domingo, 27 de outubro de 2024

ELEIÇÕES 'MAIS ACIRRADAS' PARA O EXECUTIVO SANTA-CRUZENSE

Algumas das memoráveis disputas eleitorais santa-cruzenses
Ao longo de 148 anos de história política, 1876 a 2024, Santa Cruz do Rio Pardo passou por diversos acontecimentos, de violências físicas às disputas de votos urna a urna.
Em 1876 disputa camarária tão violenta, que o governo da Provincia de São Paulo, liberal, enviou tropa policial para garantir votação tranquila. e os soldados que chegaram foram presos por ordem do delegado e só liberados após a disputa vencida pelos conservadores.
Nas eleições de 1880 os liberais percorreram as ruas da cidade disparando tiros, invadindo a Igreja e venceram as eleições.
No ano de 1901 ocorreu a disputa entre o dr. Francisco de Paula de Abreu Sodré e o cel. João Baptista Botelho, tão renhida com tocaias, agressões físicas e assassinatos, conhecida como 'bacanal política', ou, 'jagunços contra pica-paus', sagrando-se vencedor o grupo de Abreu Sodré. 
O coronel Antonio Evangelista da Silva, conhecido como cel. Tonico Lista, encabrestador de votos, em seu período de mando, iniciado em 1904 e findo em 1922, fez tremer os alicerces santa-cruzenses a cada disputa eleitoral, tudo admissível contra os adversários, até o assassinato, "C R I M E  É  P E R D E R  E L E I Ç Ã O" (Rios, 2004: 67, um slogan perrepista).
Nas eleições de 24 de fevereiro de 1927 até mortos votaram, denunciou e comprovou o advogado e político Ataliba Pereira Vianna:
"(...). Destemido, Vianna viria, ainda, denunciar fraudes nas eleições de 24 de fevereiro de 1927, por determinação de Vieira [tenente-coronel Leonidas do Amaral Vieira], exemplificando ocorrências na 2ª seção eleitoral de Santa Cruz do Rio Pardo, onde constou votos de ausentes, falecidos e duplicados, cujas assinaturas de presenças assinadas por Antonio Alóe, com consentimento dos mesários, além do desprezo de cédulas de votantes no concorrente a deputado federal, dr. José Adriano Marrey Junior" (SatoPrado, da publicação do Diario Nacional, 30/10/1927: 2-3). Deu condenação e cadeia para os envolvidos, não para o tenente-coronel mandador.
Nas eleições de 1927, o dr. Abelardo Pinheiro Guimarães, médico e, até então comedido político local, ao confrontar-se com adversários não hesitou:  "Em matéria de política, sou partidário do assassinato. Considero a elliminação do adversário um meio regular de triumpho." (A Cidade, SCRPardo, 06 de março de 1927: 1).
Em 1946 o líder político santa-cruzense, Leônidas Camarinha conquistou cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo (1947) e fez eleito o seu escolhido Lucio Casanova Neto, na primeira eleição direta para prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo.
Leonidas Camarinha, até 1958, pontificava absoluto no comando político santa-cruzense quando ocorreu a cisão dentro do seu próprio grupo, sendo os dissidentes liderados por Lucio Casanova Neto, acompanhado de nomes expressivos na política local como Onofre Rosa de Oliveira, Anizio Zacura e outros que se uniram à UDN - União Democrática Nacional, dos opositores Alziro de Souza Santos e José Osiris Piedade. Formavam-se os grupos 'vermelhos' de Leônidas Camarinha, e os 'azuis' de Lucio e UDN, um resgate das cores partidárias nas brigas políticas santa-cruzenses, ente liberais e conservadores, ainda no Império, e, depois, os 'azuis e vermelhos' locais dentro do mesmo PRP, Partido Republicano Paulista, situação e oposição.
As tradições apontam várias causas para o rompimento entre Leonidas Camarinha e Lucio Casanova Netto, efetivadas após as eleições de 1958, no entanto, a versão correta diz que o Camarinha, como deputado, cometera dois erros políticos em prejuízo a Santa Cruz do Rio Pardo, primeiro ao consentir e atuar favoravelmente para a redução territorial do município, em favor da localidade de Ourinhos, com a perda da Usina São Luiz e, em razão disto, a arrecadação; noutro desacerto, negou apoio político regional ao então candidato para governo paulista, Jânio da Silva Quadros, afinando-se com Dr. Adhemar de Barros, uma aposta que não deu certo.
Em 1959, Casanova e a UDN lançam Onofre Rosa de Oliveira, Oro ou Caboclinho, e José Osiris Piedade, o Biju, para prefeito e vice, respectivamente, batendo a chapa Américo Pitol e Cyro de Mello Camarinha apoiada por Leonidas Camarinha. A primeira derrota de Leonidas no município, com acusações de compras de votos pelos adversários.
Até aí disputas ferrenhas e violentas, adversários acusando uns aos outros.

As eleições de 1963
Nas eleições de 1963 para o mandato 1964/1967, Leonidas, contraditando companheiros e surpreendendo adversários, lançou o genro Carlos Queiroz para prefeito e o sobrinho José Carlos Camarinha, o Zecanaca, para a vice-prefeito, numa eleição que prometia ser disputadíssima contra José Osiris Piedade e Anizio Zacura, postulantes a prefeito e vice, pela ordem. 
As eleições para vice-prefeito eram disputadas à parte dos prefeitos. 
As apostas eram altas e quase todas a favor de Biju e Zacura. Eleições dia 13 de outubro, 'boca de urna' bastante organizada pelas duas partes, o eleitor abordado diversas vezes pelos postulantes à Câmara e Executivo até o local de votação. Numa contagem lenta, voto a voto no dia seguinte às eleições, ao final das apurações do dia, Biju abriu diferença de 350 votos contra Carlos na sede do município, enquanto o o Zecanaca perdia por 400 votos para Zacura. 
No dia 15 de outubro, Carlos diminuiu a diferença para 200 votos, e daí nos Distritos, venceu em Caporanga por 11 votos, perdeu em Clarínia por 15, ganhou esmagadoramente em Espírito Santo do Turvo, tendo a favor o líder local Idarilho Gonçalves do Nascimento que fez a diferença abrindo vantagem para Carlos, no geral, 21 votos, faltando apenas Sodrélia e suas três urnas, que selaram a vitória de Carlos Queiroz por 117 votos de diferença sobre o adversário. Carlos teve um total 6.303 votos (50,45%) contra 6.186 (49,5%) do adversário.
O vice Zecanaca com 6.415 (50,61%), bateu Zacura que obteve 6.369 (49,39%) numa diferença de por 46 votos. Curiosidade, 295 mais votos somados para vice que para prefeito.
Carlos fez um bom governo, mostrando-se hábil político e bom administrador, um 'tocador' de obras diversas, com bons investimentos na Saúde e Educação, para muitos o melhor prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo, até a chegada de Otacilio ao poder. Com a Revolução de 1964 Carlos teve mais um ano de governo, estendendo seu mandato até 1968.
O histórico sobre Carlos Queiroz: 
https://satoprado-ebook.blogspot.com/2013/08/os-caciques-da-vez.html

Eleições de 1968
A chapa dos 'vermelhos' estava prevista, José Carlos Camarinha e Sebastião Botelho, enquanto os adversários pensavam no professor, advogado e pecuarista Marcílio Pinheiro Guimarães, pessoa honrada, porém elitizada, sem carisma popular, que certamente seria batido por Zecanaca e Botelho. Onofre Rosa de Oliveira, consolidado 'Caboclinho', substituiu Guimarães e teve como vice o empresário Cícero Ribeiro..
O uso da máquina administrativa a favor de Camarinha e Botelho beirou as raias do absurdo, o prefeito usando os microfones da Radio Difusora prestando contas de seu governo, evidentemente eficiente, que precisava continuidade, daí as muitas inaugurações, passeatas e carreatas gigantescas pelas ruas da cidade e distritos, os trabalhos de 'boca-de-urna' não deixavam dúvidas quanto a vitória dos 'vermelhos', idem as apostas.   
Dia 15 de novembro, encerrada as votações, a certeza da derrota dos 'azuis', porém, no o dia seguinte, quando das contagens voto a voto mostrava certo equilíbrio entre os candidatos, e ao final da tarde, no fechamento dos resultados da sede do município, Onofre abria vantagem de 250 votos, e a decisão seria nos Distritos, com José Carlos vencendo em Espírito Santo, diminuindo a diferença para 118 votos, e, no encerramento em Sodrélia, Onofre também perdeu, no entanto manteve diferença de 56 votos a favor.
Final, Onofre Rosa de Oliveira, eleito com 6.526 (50,79%) contra 6.464 (49,21%) de José Carlos Camarinha.

Eleições de 1988
Onofre foi eleito prefeito pela terceira vez, em 1982 mandato 1983-1986, na onda PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro - chapa 3, com o vice dr. Clóvis Guimarães Teixeira Coelho, nem era o mais cotado e nem seria eleito não fosse a soma de outros dois candidatos a prefeito pelo mesmo PMDBJorge Araujo - chapa 1, Manoel Carlos Manezinho Pereira - chapa 2. Os derrotados, do PDS - ex ARENA, Décio Mendonça - chapa 1 e Joaquim Severino Martins chapa 2.
Dr. Clóvis também era o vice de Manoel Carlos Manezinho Pereira.
O mandato de Onofre foi prorrogado até 1988 e então vieram as eleições para o mandato de 1989 a 1992, o PMDB escolhendo, por indicação de Onofre, o dr. Clóvis para a prefeito e Eduardo Blumer para vice. Manezinho, com Benedito Mariani de vice, pela Frente Renovadora: PFL-PDT-PSC.
Disputa acirrada, apuração voto a voto, a vitória de Manezinho já festejada ganhando por 100 votos na sede do município, faltava apurar, no dia seguinte, os votos do Distrito de Espírito Santo do Turvo, que Manezinho considerava 'seu reduto', terra dos familiares de sua esposa, inclusive do sogro nome influente no lugar, no entanto, o que parecia improvável acontece, Clóvis 'virou' para cima de Manezinho e venceu as eleições, com o total de 6.884 (50,92%) votos contra 6.626 (49,08).
Joaquim Severino Martins teve 4.197 votos, para muitos a razão da derrota de Manezinho, para outros a esperteza de Onofre em instalar nova antena receptora de canais de televisão, mas, a grande razão foi Otacílio Parras Assis, médico santa-cruzense de grande aceitação em Espírito Santo do Turvo, onde trabalhava na Usina [sucroalcooleiro] Sobar; Otacílio, embora candidato a vereador atuava politicamente pela eleição de Clóvis e de candidatos locais para a Câmara Municipal.

Eleições 2024
Aos 06 de outubro de 2024 a esperada disputa pela prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo, entre Otacílio Parras Assis e Diego Henrique Singolani Costa, o 'criador' e a 'criatura'. Otacílio foi eleito com 12.456 votos, 50,25% dos votos válidos, enquanto Diego obteve 12.331 votos, ou seja, 49,75% dos votos apurados.
Venceu a experiência de Otacílio, sabedor que as eleições mais disputadas em Santa Cruz foram decididas nos Distritos, escolheu pessoalmente Milton de Lima, 'Mirtão de Caporanga', como seu vice e derrotou Diego, com os votos de Caporanga, suficientes para tirar a diferença e virar em cima do adversário. 
Já se pensa em Diego para as eleições de 2028 como o único capaz de derrotar o 'coronelismo santa-cruzense' encarnado em Otacílio; dizem os 'dieguistas' que haverá mais jovens votantes em 2028, e Diego será eleito e consagrado um dos grandes nomes da política local. Os 'otacilistas', no entanto, acreditam que Diego vá se desidratar politicamente ao longo de quatro anos, ou ser desidratado, e Otacílio será o único eleito prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo pela quarta vez.
 
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