Lembram as tradições que o mineiro José Theodoro de Souza, em meado do século XIX, comandou pequeno exército de 'bugreiros' na mais sanguinária invasão contra indígenas do último rincão inculto paulista, entre os rios Tietê e Paranapanema, a partir da descida da Serra Botucatu ao rio Paraná.
Theodoro hierarquizou seus homens e estabeleceu os comandos regionais para os ataques, quase ao mesmo tempo, sobre as aldeias previamente dimensionadas dentro do território focado.
Um dos grupos, chefiado por Manoel Francisco Soares, encarregou-se em 'civilizar o Turvo e Pardo santa-cruzenses', cujas ações iniciadas por volta de 1850, avançando sobre os indígenas para tomar-lhes as terras, tornar cativos os apanhados, recuar os escapadores e eliminar os recalcitrantes.
A história primitiva santa-cruzense neste aspecto, com efeito, perdeu-se, e a crônica informada para Santa Cruz do Rio Pardo, em 1886/1887, já ignorava o tempo da chegada de Manoel Francisco Soares e seus homens, porém tinha-o na lembrança como o pioneiro que, 'acercado de destemidos companheiros, muito combatera e levara de vencida os indígenas ferozes que infestavam a região'.
Soares, exitoso na empreitada, fizera erguer "uma cruz de madeira, que orgulhosamente se ostentava na beira do terreiro de sua habitação" (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 541), e, então, a pretensão de uma povoação em sua propriedade, ou, disto convencido, para doar cem alqueires de terras ao Patrimônio da Santa Cruz para tal propósito.
À época da crônica, igualmente lembrada a presença do padre João Domingos Figueira, como aquele que concorrera para execução do plano adotado pelo sertanejo, na formação do povoado, se não o convencedor, fazendo levantar um templo religioso e nele entronar a imagem de São Sebastião, ofertada pelo mesmo Soares; o lugarejo, assentado sobre a sede da Fazenda de Soares, tornou-se Capela Santa Cruz, em 1862, com dezoito ou vinte moradas.
A publicação de 1887, de possível inspiração do coronel e deputado provincial paulista, Emygdio José da Piedade, residente em Santa Cruz desde 1870, tinha por objeto a história local com a chegada do fazendeiro e capitalista Joaquim Manoel de Andrade, também em 1870, como o principal agente transformador do capenga arraial em próspera comunidade: "Os ranchos desde então foram esquecidos e, podemos affirmar, Santa Cruz do Rio Pardo nasceu em 1872, sendo desde então rapido o seu progresso e admiravel os melhoramentos que tem recebido." (Almanach da Provincia de São Paulo, 1887: 542).
Depreendido da narrativa de 1887, a Santa Cruz de 1872 deixava a condição de 'Capela' para transformar-se em 'Freguesia', sinônimo de progresso, sob os auspícios de Joaquim Manoel de Andrade, o mais rico e influente nome no lugar, inclusive o responsável, juntamente como o deputado Emygdio José da Piedade, pela elevação de Santa Cruz à condição de Vila e, assim, município, em 1876. A Igreja era a proprietária dos imóveis urbanos administrados pela Câmara Municipal, situação até o anos de 1903.
Após o golpe militar de 1889 que derrubou o império e instituiu a república, o Brasil foi declarado estado laico, em 1890, e já no ano seguinte a Câmara Municipal e a Igreja travaram disputa pelos terrenos urbanos santa-cruzenses, nos tempos do reverendo padre Bartholomeu Comenale, vigário forense, vereador, presidente da câmara e, depois, intendente.
Não localizado nenhum documento de concessão de bens do Manoel Francisco Soares à Igreja, e, em 1891, a Igreja precisou recorrer a testemunhos da época que atestassem a alienação patrimonial do Soares, inclusive o genro deste, José dos Santos Coutinho, também doador de terras, para o Patrimônio de Santo Antonio, que, somado ao da Santa Cruz, contribuiu na formação da urbe santa-cruzense.
Santa Cruz do Rio Pardo, outubro de 2024.
Depreendido da narrativa de 1887, a Santa Cruz de 1872 deixava a condição de 'Capela' para transformar-se em 'Freguesia', sinônimo de progresso, sob os auspícios de Joaquim Manoel de Andrade, o mais rico e influente nome no lugar, inclusive o responsável, juntamente como o deputado Emygdio José da Piedade, pela elevação de Santa Cruz à condição de Vila e, assim, município, em 1876. A Igreja era a proprietária dos imóveis urbanos administrados pela Câmara Municipal, situação até o anos de 1903.
Após o golpe militar de 1889 que derrubou o império e instituiu a república, o Brasil foi declarado estado laico, em 1890, e já no ano seguinte a Câmara Municipal e a Igreja travaram disputa pelos terrenos urbanos santa-cruzenses, nos tempos do reverendo padre Bartholomeu Comenale, vigário forense, vereador, presidente da câmara e, depois, intendente.
Não localizado nenhum documento de concessão de bens do Manoel Francisco Soares à Igreja, e, em 1891, a Igreja precisou recorrer a testemunhos da época que atestassem a alienação patrimonial do Soares, inclusive o genro deste, José dos Santos Coutinho, também doador de terras, para o Patrimônio de Santo Antonio, que, somado ao da Santa Cruz, contribuiu na formação da urbe santa-cruzense.
Santa Cruz do Rio Pardo, outubro de 2024.
Os autores Celso Prado e Junko Sato Prado