domingo, 27 de outubro de 2024

— DOS FUNDADORES

Levantamentos e Notas Conclusivas
1. Manoel Francisco Soares

Os autores SatoPrado dedicam este capítulo, sobre o sertanejo Manoel      Francisco Soares, ao seu descendente, o saudoso amigo Francisco Soares Sobrinho, pelas tantas colaborações prestadas no resgate histórico do primeiro nome da história santa-cruzense-do-rio-pardo.


O pioneiro Manoel Francisco Soares declarou idade de 64 anos, em 1858, na qualificação eleitoral para o
'7º Quarteirão do Rio Pardo, Freguesia de São Domingos, Município de Botucatu' (AESP, 1859, Ofícios Diversos para Botucatu). Nascido por volta de 1795 teria, portanto, 57 anos em 1851 quando chegou ao sertão Turvo/Pardo santa-cruzense, à frente de um bando de bugreiros - matadores de indígenas, numa exterminação impiedosa das tribos existentes, assumindo as terras desocupadas para formações das 'primeiras fazendas na região'.
Documento oficial de 1878 informando Manoel Francisco Soares com idade de 83 anos ([D]AESP, Qualificação Eleitoral para Santa Cruz do Rio Pardo, 1878: 3 - gentileza de Geraldo Vieira Martins Junior), ratifica, implicitamente, seu nascimento ao redor de 1795, talvez em Aiuruoca-MG, filho de Athanazio Soares e Joanna Maria de Chaves, casados em Aiuruoca aos 15 de junho de 1771 (Livro de Matrimônios 1760/1779), ele filho de Francisco Soares de Aguiar e Antonia Rodrigues do Lago, ela filha natural de Izabel de Chaves, sendo a Izabel filha do "Faustino de Chaves [Leme] bastardo e da sua mulher Pascoa [Paschoa] de Flores preta forra".
O livro batismal de Aiuruoca, para os anos de 1794/1796, não consta no acervo eclesial atual - 2021 - disponibilizado para consultas (https://www.familysearch.org/pt/), o que impede saber se lá nasceu ou não o Manoel Francisco Soares, todavia, em registro de 12 de agosto de 1816, na mesma Aiuruoca, consta o óbito de Joanna Maria de Chaves, já viúva de Athanazio Soares de Aguiar, classificada, por informação, como septuagenária (Livro de Óbitos, 1808/1835), embora, mais corretamente, idade em torno de 60 anos.
Cumpre o registro do nascimento/batismo de outro Manoel, filho do casal Athanazio e Joanna, batizado em Aiuruoca aos 25 de setembro de 1779 (Livro 1760/1793), falecido ainda na primeira infância, de tal modo o mesmo nome dado a outro filho gerado anos depois - 1794/1795.
Manoel Francisco Soares aparece pela primeira vez, na sua história conhecida até o momento, aos 08 de fevereiro de 1818, no batizado do filho:
-Miguel, em Capela São João do Nepomuceno, Lavras -MG, ele e a mulher Ignacia Porcina de Senne "(...) agregados do Capitão Andre Martins de Andrade." (Livro 1805/1829).
Existe outro assento de batismo do mesmo Miguel (Livro 1805/1829), em Capela de São Bento do Campo Belo, onde uma das fazendas do citado capitão (Projeto Compartilhar: Inventário e Tutela de Andre Martins de Andrade, 1821).
O casal Senne/Soares teve, ainda, os demais filhos e filhas 'resgatados' documentalmente conforme, a seguir, os registros eclesiais:
-Maria, batizada em Capela de São Bento de Campo Alegre - Lavras, ao 1º de novembro de 1819, padrinhos o capitão João Teixeira Marinho e sua filha Maria Candida da Luz (Livro 1805/1829). Nada se sabe da presença de Maria no sertão, provavelmente falecida ainda criança.
-Ritta Porcina de Senne: batizada aos 15 de fevereiro de 1821, em Rio Verde (Livro Índice de Batismos, Campanha/Santo Antonio-MG, 1813/1824), sendo padrinhos Miguel Justino do Espírito Santo e Anna Ignacia de Lima, tidos avós pelo lado materno. Ritta casou-se com José dos Santos Coitinho, em Caconde-SP, aos 20/11/1843 (ABRASP - 
Records Preservation
, 1839/1863, Rolo 6) sendo este o casal doador de terrenos ao Patrimônio de Santo Antonio, em 1868, incorporado à formação de Santa Cruz do Rio Pardo.
-Antonio Francisco Soares: nascido por volta de 1823, casado com Anna Lauriana Vieira, aos 23 de fevereiro de 1846 (Silvianópolis-MG, Matrimônios: 1842/1873).
-Joaquim José Soares, nascido por volta do ano de 1826, casado com Maria Antonia da Luz, em data de 29 de julho de 1847 (Silvianópolis, 1842/1873). Segundo Leoni (1979: 5) o Joaquim mudou-se com sua numerosa família para a região de Conceição de Monte Alegre - atual Paraguaçu Paulista.
-Justino Soares: nascido por volta de 1828, casado com Antonia Maria dos Sanctos, aos 02 de dezembro de 1850 (Matrimônios, Araraquara-SP, 1842/1865).
-Pedro Francisco Soares: nascido aos 17 de novembro e batizado aos 02 de dezembro do ano de 1830, em Silvianópolis (Livro, 1800/1835). Não teve história conhecida no sertão, porém sabe-se do seu filho, Joaquim Tito Soares, nascido em 1871, eleitor em 1904 (Livro Eleitoral - Resumo dos eleitores das Seções Federais, Santa Cruz do Rio Pardo, 1904).
-Anna Porcina de Senne: nascida aos 22 de junho e batizada aos 22 de julho de 1832 (Silvianópolis, 1800/1835), casada com José Domingos ou Domingues de Chaves, em São Bento de Araraquara, em 04 de fevereiro de 1851 (Livro 1842/1865). Anna, já viúva, faleceu em Santa Cruz do Rio Pardo, aos 21 de outubro de 1896 (Óbitos, Livro 1883/1897).
-Francisco Soares, já citado, nascido aos 08 de dezembro de 1833, e batizado em 01 de janeiro de 1834 (Silvianópolis, Livro 1800/1835), casado com Hipolita Maria de Jesus vistos no batismo de José, a 04/09/1858, filho de Antonio Francisco Soares e Anna (Botucatu, Livro 1856/1859, referências registro 1537).
-Joaquina: nascida aos 30 de junho e batizada aos 14 de julho de 1835 (Silvianópolis, Livro: 1797/1837), conhecida no sertão pelos nascimentos das filhas, Anna, aos 08/01/1857 e batizada aos 09/03/1857 (Botucatu, Livro 1856/59), e Prudencianna, batizada em São Domingos, aos 20 de novembro de 1862, idade de 04 meses (Santa Cruz do Rio Pardo, Livro 1859/1879), ambas as crianças filhas de pai incógnito.
-Joaquina faleceu aos 24 de fevereiro de 1898, idade informada de 60 anos, em Espírito Santo do Itararé-PR, solteira vivendo em companhia de Antonio Leite Graciano, sendo citadas duas [outras] filhas, Jeni (?), idade 25 anos; e Maria da Conceição com 23 anos de idade (Cartório Registro Civil, Ribeirão Claro-PR, Óbitos 1898/1907).

1.1. Da viuvez de Manoel Francisco Soares e novo matrimônio
No casamento de José dos Santos Coitinho com Ritta Porcina de Senne, aos 20 de novembro de 1843, em Caconde - SP, ela é apresentada como "(...) filha legitima de Manoel Francisco Soares e Ignacia Porcª de Seny já falecida (...)." (ABRASP - Records Preservation, Caconde - SP, Matrimônio 1839/1863, Rolo 6),
Referido expediente eclesial corrige o assento matrimonial anterior (1839/1863, Rolo 6), dos mesmos nubentes, onde mencionado a Ritta "(...) filha legitima de Manoel Francisco Soares e de Ignacia Purcina de Seny (...)." , ou seja, não mencionado falecimento de Ignacia.
Manoel Francisco Soares, posteriormente visto em Brotas - SP, aos 14 março de 1852, no batismo de seu neto Joaquim, filho de Justino Soares e Antonia Maria da Conceição, figurando como padrinho ao lado da Joaquina dos Santos Coitinho [Coutinho]; também em Brotas no dia 15 dos mesmos mês e ano, no batismo de sua neta Marianna, filha de José Domingos Chaves [escrito Chagas] e Anna Porcina [escrito erroneamente Pursina] de Sene, como padrinho sendo a madrinha dona Ritta Maria Barboza (Livro de Batismos, Brotas, 1843/1864). 
Aos 04 de setembro de 1858, em São Domingos, no batizado de Francisco, filho de José Bernardo Ferreira e dona Fermina, Manoel Soares aparece como padrinho ao lado de sua mulher Ritta Maria Barboza (Botucatu, Livro de Batismos 1856/1859).
Em todos os demais documentos conhecidos Manoel Francisco aparece, então, como casado, exemplificando, no livro de eleitores do '7º Quarteirão - Rio Pardo, da Freguesia de São Domingos - Município de Botucatu' (AESP/BTCT, 1859), nos registros anexados em transações de terras (DOSP, 19/03/1898: 23.174), e, no rol de votantes da paróquia de Santa Cruz do Rio Pardo em 1878 (DAESP, 31/08/1878).

1.2. Outras informações sobre o pioneiro Soares
Após Caconde - SP, Manoel Francisco Soares tem citação em Araraquara - SP, aos 02 de dezembro de 1850 e 04 de fevereiro de 1851, nos casamentos dos filhos Justino Soares com Antonia Maria dos Sanctos [Chaves], e Anna Porcina Soares com José Domingos Chaves.
Antonia Maria e José Domingos eram irmãos, filhos de José Francisco Chaves e Joaquina Maria dos Santos, também pioneiros em Santa Cruz do Rio Pardo.
A presença de Manoel Francisco Soares na região santa-cruzense, então território da ainda Capela de São Domingos, remonta ao ano de 1851/1852, com a posse no Turvo da 'Fazenda Jacutinga', da qual extraída a Crissiumal, e a divisa 'Fazenda Santa Cruz' no Pardo.
Documentos eclesiais e cartoriais - citações em transações de terras, a partir de 02 de março de 1855, confirmam a presença do Soares no sertão, a não restar dúvidas quanto ao seu pioneirismo no Pardo/Turvo santa-cruzenses.
Em 1858 Soares e seus filhos estavam entre os qualificados votantes para as eleições de 'Juízes de Paz da Freguesia de São Domingos', de acordo com a ata organizada pela 'Mesa Paroquial', datada de 17 de julho de 1859.
No quadro de eleitores figura certo "José Francisco Soares, casado, 31 anos", tido pelas tradições sobrinho do pioneiro, mas nenhum documento ainda localizado, referência 2020, que possa assim atestá-lo.
O nome de Soares não constou nas solenidades que elevou Santa Cruz à condição de freguesia pelo poder civil, em 1872, ratificada eclesialmente no ano seguinte. A sociedade civil não se lembrou dele e a Igreja não lhe prestou memórias. Somente viria ser efetivamente reconhecido, como o primeiro nome da história de Santa Cruz do Rio Pardo, na crônica publicada pelo 'Almanach da Provincia de São Paulo para 1887', transcrita pelos autores no capítulo '1862 - A história referenciada'.
Em 1878 o pioneiro Manoel Francisco Soares, 83 anos de idade, filho de Athanazio Soares, consta qualificado para o rol de votantes da paróquia de Santa Cruz do Rio Pardo (DAESP, 31/08/1878: 3).
No quadro de Qualificação Eleitoral de 1880 para Santa Cruz do Rio Pardo (DAESP, 16/071880: 9), inscrito o Manoel Francisco Soares. Este documento apresenta erros evidentes de transcrições, informando Soares com idade de 95 anos em vez de 85, filho de Manoel Francisco Soares quando o correto seria de Athanazio Soares. O Athanazio Soares, no mesmo documento, figura como pai de Manoel Joaquim Eduardo, em verdade filho de José Joaquim de Castro, conforme o Alistamento de Eleitores para Santa Cruz do Rio Pardo, 1890 (14º Quarteirão - Boa Vista, 1890: 28-v 29-a eleitor nº 300).
Dos acontecimentos: No pleito de 1880, numa manobra política rasteira os conservadores no poder municipal, marcaram reunião da junta paroquial, quando ausentes os titulares membros do partido liberal, o juiz municipal e o delegado de polícia, então substituídos pelos suplentes conservadores, convocados às pressas ou por lá já se encontravam, para atualizar a lista de qualificações dos votantes, com exclusões e inclusões de nomes, conforme interesses, de maneira a garantir a vitória conservadora.
Às manobras conservadoras reagiram violentamente os liberais, sob o comando do coronel Francisco Dias Baptista chefe político comarquiano - de Lençóis Paulista, literalmente invadindo as ruas e a matriz de Santa Cruz com bando de gente armada, espalhando temor.
Os liberais titulares da junta paroquial, então, às pressas, reassumiram seus cargos, não sabendo se mantinham a qualificação eleitoral de 1878 ou elaboravam uma nova (DAESP, 16/071880: 1 – Ata), optando por improvisar com expedientes encontrados, de tal maneira concluído o quadro dos eleitores, com dados incorretos em alguns casos, portanto, documento sem confiabilidade histórica.
Não consta outro expediente conhecido que possa referenciar o Soares após 1880. 


2. Padre João Domingos Figueira
2.1. Vida eclesial tumultuada
O padre João Domingos Figueira tem o seu nome lançado em antigos documentos, como o cofundador e primeiro vigário santa-cruzense-do-rio-pardo.
Figueira, português, nascido aos 14 de abril de 1810, na Freguesia do Estreito de Nossa Senhora da Graça de Câmara dos Lobos, filho de João Domingos Figueira e Maria de Faria, batizado em 18 de abril do mesmo ano, conforme "Livro Décimo Oitavo dos Baptizados da Parochial Igreja do Espirito Santo da Villa da Calheta, nelle a folha cento e sincoenta oito verço." De conformidade com transcrição: "Funchal, 13 de Março de 1833" (Apud padre dr. Hiansen, Documentos de Arquivos - ACMSP, 1998).
Vocacionado para o sacerdócio, Figueira iniciou curso no Seminário Católico de Funchal, em 1824, sem conclusão, egresso em 1833, deixando Portugal para residir no Brasil, onde concluiu os estudos para receber ordens sacras. "Em 1839 'os moradores na Freguezia de Caboverde' pedem ao Bispo de São Paulo a confirmação do Padre João Domingos Figueira para seu Parocho" (Padre dr. Hiansen, Documentos de Arquivos - ACMSP, 1998).
João Domingos Figueira foi pároco nomeado, a pedido da população, para Cabo Verde - MG, a contar de 1º de outubro de 1839 "por seu comportamento, lisonjeiras esperanças de bem servir a igreja" (Carvalho, 2003: 34).
O reverendo padre Ignácio Ribeiro do Prado e Siqueira, em alguns assentos de batizados em Cabo Verde - Minas Gerais, atesta batizador o padre João Domingos Figueira, a partir de 1835 (Livro de 1821-1836: 135, exemplo de 31/05/1835), antes, porém, com passagem por Mogi-Mirim-SP, a partir de 30 de março de 1834, como padre coadjutor no batizado de Geremias  (Livro 1832/1841).
Documentos resgatados pelo padre dr. Hiansen Vieira Franco, em novembro de 2012, revelou os "Auttos de Collação da Igreja de Cabo-Verde a favor do Reverendo João Domingos Figueira", de 27 de junho de 1842, sob o Decreto Imperial de 06 de maio do mesmo ano (Padre dr. Hiansen, Documentos de Arquivos - ACMSP, 1998).
Padre Colado' tinha a mesma condição de funcionário público, inclusive com ingresso através de concurso.
Aos 23 de agosto de 1845, o padre Figueira pediu renúncia do cargo, em Cabo Verde, quando "lá não podia permanecer com ameaças consecutivas de morte" Aos 23 de agosto de 1845, o padre Figueira pediu renúncia do cargo, em Cabo Verde, quando "lá não podia permanecer com ameaças consecutivas de morte" (Carvalho - Adilson de, A Freguesia de Nossa Senhora da Assunção do Cabo Verde e sua História, 1ª edição, Cabo Verde - MG, 1998: 188, Processo de Hab. Genere et Moribus - 1833-2-69-1347).

O requerimento não prosperou ou algo acordado entre as partes, até 1858, quando novo pedido do padre:
"Vinte e dois annos de continuada perseguição nesta Freguezia, è motivo mais que sufficiente para renunciar, pela segunda vez, o beneficio de Nossa Senhora da Assumpção de Cabo Verde, onde por infelicidade sou collado (...)." (ACMSP, Autos de Renúncia de Benefícios - Paróquia de Cabo Verde, MG, 1858: 15/03, apud padre dr. Hiansen: 2012 - Documentos de Arquivos).
A solicitação foi aceita pelo 'Bispado de São Paulo' e publicada pelo Governo da Província de Minas Gerais (Correio Official de Minas, 29/03/1858: 1-2), e Figueira perdeu sua condição de vigário colado, daí um hiato em sua biografia conhecida entre 30 de março de 1858 a 02 de novembro de 1860. 
Entre 03 de novembro de 1860 a 30 de junho de 1861, o padre Figueira encontrava-se em Divinolândia - Capela Rio do Peixe, no exercício de atividades religiosas como 'cura' (ABRASP - Records Preservation - Livro de Matrimônios - Caconde, 1857/1891). 
'Cura' era o padre responsável por um 'Curato', ou seja, uma 'Capela' já em condições para se tornar Paróquia.
Em 1861 Figueira mudou-se para Santa Cruz do Rio Pardo, "Comprando uma grande fazenda no Rio Pardo foi cultival-a, deixando de parochiar." (A Reforma, 19/12/1878: 2), adquirida de Manoel Francisco Soares.
Aos de 02 de julho de 1873 num expediente ao governo paulista, Figueira confirmaria sua presença na região desde 1861, "conhecedor destes lugares, onde habito á doze anos" (ALESP, EE 73_27.1).
'Progresso de Tathuy', de 12/12/1878, descreveu a participação do Padre Figueira na origem santa-cruzense: "Foi elle quem mandou derrubar a matta, onde hoje é a villa de Santa Cruz do Rio Pardo, e mandou ahi fazer-se a primeira roça." (In A Reforma, RJ, 19/12/1878: 2). 
O ativismo de Figueira no lugar atraiu rivalidade do Padre Andrea Barra, Vigário em São João de São Domingos. Os padres desavieram-se pelos feitos em Santa Cruz, e, por carta ao Bispado de São Paulo, Figueira comunicou e denunciou: 
"Os habitantes de Santa Cruz do Rio-Pardo filial de Sam Domingos termo de Botucatu, encarregando-me como seu procurador. Dois anos habitei entre elles, neste tempo erigio-se huma capella mór com presbiteryo, altar sacraico, throno retabulo, forrada, assoalhada, com corredores dos lados o mesmo e sachristia. O patrimonio doado tem sem alqueires, mais ou menos, terreno proprio para grande povoação, agua pelo alto com abundancia, apresenta este logar um futuro risonho. A afluencia de povo de todas as partes é immensa. As divisas combinadas com os moradores, e as mais apropriadas devem ser: Principiando na foz do rio Pardo com o Paranapanema, subindo este até frontiar em linha reta com o ribeiro Santa Clara, descendo este a entrar no Turvo, descendo este athe onde principiou a divisa.
Esta Capella dista de S. Domingos quatorse leguas, o vigario bastante inpolitico negou-me todas as licenças para baptisados e casamentos, talves julgando que o privaria de seus emulumentos. Estes habitantes tendo entre si um padre vio-se na dura necessidade, com incommodos innauditos hirem para S. Domingos e dispesas imcompativeis, subscrivendo cotas para o vigario ir, ao lugar, e assim mesmo, não hia se não por, contribuição espantoza, como fosse a benção do cemiterio q. exigio oitenta mil reis dizendo que era a licença, quando a provisão q tenho de cemiterio para minha fazenda importou hum mil duzentos e oitenta.
Senhor esta capella não foi benta e para esse fim requeiro a V. Ex. faculdade para mim ou outro sacerdote de confiança sua. Assim mais a ereção de pia Baptismal. V. Ex. que em todos os actos de sua sublime administração tem apresentado amor paternal, caridade, e desinteresse. Eu em nome daquellas ovelhas submissas do seu grandioso rebanho supplicamos serem atendidas.
Eu, e aquelles ficamos rogando a Deos pela conservação de sua vida apreciavel para ingrandecimento das almas por isso.
Ilegivel-." (ACMSP, Documentos Diversos para Santa Cruz do Rio Pardo).
A Igreja decidiu manter o padre Barra nas funções e impor, ao padre Figueira, a reassunção do sacerdócio noutro lugar. Se determinação superior, ajustes entre as partes ou livre escolha do padre, a Presidência da Província de São Paulo, cumprindo formalidades, oficializou:
"Ao exm. bispo diocesano – Passo ás mãos de v.ex. o incluso officio em que o padre João Domingos Figueira dá parte de achar-se a freguezia do Bom Successo desprovida de parocho para que v.ex. se digne tomar este objecto na consideração, que julgar conveniente." (Correio Paulistano, 16/04/863: 3).
Bom Sucesso, atual Caconde, seria bom lugar para o padre que já prestara serviços religiosos na região, antes de chegar a Santa Cruz do Rio Pardo, e, para lá viu-se nomeado como Vigário Encomendado (RG, BN 1003, 1863/1864: 40 – Mapa S/N; RG, U 1005, 1864/865: 8-9)numa curta permanência, assim revela Figueira noutra carta sua ao Bispado de São Paulo, escrita de Bom Sucesso aos 13 de fevereiro de 1864, solicitando demissão: 
"Com magoa levo ao conhecimento de S.Ex.Rev. o que se tem passado neste infeliz lugar há 6 mezes. Convidarão-me para vir ao lugar e fazer meus contratos, estive hum mez ... -me a que fizesse minha mudança, propuz condições acceitarão, e um lugar onde empregasse os cativos, tudo foi franqueado; porem a peçonha do Hydra estava encerrada nas viceras do depravado que me convidou para este lugar por nome Fernando, este homem é quem afiançava, porem logo q. aqui cheguei portou-se diferente, negando-se ao seu lado, só passado tres mezes, depois de varios desgostos afiançou porem a 10 de Fevereiro quando completava seis mezes ... que os parias não querião mais minha continuação como vigario: não podem elles justificar faltas só sim a 10 de Fevereiro não dei cinca porque não achei palma benta no lugar que elles chamão Igreja, não achei theribulo, no acto ... ... não havia vinho pa. a Missa, e no dia dois ... . No dia dois de Novembro p.p. tambem esse senhor feudal sentio-se porque não o esperei e ... quando quisesse ... são as faltas q. elles o ligão. Em vista do acontecido tenho de regressar para minha fazenda em Sta. Cruz do Rio Pardo, onde fico esperando as determinações de V.Ex. dirigindo-se p. Botucatu. Ainda que quizesse continuar-se pelos emulumentos estes são tão limitados que não dá para o café, Missas neste lugar não há, tudo he mizeria.
V.Ex.Rº atendendo ao expendido asseitará minha dimessão, não me nego a servir a Deos e á Igreja, e em Sta. Cruz existe uma nova povoação cujo povo bem dedicado ao servisso de Deos e da Igreja com minha estada de dois annos fosse uma Capella môr, forrada, assoalhada, com Prezbiterio, altar, trono, sacrario, e retabulo. O patrimonio doado é de 100 alqueires já conta com 18 a 20 fogões no arraial. A afluencia do povo é imensa.
Deos G. a V.Ex. Revª - muitos annos. Bom Sucesso - 13 de Fevereiro de 1864.
O V. João Domingos Figueira" (ACMSP, Documentos Diversos para Santa Cruz do Rio Pardo).
A carta desabafo dizia muito de Santa Cruz, para onde Figueira retornava à vida de fazendeiro, e, sem informações quanto à continuidade ou não dos seus entreveros com o vigário Andrea Barra, realizou alguns serviços religiosos, conforme exemplo revelado, em outubro de 1893, pelo vigário forâneo padre Bartholomeu Comenale:
"(...) no anno de 1867, nesta Matriz, o Revdo. Pde João Domingos Figueira baptizou José, de poucos dias, filho legítimo de Francisco Theodoro de Souza e Maria Magdalena de São José, foram padrinhos José Botelho de Souza e Lina Honória de São José." (Eclesial, SCR. Pardo, 1873/1896 150).
Aparentemente Padre Figueira não demonstrou nenhum interesse pela vigararia de São Domingos, talvez nem tenha sido convidado, quando da morte do padre Andrea Barra em setembro de 1870. Somente retornaria ao serviço religioso, como coadjutor ou capelão em Santa Cruz, com a posse do padre Francisco José Serôdio, aos 15 de março de 1872, para São Domingos. Figueira permaneceu na capelania até sua nomeação como o primeiro vigário de Santa Cruz, aos 15 de março de 1873 (Câmara Episcopal de São Paulo, in ALESP, CO 073-001.1).
O Padre João Domingos Figueira faleceu em Santa Cruz do Rio Pardo, aos 26 de novembro de 1878, e seu corpo sepultado no piso da matriz, próximo do altar (Oliveira Zanoni, 1976: 57); sua morte foi noticiada pelos principais jornais de São Paulo e Rio de Janeiro, embasados ou reproduzindo, na íntegra, publicação do 'Progresso de Tathuy' edição de 12 de dezembro de 1878:
"(...). 
Falleceu a 26 do mez findo [novembro], em Santa Cruz do Rio Pardo, onde parochiava, o rvdo. sacerdote João Domingos Figueira. Nasceu em 1809 [1810], na Ilha da Madeira.
Ordenou-se na diocese de S. Paulo, sendo bispo o fallecido Sr. D. Manoel.
Foi vigario collado em Cabo Verde [MG].
Desistiu do beneficio da collação, por desgostos em tempos do fallecido bispo D. Antonio.Foi vigario em Caconde em Caconde.
Comprando uma grande fazenda no Rio Pardo, fou cultival-a, deixando de parochiar.Foi elle quem mandou derrubar a matta, onde hoje é a villa de Santa Cruz do Rio Pardo, e mandou ahi fazer-se a primeira roça.
Por esse mesmo tempo fez levantar a primeira vivenda de que ahi ha lembrança, sendo esta vivenda um rancho.Foi o primeiro povoador de Santa Cruz, sendo tambem o seu primeiro vigario da parochia e vara.
Em testamento instituiu seis herdeiros; fez legados pios; libertou cerca de 30 escravos, sendo 10 sem nenhuma condição e os mais cordialmente.Assistiu ao seu enterramento o revd. padre Pedro Gagino, vigario de S. Sebastião do Tijuco Preto, que veiu prestar-lhe os ultimos socorros espirituaes.
O padre João Domingues gozou de uma bonita reputação como homem e como sacerdote. 
O povo santacruzense sentiu muito a sua morte." (Provincia de São Paulo, atual Estado de São Paulo, 17/12/1872; A Reforma, RJ, 19 de dezembro de 1878: 2)
O paulistano 'Jornal da Tarde', edição de 17/12/1878: 2, reportou:
"Com 69 annos em Santa Cruz do Rio-Pardo, falleceu o revd. vigario padre João Domingues Figueira, primeiro povoador daquella villa.
Deu Liberdade a trinta escravos, e fez diversos legados pios.
Era um verdadeiro apostolo do bem, pelo que os seus parochianos muito sentirão a sua morte." 

2.2. Vida extraclerical do padre João Domingos Figueira
2.2.1. Fazendeiro escravagista
O padre João Domingos Figueira era um homem rico; em Cabo Verde-MG são mostrados alguns de seus escravos, peças caras e destinadas aos trabalhos rurais e domésticos, posteriormente citados em Santa Cruz do Rio Pardo, entre 1860 a 1880.
Um exemplo: Batistina, sua escravizada, no ano de 1846 em Cabo Verde teve o filho Jeremias (Livro de Batismos, 1809/1859), que, de pronto lançado escravo, e acompanhou a mãe na vinda do padre para o Sertão do Pardo santa-cruzense, onde se casaria com uma jovem do mesmo plantel.
O padre chegou a Santa Cruz do Rio Pardo em 1860/1861 para cuidar de sua fazenda, adquirida de Manoel Francisco Soares, e, com ele veio a escravaria. Quando o padre Figueira foi paroquiar em Caconde - SP, em 1862 a 1864, fez-se acompanhado de parte de seus cativos que lá seriam empregados como mão-de-obra alugada para os interessados.
"(...). Convidarão-me para vir ao lugar e fazer meus contratos, estive hum mez [ilegível]-me a que fizesse minha mudança, propuz condições acceitarão, e um lugar onde empregasse os cativos, tudo foi franqueado (...). (ACMSP, Documentos Diversos para Santa Cruz do Rio Pardo).
O padre retornou a Santa Cruz do Rio Pardo em 1864, conforme os diversos assentos eclesiais.
Sua fazenda em Santa Cruz, conhecida como 'Fazenda do Padre', era uma das melhores na região, situada às duas margens do rio Pardo, confinada a partir do Salto da Boa Vista, onde ainda [2024] ruínas da Usina Velha [hidroelétrica], com o ribeirão Grande, hoje divisa territorial entre os municípios Santa Cruz do Rio Pardo e Ipaussu, e, ainda, respeitadas as divisas de fundo e testada (DOSP, 19/03/1898: 23.174). Pelo caminho da fazenda, a passagem pelo Pardo, como a primeira ponte para adiante de Santa Cruz em direção às povoações: Rio Novo [Avaré], São Sebastião do Tijuco Preto [Piraju], Três Ranchos [Cerqueira Cesar], e outras.

2.3. Dos herdeiros
Padre Figueira instituiu herdeiros e herdeiras de seus bens: Benvinda Carolina do Espírito Santo, João Bonifácio Figueira, Mariana Rosa do Amor Divino, Maria Innocencia da Conceição, José Chrisante [ou Chrisostomo] Figueira e Antonio Emilio Rodrigues.
Os herdeiros legatários do padre João Domingos Figueira, ambos os sexos, são mencionados em edital público no ano de 1896, com os respectivos cônjuges (DOSP, 19/03/1898: 23.174). De cada um deles pequeno histórico do que se sabe:
-Benvinda Carolina do Espírito Santo: nascida por volta de 1840, pais e local ignorados, residente em Caconde-SP e Divinolândia, foi casada com Manoel Gomes Nogueira, com o qual teve os seguintes filhos localizados: Olympio, aos 09/09/1855; Lina aos 30/05/1857; Antonio Augusto batizado aos 12 de maio de 1861, idade de 24 dias; Luiz batizado aos 07 de setembro de 1862, idade de 13 dias; Eugenio, batizado aos 17 de novembro de 1864  (ABRASP - Records Preservation - Caconde, Livro de Batismos 1858/1867)  e, José Gomes Nogueira, idade de 31 anos em registro eleitoral eleitoral de 1890, portanto nascido por volta de 1859, residente Santa Cruz do Rio Pardo (SCRP, Livro de Alistamento de Eleitores, 1890: 5). Com o ano de nascimento do primeiro filho, em 1855, a estimativa do ano que Benvinda teria nascido.
Benvinda faleceu em Divinolândia onde sepultada aos 16 de janeiro de 1888, sem revelação de idade, ainda que aproximada. Dois dias depois, 18 de janeiro de 1888,  o seu marido, Manoel Gomes Nogueira, faleceu também em Divinolândia onde sepultado (ABRASP - Records Preservation - Divinolandia, Óbitos - Livro 1, 1847/1902).
-João Bonifácio Figueira: nascido por volta de 1845, pais e local ignorados, residente em Santa Cruz do Rio Pardo, casado com Maria das Dores de São José [família Botelho].
Do nascimento de João Bonifácio, por volta de 1845, confirma-o certidão de seu óbito ocorrido aos 12 de janeiro de 1915, idade de 70 anos, na localidade de Santa Cruz do Rio Pardo, onde era residente. No registro eleitoral federal de 1904, porém, informado com 52 anos , ou seja, nascimento em 1852, constando, ser filho do reverendo padre João Domingos Figueira (Alistamento Geral dos Eleitores Federais - SCRP, 1904 - CD: A/A).
João Santiago, o primeiro filho conhecido de João Bonifácio Figueira, nasceu aos 25 de julho de 1868 e batizado no dia 1º de agosto do mesmo ano, na matriz de São Pedro do Turvo, por informação dada pelo vigário forâneo Bartholomeu Comenale (SCRP Livro 1873/1896), com isso a sugerir que João Bonifacio tenha mesmo nascido, aproximadamente, em 1845.
O filho de João Bonifácio Figueira, Arlindo Ornellas Figueira, destacado membro da sociedade santa-cruzense de sua época, não teve anotados os nomes dos avós paternos quando da regularização de seus documentos cartoriais, mas era conhecido como neto do padre Figueira.
-Mariana Rosa do Amor Divino: de pais e local de nascimento ignorados, casada com Luiz Antonio Rodrigues, residente em Santa Cruz do Rio Pardo, onde faleceu aos 26 de setembro de 1909, com idade de 60 anos (Cartório de Registro Civil, Certidão de Óbito nº 162, Santa Cruz do Rio Pardo), portanto, nascimento por volta de 1848, dito em Pirassununga-SP, documento não localizado.
No Livro de Eleitores de Santa Cruz do Rio Pardo de 1872, Luiz Antonio Rodrigues tem idade informada de 41 anos, ou seja, nascido por volta de 1831.
Marianna e Luiz Antonio Rodrigues, segundo a Certidão de Óbito - dela, tiveram dez filhos conforme a seguir, não necessariamente na ordem cronológica: Pedro, José Luiz, Luiz Antonio, João, Sebastião, Antonio, Boaventura, Maria do Carmo, Maria Luiza e Francisca, com numerosa descendência, alguns ainda residentes em Santa Cruz do Rio Pardo.
-Maria Innocencia da Conceição: nascida por volta de 1850, de pais e local ignorados,  herdeira instituída do padre João Domingos Figueira, casada com José Joaquim Gomes, residente em Santa Cruz do Rio Pardo, anotada uma primeira vez na região aos 25 de novembro de 1862, em São João de São Domingos, madrinha de batismo de Maria, nascida escravizada do padre citado (Santa Cruz do Rio Pardo, 1859/1879), mesma data do assento batismal de Antonio, outro herdeiro do padre Figueira. O registro batismal não diz se a madrinha Maria Innocencia era casada ou não, com certeza não, sendo a idade dela em torno dos treze anos, idade mínima exigida, canonicamente, para participar do ofício religioso. 
Nenhuma informação quando Maria Innocencia se casou com José Joaquim Gomes, sendo que este, aos 24 de setembro de 1863, é anotado padrinho no batismo de Francisca, igualmente não informado se casado ou solteiro (Santa Cruz do Rio Pardo, 1859/1879).
Aos 16 de março de 1874 'Maria Innocencia e o marido José Joaquim Gomes', então comprovadamente casados, estão relacionados padrinhos no batizado de Marianna (Santa Cruz do Rio Pardo, 1872/1879); meses depois o casal teve o filho José, batizado em 13 de setembro de 1874, idade de 12 dias (Santa Cruz do Rio Pardo, 1872/1879); quase dois anos à frente, aos 05 de agosto de 1876, acontece o batismo do filho João (Santa Cruz do Rio Pardo, 1872/1879).
-José Chrisostomo Figueira: nome grafado, José Chrysante Figueira, no documento que o menciona herdeiro legatário do padre João Domingos Figueira (DOSP, 19/03/1898: 23.174), filho natural da escravizada Batistina Figueira, dito nascido em Santa Cruz do Rio Pardo, por volta de 1861, ainda que não localizado nenhum documento, embora não se possa excluir que tenha sido batizado em oratório particular do reverendo padre João Domingos Figueira, recém chegado ao lugar com sua escravaria, na qual a Batistina, e os demais seus acompanhantes, no ano de 1861.
Atos religiosos não solenes e aqueles extremamente justificáveis, eram ou podiam ser realizados em oratório particular do padre, devidamente registrados. 
José, com sobrenomes Chrysostomo Figueira, foi casado em primeira núpcia com Umbelina Rosa de Jesus, comprovado no registro de batismo da filha Virgilina, aos 27 de março de 1878 (Santa Cruz do Rio Pardo, Batismos, Livro 1872/1879). 
Viúvo e já com o nome José Baptista Figueira, aos 17 de fevereiro de 1898 consorciou-se 'no religioso', em segunda núpcias, com Amélia Maria de Lima (Santa Cruz do Rio Pardo, Matrimônio, Livro 1893/1900).
O casamento 'no civil' de José Baptista Figueira, com Amélia Maria de Lima, realizou-se aos 30 de abril de 1910 em Santa Cruz do Rio Pardo, onde informado ser "filho natural de Batistina Figueira, com quarenta e nove anos de idade, viúvo (...), lavradôr, natural deste districto [Santa Cruz do Rio Pardo] onde é residente (...)." (Cartório do Registro Civil de Santa Cruz do Rio Pardo).
-Antonio Emilio Rodrigues: o seu batismo, aos 25 de novembro de 1862, revela-o nascido livre de mãe escrava, a Batistina, do plantel do padre Figueira, e de pai incógnito (SCR. Pardo, Livro de Batismos 1859/1879: 191), quando ainda não prevalecia a 'Lei do Ventre Livre, de 28/09/1871', a indicar, biologicamente, pai branco dono do plantel, a livrar o filho da servidão.
Na época do nascimento e batismo de Antonio, o padre João Domingos Figueira encontrava-se em Caconde, para onde designado vigário encomendado e lá permaneceria até 1864, levando consigo parte da escravaria, deixando a outra em Santa Cruz do Rio Pardo para os cuidados de sua fazenda e moradia, e, entre estes a Batistina, grávida, no entanto ignorado o motivo que levou Batistina batizar o filho na ausência do padre Figueira. Documentos posteriores revelariam o nome completo do filho de Batistina, Antonio Emílio Rodrigues, colocado no rol dos herdeiros do padre, mudando o seu nome, após a morte do reverendo, para Antonio Baptista Figueira.
Antonio, viúvo de sua primeira mulher, Maria da Conceição, casou-se em segunda núpcias, aos 03 de fevereiro de 1894, com Gabriella Sabina [ou Joaquina] de Jesus, filha de Manoel Antonio de Faria e Joaquina Sabina de Jesus (Santa Cruz do Rio Pardo, Livro 1893/1900: 5).
Antonio sobreviveu sua segunda mulher, Gabriella, morta aos 21 de junho de 1926, idade de 48 anos (Prefeitura Municipal - Cadastro/Óbitos 09/10/1918 - 23/08/1989: 2.678), vindo ele a falecer aos 30 de outubro de 1928, declarado filho de pais ignorados (Cartório de Registro Civil de Santa Cruz do Rio Pardo).
São notados em Santa Cruz  filhos de Antonio, como exemplos, o João Baptista Figueira, falecido aos 13 de julho de 1950, idade de 65 anos (Prefeitura Municipal - Cadastro/Óbitos 09/10/1918 - 23/08/1989: 16.554), portanto do primeiro matrimônio do pai, e o José Baptista Figueira, que nasceu do segundo leito nupcial, aos 05 de fevereiro de 1894, civilmente registrado aos 22/10/1928 em Santa Cruz do Rio Pardo (Cartório do Registro Civil de Santa Cruz do Rio Pardo), sem identificações dos avós paternos.
-o-
Rozalia Figueira: sobrenome por assinalação escrava, dela nada se sabe quanto a filiação e local de nascimento, exceto que tardiamente acrescida ao rol de herdeiros do reverendo padre João Domingos Figueira, como 'Rozalia [Rosalia] de Tal' (DOSP, 19/03/1898: 23.174), lembrada nas antigas memórias santa-cruzenses como a mulher que convivera maritalmente com o padre, nos últimos anos da vida dele, sem descendentes. Não figurou, inicialmente, entre os seis herdeiros instituídos pelo padre no seu testamento.

2.4. As mulheres possíveis mães dos herdeiros do padre Figueira
Se conhecidos os nomes dos herdeiros do padre, apenas a escravizada Batistina Figueira é documentalmente comprovada genetriz de dois deles, os pardos José e o Antonio
Dos atos do padre Figueira com as mães de seus herdeiros, a única certeza encontrada foi a intenção deliberada, por parte daquele que detinha o poder sobre os assentos eclesiais, ocultar os registros dos filhos e das mães, que poderiam tudo esclarecer, com isto perdidos muitos assentos eclesiais em Cabo Verde, entre os anos 1830/1850, nos tempos que sabidamente teriam nascidos muitos cabo-verdenses e, entre eles, alguns dos herdeiros do padre Figueira e mesmo de suas genitoras, ausências atestadas, por exemplo, pelo reverendo padre Paulo José Gomes Marques da Cunha:
"No anno de mil e oito centos e quarenta e quatro, pelo Mtº. Rvdº Vigario Collado João Domingos Figueira, nesta Matriz de Cabo Verde, foi baptizado solennemente, o innocente Antonio filho legitimo de João da Costa Ferreira e de Maria Eufrazia de Jesus, de quem foram Padrinhos João de Souza Mendonça e sua mulher Theodora.
Revistei o Livro oitavo, que governando aquella epoca, para delle extrair o theor de seo assento; mas não o encontrei. Porem informando-me de pessoas, que suppuz me falarão com verdade sobre o contheudo não duvidei fazer este assento para em todo constar. Cabo Verde 22 de abril de 1864. O Padre Paulo José Gomes Marques da Cunha." (Cabo Verde, Livro de Batismos 1809/1859), com os registros mencionados a partir desde o final da página 54, e, a seguir integrais, até às de número 74, em diferentes datas expedidos a favor de pessoas interessadas, mediante testemunhos, sobre nascidos cabo-verdenses.
As ausências de tais livros são suspeitas, estando neles, possivelmente, duas das herdeiras e um herdeiro do padre Figueira: Benvinda Carolina do Espírito Santo, Marianna Roza do Amor Divino e um herdeiro, João Bonifácio Figueira, possivelmente casados na localidade, sem registros.
A herdeira Maria Innocencia da Conceição talvez tenha nascido em Divinolândia-SP, onde o padre Figueira foi 'cura' entre 1859 e 1860, todavia nenhum registro encontrado.
Também em Santa Cruz do Rio Pardo, excetos relatos informados ou transcritos oficialmente, nenhum assento eclesial - cópia do original de ato religioso ministrado e assinado pelo padre Figueira, em seu oratório particular, são conhecidos documentalmente.

IBatistina Figueira - sobrenome por assinalação escrava
Desconhecidos os pais e local de nascimento de Batistina, escravizada do padre João Domingos Figueira, que teve o seu nome uma primeira vez na sua história conhecida, em Cabo Verde, aos 14 de abril de 1846, solteira, no batizado do filho, Jeremias ou Geremias, preto, filho de pai incógnito, desde o nascimento lançado no rol de escravos do mesmo padre.
Uma segunda vez aparece a Batistina, agora em Santa Cruz do Rio Pardo, aos 25 de novembro de 1862, no batizado do filho Antonio, pardo, de pai ignorado, livre do cativeiro embora a mãe continuasse na servidão ao padre João Domingos Figueira. Antonio foi batizado na vigararia de São João de São Domingos à qual pertencia Santa Cruz.
Nos dezesseis anos que separam Jeremias e Antonio, outra criança conhecida nasceu de Batistina, o José, pardo, livre.
José e Antonio, nascidos livres de mãe escravizada, instituídos entre os herdeiros do padre João Domingos Figueira, tiveram destino diferente do irmão materno Jeremias lançado no rol de cativos do  padre, desde o nascimento, sem lhe ser ordenado alforria, posto ainda escravo em 1880, quase dois anos após o falecimento do seu senhor. Também à mãe de Jeremias, que deu dois filhos ao padre, nenhum sentimento de humanidade dele em relação a ela e ao filho cativo, e nem há que se falar que mãe e filho tiveram privilégios do padre sobre outros escravos e que não sofreram as agruras da servidão.
O padre teve relacionamentos sexuais com Batistina e com ela gerou descendentes, provados no ato de instituir dois herdeiros seus, nascidos de Batistina, que não fossem seus filhos. Um absurdo, sem dúvidas, o padre relacionar-se sexualmente com Batistina, ter filhos com ela e, ainda assim, não torná-la liberta, à mesma maneira, estupidez manter cativo o irmão materno de seus próprios filhos, enfim, horrendo um ser humano escravizar outros humanos, independente de qualquer laço de união.
Em Santa Cruz do Rio Pardo é possível acompanhar o cativo Jeremias assim como já acima promovido em relação aos seus irmãos livres, José e Antonio.
-Jeremias [Geremias] Figueira
Identificados a filiação e local de nascimento, no ano de 1875, em Santa Cruz do Rio Pardo, consta o Jeremias e sua mulher, Maria Magdalena, escravos do padre João Domingos Figueira, no registro de batismo do filho Cyrillo, aos 11 de fevereiro daquele ano (Santa Cruz do Rio Pardo, 1873/1896). Em 1878 Jeremias e Maria Magdalena estão presentes, anotados escravos, no batizado da filha Maria aos 28 de junho de 1878 (Santa Cruz do Rio Pardo, 1873/1896).
Os irmãos Cyrillo e Maria nasceram libertos, por força da Lei nº 2040, a Lei do Ventre Livre, de 28 de setembro de 1871: "Art. 1º: Os filhos de mulher escrava que nascerem no Imperio desde a data desta lei, serão considerados de condição livre."
Jeremias, no ano de 1880, ainda escravo, foi padrinho de batismo de Rozalina, aos 17 de junho de 1880, liberta, filha de pais escravos do plantel do padre João Domingos Figueira (Santa Cruz do Rio Pardo, 1873/1896), falecido em 1878.
Após a morte do padre Figueira, Jeremias assumiu o sobrenome Baptista em homenagem à mãe e manteve o Figueira, de assinalação escrava, então Jeremias Baptista Figueira, e, ao contrário de seus irmãos maternos, não figurou entre os herdeiros do padre.
Os filhos de Jeremias e alguns de seus netos, alcançados nas pesquisas dos autores, são identificados pretos ou pardos.

II) Benvinda Belmira do Espírito Santo
Benvinda Belmira Carolina do Espírito Santo é mencionada aos 14 de abril de 1846, solteira, no batizado de 'Jeremias, filho de Batistina, escrava do padre batizador João Domingos Figueira' (Cabo Verde – MG, Batismos, 1809/1859).
O cânone católico, entre 1707 a 1914, exigia, para padrinhos e madrinhas de batismo, idade mínima de quatorze anos para o sexo masculino e doze anos para o feminino (Pastoral Coletiva - Constituições Eclesiásticas do Brasil-1915 arts. 184 e 185, apud "Ritos de recepção: Nomes, batismos, e certidões como formas de inscrição da criança no mundo social Claudia Fonseca (UFRGS) e Jurema Brites (UNISC) https://www.mprj.mp.br/documents/20184/151138/fonseca%2Cclaudia.l.w.%3Bbrites%2Cj.ritosderecepcao_nomes%2Cbatismosecertidoescomoformadeinscricaodacriancanomundosocial.pdf – CD:A/A)."
As restrições canônicas podiam ser burladas, com as celebrações de ofícios religiosos em oratório particular do padre, ou, quando emergencial em residência particular com as devidas justificativas. Considerando o batismo realizado ' esta Matris', a madrinha Benvinda teria, então, idade mínima de doze anos em abril de 1846, podendo ser mais.
Praticamente cinco anos depois, aos 23 de março de 1851, a mesma Benvinda Belmira do Espírito Santo, solteira, aparece partícipe no batismo de Miguel, filho de escravos, em ato firmado pelo padre Figueira (Cabo Verde - MG, Batismos, 1809/1859). 
Considerando a idade mínima de treze anos em 1846, Benvinda Belmira teria dezessete anos em 1851, solteira, numa época que se sabe, adolescentes femininas eram dadas em casamentos, na faixa etária entre os treze e dezessete anos. 
Há razões, no entanto, para considerar Benvinda Belmira nascida por volta de 1820, lugar e filiação ainda ignorados em outubro de 1824. Ausências de livros e registros eclesiásticos em Cabo Verde, entre 1830 a 1859, conforme já observado, é certo que no período de 1835 a 1859, o padre João Domingos Figueira por lá exerceu suas funções sacerdotais, período, de 1850 a 1859 marcado, possivelmente, pelo nascimento de seus quatro primeiros herdeiros: 'Benvinda Carolina do Espírito Santo [1840], João Bonifácio Figueira [1845], Marianna Roza do Amor Divino [1848] e Innocencia [1850]'.
Observável e impossível não associar os nomes, Benvinda Belmira do Espírito Santo e Benvinda Carolina do Espírito Santo, como mãe e filha, assim como o padre não nomearia a Benvinda filha sua herdeira, se não fosse ele o genitor. 
A continuidade de Benvinda Belmira, a mãe, na companhia do padre Figueira em Cabo Verde, vista nos anos de 1846 e 1851, por documentos eclesiais, traz a certeza ser ela a mãe de João Bonifácio e de Maria Roza do Amor Divino, outros dois herdeiros do padre, o João Bonifácio publicamente assumido filho do reverendo (Alistamento Geral dos Eleitores Federais - SCRP, 1904 - CD: A/A). Nada difícil entender a herdeira Innocencia como filha de Figueira e Benvinda Belmiro, nascida por volta de 1850. 

III - A barregã Rozalia [Rosaria] de Tal ou da Conceição
Após a convivência entre o padre Figueira e Benvinda Belmira, até o momento tida como certa, o padre relacionou-se com a sua escravizada Batistina, com a qual teve filhos no início dos anos 1860, desconhecendo-se qualquer outra mulher, entre as duas, em companhia do padre. Só depois de Batistina, o surgimento de Rozalia ou Rosária, de sobrenome ignorado, talvez Conceição por parte da mãe, não inclusa inicialmente no testamento do padre, no entanto, depois, o seu nome lançado no rol de herdeiros legatários do padre, conforme edital de 1898 (DOSP, 19/03/1898: 23.174).
Aparentemente, Rozalia foi inclusa herdeira pelos demais sucessores, por ter sido ela a ultima barregã do padre, e que a ele sobrevivera, sem descendentes. 
Rozalia faleceu aos 12 de julho de 1926, idade informada de cem anos (Prefeitura Municipal, Cadastro - Cemitério). Notícias circulantes ainda no segundo quinquênio da década de 1970, quando vivos muitos que a conheceram e aqueles que dela ouviram falar, pelos pais e avós, diziam-na 'a viúva que foi mulher do padre', referência à morte de Miguel.
Levantamento dos autores apontam Rozalia nascida em Cabo Verde-MG, por volta de 1846 (Livro de Batismos, 1809/1859: 60), filha natural Ritta Maria da Conceição, que viria se casar com Miguel, escravizado do padre Figueira, a acompanhar o marido na vida de cativo.
O assento batismal de Rozalia, em Cabo Verde-MG, por sumição do livro original, foi anotado a 11 de julho de 1861, através de testemunhos, exigência canônica para o matrimônio. Se correta a informação de registro, Rozalia teria em torno de oitenta anos quando do seu falecimento.
Rozalia e Miguel tiveram uma filha conhecida, Maria, batizada aos 25 de novembro de 1862, na inaugural Capela Santa Cruz do Rio Pardo, pelo reverendo padre Andrea Barra (Livro de Batismos, 1859/1879).

-De uma mulher que se dizia filha do padre 

Certa 'Maria Bernardina', residente no 'Bairro [rural] dos Campanhas', teve em seu registro de óbito, de 02 de setembro de 1889, a identificação dada pelo marido, José Antunes Vieira, ser ela "filha natural do finado Padre João Domingos Figueira" (Cartório de Registro Civil - Santa Cruz do Rio Pardo), sem constar o nome da mãe, enquanto o assento eclesial de óbito, de 02 dos mesmos mês e ano, consta ser ela 'filha de pais incógnitos' (Livro 1883/1897), e, exceto nas vagas lembranças da família 'Pereira de Lima', nenhum documento pode comprova-la filha do padre, nem foi ela arrolada herdeira.

Durante algum tempo Maria [Bernardina] foi confundida com a homônima filha de Rozalia e do escravizado Miguel, do plantel do padre Figueira (Batismos Livro 1859/1879).

Da Maria Bernardina, em outubro de 2020 localizado o documento de seu batismo na localidade de Santa Cruz do Rio Pardo, ocorrido aos 15 de outubro de 1861, idade de vinte dias, filha de Maria Neves de Jesus, pai ignorado, sendo padrinhos 'José Pereira de Lima e Anna Bernardina de Jesus' (Livro 1859/1879), a comprovar os antigos relatos dos Pereira Lima. 

-Justificativas para ausências de documentos das mães
O padre João Domingos Figueira tinha em sua fazenda cemitério particular, mencionado em uma de suas cartas ao Bispado de São Paulo: "(...) quando a provisão q tenho de cemiterio para minha fazenda (...)." (Cartas do padre João Domingos Figueira, 1862, ACMSP - CD: A/A). 
Rompido com o padre Andrea Barra, vigário de São João de São Domingos (Cartas op.cit, 1862), o reverendo João Domingos Figueira mantinha oratório particular onde realizava suas devoções e, eventualmente, cerimônias familiares e privadas justificáveis, como exemplo o ato de batismo em 1867, atestado pelo vigário santa-cruzense, Bartholomeu Comenale, entre os dias 23 e 8 de outubro de 1893 (SCR. Pardo, Livro de Batismos de 1873/1896: 150).
Exceto alguns relatos informados ou transcritos, nenhum assento eclesial, cópia do original, de ato religioso ministrado e assinado pelo padre Figueira, em seu oratório particular, ou sepultados em seu cemitério privado chegou aos dias atuais.
Se não restam dúvidas que os herdeiros do padre João Domingos Figueira eram seus legítimos filhos, quando e onde as mães faleceram ou findaram seus relacionamentos com ele?
Ora, se calados os documentos nada se pode historicamente pressupor, por mais atiçadores que sejam os segredos.

2.5. O padre Figueira no contexto histórico santa-cruzense
Nenhum juizo de mérito, por parte dos autores, quanto a vida particular do reverendo padre João Domingos Figueira, se conhecida ou desconhecida dos santa-cruzenses da época, a importar somente ter sido ele o grande nome na formação histórica de Santa Cruz do Rio Pardo, ao lado de Manoel Francisco Soares, e suas cartas, referentes ao ano de 1862, revelam, inconteste, a origem local.
Sem a presença do padre Figueira no início da formação de Santa Cruz do Rio Pardo, com todos os desdobramentos consequentes, a história não seria esta; impossível imaginar, a história não registra impossibilidades e sim tentativas e feitos, independentemente do ocultamento desejado ou que melhor fosse.

3. Joaquim Manoel de Andrade não foi cofundador de Santa Cruz do Rio Pardo*
Foto atribuída a Joaquim Manoel de Andrade
- domínio público -
Quando da qualificação administrativa para Santa Cruz, como freguesia em 1872, Joaquim Manoel de Andrade destacou-se líder, e seu nome, desde então, a ilustrar os principais cargos, por eleições ou nomeações. 
A história identifica-o respeitável cidadão, religioso prestante, fazendeiro, criador de porcos, dono de serraria, capitalista e escravagista.
Andrade nasceu em Pouso Alegre -MG, em 12 de novembro de 1825 e batizado aos 20/11/1825 (Eclesial), filho de João Bernardino da Silveira e dona Bernardina Jesuina de Santa Catarina (Projeto Compartilhar, pesquisa de Paola Dias, Cap. 4º – Ângela Pires de Moraes: 9.8).
— São os seus irmãos e irmãs conhecidos: 
- Floriana Maria de Jesus: Pouso Alegre-MG, LB 1825/1825: 95; e LM 1832/1856: 47;
- João Bernardino Silveira: Airuoca-MG LM 1787/1814: 246;
- Joaquina Maria de Jesus: Pouso Alegre-MG LM 1832/1856: 38;
- José: Aiuruoca-MG LB 1808/1816: 156;
- Manoel Joaquim de Andrade: LM 1832/1856: 29;
- Maria ...: Aiuruoca-MG LB 1808/1816: 103;
- Marianna Esméria de Jesus: Pouso Alegre-MG LB 1815/1823: 94; e LM 1832/1856: 34;
- Messias José de Andrade: Pouso Alegre-MG LM 1832/1856: 11.
– (Blog: acréscimos 2020).
Joaquim Manoel de Andrade apresentou-se no sertão paulista, com dois irmãos identificados, Messias José de Andrade e Manoel Joaquim de Andrade, sendo Messias José pioneiro no Turvo/Alambari, enquanto Manoel, associado a Joaquim, adquiria uma fazenda de campos e matas, aos 19 de dezembro de 1851 (Pupo e Ciaccia, 2005: 136-E 30 e Mapa), na qual inserida a povoação de São Domingos.
O sócio e irmão Manoel seguiu rumo para Lençóis Paulista, enquanto Joaquim iniciou história santacruzense em 1870/1872, como rico fazendeiro, conhecido primo-irmão do homônimo desbravador no Turvo e Capivara, e do pioneiro-mor José Theodoro de Souza, sendo irmãs as mães dos três, respectivamente Bernardina Jesuína de Santa Catarina, Mariana Rosa da Assunção e Maria Teodora do Espírito Santo (Projeto Compartilhar, Família Bernarda Maria de Almeida). 
Andrade se tornou importante nome na história local, de 1872 a 1891, elegido o 1º Juiz de Paz de Santa Cruz, em 1875 – pleito anulado em 1876, depois eleito vereador em 1876 para a primeira legislatura (1877/1880), consagrando-se como o primeiro Presidente da Câmara, e reeleito para o cargo em outras oportunidades disputadas. Em 1884 integrou o Rol de Ilustres, pela Câmara Municipal, ofício de 12 de novembro de 1884, para compor a comissão responsável pelas obras da Igreja Matriz. Respondeu, ainda, por cargos púbicos em nomeação: Delegado de Polícia – 1877 (Diario de S. Paulo, 25/11/1877: 2), Coletor de Rendas - 1879, e, designado Presidente do Conselho da Intendência Municipal - 1890 até sua morte em 1891.
Joaquim Manoel de Andrade casou-se com Umbelina Maria de Jesus ou Ferreira do Nascimento, em São João do Jaguary - atual São João da Boa Vista - SP, aos 09 de novembro de 1845 (Curia Diocesana de São João da Boa Vista, Matrimônio, apud Henrique Dias da Silva Junior - pesquisador/historiador - Assis-SP, CD: A/A 05/09/2017), sendo ela nascida em Pouso Alegre - MG, onde batizada aos 12 de maio de 1833, com a idade de 13 dias, (Batismos, Livro 1825/1837: 285, https://www.familysearch.org/), filha de Manoel Antonio Rodrigues e Maria Ferreira, sendo testemunhas do casamento Domiciano José de Andrade e Manoel Antonio Rodrigues. 
O casal teve os seguintes filhos conhecidos: 
-Maria (Batismo: São João da Boa Vista, LB 1833/1858: 134, aos 04/04/1847 - ABRASP - Records Preservation);
-Bernardino (Batismo: São João da Boa Vista, LB 1833/1858: 159, aos 02/04/1849 - ABRASP - Records Preservation);
-José (Batismo: São João da Boa Vista, LB 1833/1858: 181, aos 24/04/1851 - ABRASP - Records Preservation);
-Manoel (Batismo: Botucatu, LB 1849/1856: 54, aos 30/07/1853, idade de seis meses - Family Search); 
-Theodora (Batismo: Botucatu, LB 1856/1859: 81, aos 04/09/1858, idade de seis meses - Family Search);
Certidão Eclesial de Casamento do Joaquim Manoel de
Andrade e Umbelina Ferreira do Nascimento 
-Joaquim (Batismo: São Domingos, LB 1859/1879: 68, 05/02/1860, idade de 20 dias - 
Family Search); 
-Antonio (Batismo: São Domingos, LB 1859/1879: 85, aos 01/09/1861, idade de oito dias) - Family Search;
-João (Alistamento Eleitoral: SCR.Pardo, ano 1890, nascido por volta 1862); 
-Silvestre (Matrimônio: SCR.Pardo aos 31/10/1891, nascido por volta de 1868); 
-Pedro (Alistamento Eleitoral: SCR. Pardo, ano de 1891, nascimento 1869); 
-Benedito (Batismo: SCR. Pardo, LB 1872/1879: 11, aos 26/01/1873, idade de cinco meses - Family Search). 
-Thereza (Batismo: SCR Pardo, nascimento em 1875).
– (Blog, atualizações 2020). 
Andrade faleceu aos 26 de dezembro de 1891, com a idade de 66 anos, em plena atividade política, como Presidente da Intendência do Município, e seus despojos acham-se sepultados na Igreja Matriz de São Sebastião juntamente com os de sua mulher, Umbelina Maria de Jesus, morta em 09 de agosto de 1896. 
Não se tem notícia oficial que o chefe do clã dos Andrades, em Santa Cruz, pertencera à Guarda Nacional; no entanto, referência do padre Andrea Barra em São Domingos, aos 21/02/1858, identifica-o Major e escravagista, na celebração de Missa de 7º Dia pela 'alma do escravo Pae Manoel Thiburcio' (Eclesial, Livro de Batismos, Matrimônios e Óbitos, SCR. Pardo, 1856/1884). 
Noutra alusão foi mencionado como "Capitão" (Correio Paulistano, 17/07/1941: 12), todavia as ausências de referimentos oficiais inviabilizam qualquer assertiva, quando se sabe de três homônimos no sertão paulista da época.
Joaquim Manoel de Andrade teve grande importância na história local e a ele quase tudo se deve na formação do lugar e até transformou-se, nas lendas e tradições, como cofundador de Santa Cruz, o que histórica e documentalmente não procede.
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*Histórico extraído integralmente do original SatoPrado: https://santacruzdeantigamente.blogspot.com/2015/09/os-coroneis-e-mandatarios.html

4. Encerramento
Resgates históricos, quase sempre, são implacáveis com seus heróis fundadores, revelando com toda crueza a verdade sobre eles, muitas vezes despindo-os do manto humanitário de que foram revestidos ao longo dos tempos, como mitos enraizados e embelecidos nas páginas e tradições infundidas na memória coletiva: 'aqui não houve escravidão negra e nem massacre indígena, nossos pioneiros e desbravadores foram homens de boa índole, e as posses sobre as terras, todas elas, mansas e pacíficas'.
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