegóricos opcionais, com julgamentos e distribuições prêmios quanto a originalidade, criatividade e harmonia, e isto foi um fracasso.
Em 2004 se pensou numa escola independente sob o nome 'Unidos por Santa Cruz'.
A despeito dos esforços de alguns, o carnaval não tem grande aceitação em Santa Cruz, mesmo as 'folias de ruas', além das apresentações no Icaiçara Clube.
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