sábado, 20 de julho de 2013

– 01. OS PREFEITOS NA 'ERA VARGAS*'

Na denominada 'Era Vargas' - de 1930 a 1945 com efeitos até 1946, Getúlio regulamentou o controle por ele exercido sobre as interventorias federais nos estados, os quais, por sua vez, nomeavam os prefeitos municipais.
Somente a partir de 1930 surgiram as prefeituras como hoje se conhece, firmadas no estado de São Paulo pelo decreto nº 4.781, de 29 de novembro de 1930, modificado e consolidado pelo decreto nº 4.810, de 31 de dezembro de 1930, tendo por supedâneo o Decreto Federal n° 19.398, de 10 de novembro de 1930.
A prefeitura ocupou o prédio da câmara - paço municipal, durante todo o período de Interventoria.
O sistema interventorista aplicado pós-revolução de 1930, tornou frágil o poder legislativo municipal, supresso na época, e fez forte o poder executivo.

1. Abelardo Pinheiro Guimarães
Médico de profissão, caritativo, ingressou na política santa-cruzense, pelo 'Partido Democrático - PD', essencialmente paulista, surgido da dissidência 'Partido Republicano Paulista - PRP' de 24 de fevereiro de 1925, e sua primeira experiência política ocorreu nas eleições federais de 24 de fevereiro de 1927, quando seus candidatos Marrey Junior para deputado federal e Gama Cerqueira para senador, ficaram com 91 votos em Santa Cruz, enquanto os três candidatos 'perrepistas' a deputado federal obtiveram 530 votos cada um, número igual para o senador Arnolpho Azevedo.
Nesta eleição de 1927, Pinheiro Guimarães revelou o seu lado político cruel, numa frase que sua biografia quis esconder: "Em matéria de política, sou partidario do assassinato. Considero a elliminação do adversario um meio regular de triumpho." (A Cidade, edição de 06/03/1927: 1).
Candidatou-se a vereador em 1928 e foi eleito, e, para melhor exposição de suas ideias políticas e partidárias, fundou o semanário 'O Jornal', redacionado por Rui Gama e Silva.
Com a vitória dos revoltosos 'getulistas' na Revolução de 1930, dr. Pinheiro Guimarães conquistou o cargo de prefeito, por nomeação do 'Governo Interventor de São Paulo', coronel João Alberto Lins de Barros (Decreto de 31/12/1930, publicação DOSP, edição de 03/01/1931: 49), selando o fim do coronelismo no mando da política local, com a cassação e prisão de Leônidas do Amaral Vieira.
A nomeação de Pinheiro Guimarães aconteceu em razão do apoio do 'Partido Democrata - PD' local à candidatura de Vargas, nas eleições presidenciais de 1º de março de 1930, conquistando 10% dos votos santa-cruzenses. À derrota de Getúlio nas urnas sucedeu a 'Revolução de 1930', com singelo apoio do Partido Democrata, todavia importante por ser contra o PRP e suas hostes no estado paulista.
Pinheiro Guimarães, vindo da capital do estado, apresentou-se como prefeito, numa acalorada recepção popular na estação ferroviária local, aos 11 de janeiro de 1931, quando de regresso da capital (Diario Nacional, 23/01/1931: 6).
Pinheiro Guimarães assumiu a prefeitura bastante endividada, com empréstimos contraídos em 1915 para custear compromissos junto a 'Sociedade Anônima Leônidas Moreira'"vencidos semestralmente de 31 de Julho de 1915 a 31 de Janeiro de 1931 e o resgate de letras sorteadas, cujos pagamentos importam em Rs: (1.562:965$000)" (O Trabalho, 03/05/1931: 3). Não apenas isto, e o prefeito precisou administrar outros focos de esvaziamentos dos cofres da municipalidade, além da dívida, em si, e dos prejuízos causados pelo ramal da Sorocabana.
Santa Cruz, na administração Abelardo Pinheiro Guimarães, experimentou o período de 'caça às bruxas', iniciado com perseguição ao juiz de direito, Sylvio Marcondes de Moura, afastado do cargo e disponibilizado em São Paulo, por ordem do 'Secretário da Justiça, Plinio Barretto', substituído pelo gaúcho Eugenio Fortes Coelho; e na onda de prevaricações e arbitrariedades, com apoio do judiciário e através da 'Legião Revolucionária', do governo Lins de Barros, criando no município a 'Comissão Legionária', e, com ela, o prefeito destituiu toda a diretoria do Clube dos Vinte - reduto do tenente-coronel Leônidas do Amaral Vieira - e afastou os associados que não lhe eram simpáticos.
A 'Comissão Legionária' mostrou-se implacável a serviço do Pinheiro Guimarães, com algumas medidas até consideradas saneadoras da moralidade pública, mas visivelmente perseguidora, sem sindicâncias e processo administrativo o coletor federal, Manoel Novaes Cortez, acusado de desvios de recursos da repartição, entre outras imputações, afastado das funções; coletor estadual, Antonio Alóe, com mais de uma dezena de delações, punido com exoneração sumária; e, ainda, delatados ao 'Tesouro do Estado' os cidadãos Jayme Castanho de Almeida e Benedicto Carlos da Silva.
Ordens emanadas do gabinete da prefeitura, e do próprio Abelardo Pinheiro Guimarães conluiado com o delegado de polícia, tenente Alfredo Fernandes Costa, promoveram processos de denúncias e delações contra cidadãos santa-cruzenses e, em especial, funcionários públicos das três esferas de governo, num verdadeiro terrorismo oficial.
A queda do interventor Lins de Barros e a nomeação do magistrado Laudo de Ferreira de Camargo trouxe esperanças aos adversários políticos de Abelardo Guimarães, pois, o nomeado interventor, ao sujeitar-se às exigências 'perrepistas', abriu oportunidade para os opositores locais exercerem influência na política estadual, e assim assumiram a presidência e secretaria da 'Comissão Legionária', com Oscar Buscacio e Benedito Carlos da Silva.
A nova 'Legião' santa-cruzense tentou oposição a Pinheiro Guimarães, porém sem forças suficientes para derrubar o governo, que sustentava excelentes relacionamentos no judiciário e segurança pública, mas o líder legionário, tenente-coronel Leônidas do Amaral Vieira, preocupava o governo municipal, e a anistia concedida por Vargas a todos envolvidos nos movimentos revolucionários - Decreto Federal nº 19.395, de 08 de novembro de 1930, dava ao poderoso rival a condição de reassumir em assumir a liderança política local.
O juiz Fortes socorreu Pinheiro Guimarães revelando irregularidades administrativas cometidas por Amaral Vieira quando prefeito: "O inquerito que se processa na Camara Municipal desta cidade, revela indicios fortissimos de uma administração prevaricadora". Amaral Vieira debateu-se e praticamente se esqueceu de Pinheiro Guimarães, criando um vazio político oposicionista ocupado por Leônidas Camarinha.
Pinheiro Guimarães usou de truculência política ao interferir na direção da 'Escola Normal', nomeando pessoas de seu interesse político, além de fazer uso do semanário 'O Trabalho', para promover seus ataques e desqualificações de adversários, às vezes pessoas apolíticas.
Na 'Revolução Constitucionalista de 1932', o prefeito Pinheiro Guimarães fez-se omisso, enquanto muitos companheiros seus abraçaram a causa paulista, inclusive o juiz de direito Fortes Coelho, ao lado de adversários políticos.
'Do governo ao povo', assim Guimarães pretendeu a ideologia moldada à sua imagem, firmada em ideias vagas e naufragadas pela própria situação brasileira na época, em especial a do município. Sua administração foi utópica, algumas propostas ou pretensões irreais, outras, mais coerentes, que seriam adaptadas e aproveitadas pelo sucessor.
O prefeito até pensou numa cidade industrial, moderna e dinâmica, buscada nos estudos da Empresa Mauá S/A, prevendo inclusive a pavimentação marginal para o Rio Pardo e Ribeirão São Domingos.
Mas a Santa Cruz de 1934 não tinha abastecimento de água nem rede de esgotos, as ruas não eram asfaltadas, o município era pobre e endividado desde e com o ramal ferroviário, além da convivência cara e dramática com erosão à margem do São Domingos, em plena área urbana.
Sem realizações de peso, o governo de Pinheiro Guimarães foi considerado medíocre, tanto que sua exoneração, acontecida aos 29 de junho de 1935, deu-se em meio a grande regozijo popular (A Cidade, 30/06/1935: 1-4, "Prefeitura que se esborôa"), substituído excepcionalmente por Alzim de Souza Lemos.
O próprio 'Partido Constitucionalista - PC', do qual o Pinheiro Guimarães um dos fundadores, provocou sua queda:
—"DIRETORIO PC - Havendo grande desharmonia entre os políticos pceistas, embarcaram na semana passada, para a capital, todos os membros daquele directorio que pleiteiam a retirada do actual prefeito municipal, dr. Abelardo Pinheiro Guimarães, que, com quanto prefeito deste municipio desde 30, até hoje nada tem feito para o municipio" (Correio Paulistano, 19/06/1935: 9).
Abelardo não abandonou a política, e tonou-se oposição sistemática. Em 1944 a imprensa noticiava "O caso da pavimentação na cidade", com subtítulo "O ex-prefeito dr. Abelardo Pinheiro Guimarães também é contra o asfalto". Dr. Abelardo, juntamente com o farmacêutico Alziro de Souza Santos e outros partidários 'constitucionalistas', recusaram-se ao pagamento da prestação do asfaltamento na cidade, e o caso foi parar na justiça com ganho de causa para a Prefeitura.
Memórias 'udenistas', posteriores e em justificativa ante o desatino de dois profissionais de saúde – médico e farmacêutico, sustentavam que Abelardo, Alziro e os companheiros, eram contra o asfaltamento antes das instalações das redes de água e esgoto, embora a história registre que aqueles serviços antecederam a pavimentação asfáltica.
Abelardo foi membro fundador do Partido Constitucionalista, tendo por ele concorrido a Deputado Estadual, sem êxito. Com a democratização do país em 1945, foi fundador e presidente da UDN – União Democrática Nacional, e, posteriormente, presidente do PSP, ocasião que pleiteou vaga na Câmara Federal, não alcançando resultado.
Se não foi político brilhante, Dr. Abelardo Pinheiro Guimarães marcou seu nome como profissional de saúde, e hoje empresta seu nome a uma Unidade de Saúde, a um edifício comercial e uma via pública.
Faleceu em 01 de dezembro de 1977, idade de 80 anos.

2. Câmara e prefeitura 1936/1939 - legislativo dissolvido em 1937
O governo Pinheiro Guimarães teve dificuldade de administração, desprestigiado até pelos companheiros de partido, e caiu em junho de 1935, substituído por seguidos governos de curta duração, Alzim de Souza Lemos (1935), Tertuliano Vieira da Silva (1935/1936), Ricardo Campbel (1936), José Carlomagno (1936) e Jayme Castanho de Almeida (1936).
Esvaziado o poder legislativo desde 1930, em 1936 a euforia era geral, com previsões de eleições para 15 de março daquele ano: "Desde 24 de Outubro, há quase seis anos, as nossas Municipalidades, devido a malfadada revolução de 30, vem sendo discricionariamente entregues a correligionários do P.C. [Partido Constitucionalista] sem que o povo seja ouvido nem consultado nesse sentido." (A Cidade, 08/03/1936: 1).
Para a câmara de 1936 foram eleitos nove vereadores: 'Abelardo Pinheiro Guimarães, Accacio Trindade de Mello, Alziro de Souza Santos, Eduardo Lorenzetti, Gabriel Botelho de Souza, Geremias Camillo de Godoy, Jaime [Jayme] Castanho de Almeida, Leônidas Camarinha e Tertuliano Vieira da Silva' (Câmara Livro Ata, 1936).

2.1. Prefeito - Jaime Castanho de Almeida
Na primeira sessão do mandato, o vereador Jaime Castanho de Almeida, nomeado prefeito, solicitou da câmara a convocação do suplente, Benedicto de Castro Piedade, para assumir cargo de vereador, enquanto ele próprio dedicado somente à prefeitura.
No mesmo ano de 1936 iniciaram-se as discussões para a redação do 'Regimento Interno da Câmara', adequado às regras federais, evidenciando um executivo forte como representante legal do município. Os longos anos sem câmara davam aos vereadores a importância em legislar a favor da municipalidade.
Destacou-se nesta fase relevante discussão camarária, aos 10 de outubro de 1936 para a aquisição de quatro datas de terras na então avenida Silva Jardim [atual Cyro de Mello Camarinha], para edificação do novo prédio para a cadeia pública, e a reconstrução do velho edifício para acomodações dos cartórios nele existentes ou necessários (Câmara, Parecer Legislativo nº 9, de 1936).
Castanho de Almeida deixou a chefia do executivo para retornar ao legislativo municipal, em 1937, e o cargo de prefeito assumido por Joaquim Silverio Gomes dos Reis, até 1938, quando exonerado e substituído por Leônidas Camarinha.

2.2. Prefeito - Joaquim Silverio Gomes dos Reis
O professor Silverio dos Reis se destacou como planejador e executor de obras, abrindo caminhos para o sucessor Leônidas Camarinha: 
-Pensou e discutiu a instalação do serviço de abastecimento de água do município, obra não efetivada por ausência de concorrentes (Lei Municipal nº 14, de 15/02/1937).
-Serviços de esgotos com fossa asséptica e poço absorvente, à margem direita do Pardo pela rua Marechal Bittencourt, aonde "(...) os exgottos existentes nas ruas Marechal Bittencourt, Conselheiro Dantas, Euzebio de Queiroz, serão ligados ..." (Lei Municipal nº 22, 21/04/1937), em obediência ao Código Sanitário Estadual.
-Desapropriou imóvel do advogado Celso Vieira, à rua Saldanha Marinho, nº 282 (Lei Municipal nº 21, de 16/04/1937), para anexação à praça [Rui Barbosa] existente (Correio Paulistano, 23/06/1937: 12) - atual Major Antonio Alóe.
-Tornou de utilidade pública a ponte sobre o rio Turvo.
-Criou a 'Escola para Adultos' - alfabetização masculina junto ao prédio da 'Congregação Mariana'' (Lei Municipal nº 18, de 01/03/1937). -Deu auxilio à 'Associação dos Mutilados Constitucionalistas de São Paulo - Revolução de 1932' (Lei Municipal nº 19, de 30/03/1937). -Concedeu bolsa de estudo de 40% aos alunos filhos de funcionários municipais matriculados na 'Escola Normal Livre de Santa Cruz'.

A euforia camarária, por seu turno, durou quase nada e novamente o 'Governo Vargas', em novembro de 1937 dissolveu os legislativos para retorno democrático através de eleições diretas municipais apenas em 1947, cargos de vereador, prefeito e vice-prefeito.
Joaquim Silverio Gomes dos Reis foi exonerado do prefeito e, em seu lugar, nomeado Leônidas Camarinha, pelo interventor paulista Adhemar Pereira de Barros, por Decreto do  Departamento das Municipalidades, de 23 e publicado aos 24 de junho de 1938 (DOSP, 24/06/1938: 3).  

3. 'Departamento das Municipalidades' - prefeitos nomeados
3.1. O caudilho Leônidas 'Lulu' Camarinha (1938/1946)
Aos prefeito nomeado pelo interventor paulista, Adhemar Pereira de Barros, pelo Departamento das Municipalidades (DOSP, 24/06/1938: 3)cuja posse em grande estilo aos 03 de julho de 1938 (Correio Paulistano, 05/07/1938: 5) 
—Leônidas 'Lulu' Camarinha, herdeiro ou seguidor político do irmão Pedro Camarinha, assumiu a prefeitura aos 03 de julho de 1938, para solidificar em Santa Cruz a 'Era Camarinha', que perduraria por décadas. 
Nove meses após a posse, o governo federal impôs o Decreto-Lei nº 1.202, de 08 e publicado a 10 de abril de 1939, conhecido por 'Código Administrativo', estabelecendo 'Interventoria e o Conselho Administrativo' nos respectivos estados, cabendo ao interventor estadual [governador] nomear prefeitos "para exercício das funções executivas e em colaboração com o 'Departamento Administrativo [das Municipalidades]', legislar nas matérias da competência (...) dos Municípios, enquanto não se constituírem os respectivos órgãos legislativos", nos termos do decreto-lei nº 1.202, artigo 5º, no que tange a municipalidade. Leônidas Camarinha continuou à frente do executivo santa-cruzense.
Apesar do objeto de sua criação, o 'Departamento das Municipalidades', do 'Conselho Administrativo', não foi propriamente um órgão legislativo, pela incapacidade legal de produzir leis, cumprindo-lhe propor alterações burocráticas, emitir pareceres e referendar ou não projetos do executivo pelos Decretos-Leis. O 'Conselho' esteve ativo entre 1939 a 1947.
Afora o estilo político megalômano, Leônidas Camarinha era midiático e fazia largo uso dos microfones da 'Rádio Audição Pública de Santa Cruz do Rio Pardo', potente serviço de alto-falantes instalado na então Praça da República - atual Deputado Leônidas Camarinha, depois o 'SAF - Serviço de Alto-Falantes', e ainda a 'Rádio Difusora Santa Cruz', a seu tempo, concessão que lhe foi dada e dela tornou-se sócio proprietário.
Ano a ano, de 1939 ao final de seu governo municipal, fez publicar os seus feitos de administrador público, como prestação de contas à população, inclusive com edições publicadas pela 'Livraria Acadêmica de São Paulo - Saraiva e Cia', comparando sua administração com a anterior e mostrando, exercício a exercício, o progressismo municipal.
Camarinha fez uso político do esporte, objetivando um time municipal de futebol, com a desapropriação de terrenos para a construção de um estádio que levaria o seu nome, projeto este inserido num pacote de obras, como a construção de um parque infantil - Decreto-Lei Municipal de nº 12, de 20 de dezembro de 1940, e, numa etapa seguinte, a construção da 'Nova Santa Casa' - que virou o Hospital Maternidade 'Dona Maria Perpétua Piedade Gonçalves' - Decreto Municipal nº 48, de 26 de outubro de 1944.
—Mudou os planos em relação ao Estádio de Futebol e no lugar hoje as escolas estaduais 'Leonidas do Amaral Vieira' e 'Sinharinha Camarinha'.
'Lulu' se fez, via municipalidade, financista e mantenedor do hebdomadário 'A Cidade', em 1941, quando o órgão deixou de ser oficialmente vinculado a um partido político para dizer-se independente, sob a direção de Renato Taveiros.
Como prefeito, também pelo município, consistiu-se em um dos patrocinadores da obra de Leo Azeredo, "Cidades que renascem" (Azeredo, 1943: 61-63), custeada por associação de municípios cujos prefeitos apologizados, e todo um capítulo para Santa Cruz, com exaltações à terra, ao trabalhador, ao progresso devido ao aumento populacional, ao incremento agrícola - algodão e cereais e a intensificação comercial e industrial na sede do município.
Pela vontade do então prefeito, Santa Cruz teria 60 mil ou mais habitantes, enquanto o censo oficial de 1940 revelava 44.578 moradores.
À frente do executivo soube aproveitar a oportunidade para remodelar a cidade e concretizar ações de saneamento básico, fazendo-se prefeito tocador de obras vistas e divulgadas, como a pavimentação da cidade, as reformas de prédios públicos, implantação do serviço público de água e rede de esgoto - enfim resolvido, arborização e modernização das praças principais, das quais a central leva seu nome. Também foi o responsável pela fundação do 'Aero Club Santa Cruz', presidido por Benedicto Carlos da Silva, e a instalação do hangar (O Estado de S. Paulo, edição de 22/07/1939: 6).
Para cada feito do Governo Camarinha, uma "Comissão Patrocinadora de Homenagens", 'voluntária e independente', que organizava festejos e desfiles, diurnos ou noturnos - marcha luminosa - precedidos de alunos, escoteiros, professores e normalistas, comerciantes e autoridades, conforme a apologética matéria publicada pelo diário paulistano 'O Estado de S. Paulo' (22/07/1939: 6).
Leônidas sobreviveu, politicamente, a queda do seu padrinho Adhemar de Barros, em 1941,  atravessando todo o período do interventor Fernando Costa (1941/1945), graças sua influência naquele governo, porém, não resistiu a interventoria de José Carlos de Macedo Soares (1945/1947) e foi exonerado (DOSP, 18/04/1946: 1, Decreto de 17 de abril de 1946), decisão por telefone (Jornal de Notícias, 05/05/1946: 6).
Enquanto o prosseguimento da crise política com sua demissão, Leônidas Camarinha fundou a 'Rádio Difusora Santa Cruz [ZYQ-8]', concessão em 1946, em sociedade com o comerciante João Queiroz Junior e o bancário José Antonio Ramos, para desta maneira concentrar em suas mãos a imprensa santa-cruzense, escrita e falada, e dela fazer uso político, aprontando-se para disputar vaga na Assembleia Legislativa e eleger-se deputado estadual, com 4.262 votos, para a legislatura 1947/1950.
Camarinha não teve atuação parlamentar destacada, apenas endereçando projetos de impacto popular, muito mais para Santa Cruz e região, como destinações de verbas para obras assistenciais, aos esportes e à construção do Hospital, que já se dizia Hospital Maternidade. Se reelegeu deputado, mandato de 1952/1955, pelo Partido Social Progressista - PSP, com 5.848 votos.
O PSP foi renomeado, em 1947, do 'Partido Republicano Paulista - PRP', de Adhemar de Barros.
Outra eleição estadual, Legislatura 1956/1959, e Leônidas novamente deputado eleito com 6.590 votos, sendo que nessa disputa teve a rivalidade municipal de José Osíris Piedade, o Biju, lançado candidato pela 'UDN - União Democrática Nacional', que não ultrapassou os 600 votos.
Na legislatura, de 1956/1959, Camarinha cometeria dois erros políticos em prejuízo a Santa Cruz, primeiro ao consentir e atuar favoravelmente para a redução territorial do município, em favor da localidade de Ourinhos, com a perda da 'Usina São Luiz' e a consequente arrecadação; noutro desacerto, negou apoio político regional ao então candidato para governo paulista, Jânio da Silva Quadros, afinando-se com dr. Adhemar de Barros.
Outra cinca, aponta que o Camarinha era distribuidor de falsos diplomas pela Escola Normal de Santa Cruz, e favorecera Marlene Taveiros, filha de Renato Taveiros (Diretor da Câmara e dono de Jornal), um sobrinho e apadrinhados políticos, locais e de outras regiões, casos então denunciados que obrigaram incêndio criminoso na secretaria da Escola, ateado por dois funcionários, Walter Biel e Benedito Camarinha Machado, consumindo os livros e documentos que pudessem atestar as falcatruas.
Leônidas teve que se explicar junto ao então Governador Dr. Jânio da Silva Quadros, através da Secretaria de Educação, e não sem razões já o insinuavam 'incendiário', pecha que lhe foi dada desde a queima da sede da UDN santa-cruzense (Jornal de Notícias, 08/01/1948: 3).
—Versão brandecida do incêndio na Escola Normal conta que Leônidas tão somente acorrera em favor daqueles dois servidores públicos, e que o fogo adveio de problemas elétricos.
Diante das atitudes políticas de Leônidas Camarinha, a desfavor do município, teria acontecido a dissidência, em 1957, liderada por Lucio Casanova Neto, Anísio Zacura e Onofre Rosa de Oliveira, abrigados na legenda do 'Partido Democrata Cristão - PDC', unido à UDN, contra o grupo Camarinha, e Onofre Rosa de Oliveira foi eleito, em 1959, prefeito municipal tendo por vice José Osíris Piedade - Biju.
Leônidas Camarinha não perdoou o líder dissidente e fez chegar ao Ministério Público, em 1959, denúncias de desvios de dinheiro público, ocorridos durante a gestão do antigo aliado, Lucio Casanova Neto (1956/1959), referente a repasse de diferenças de fretes do ramal sorocabano a favor do município, ocorrido aos 10 de abril de 1957. Ainda mais, contra Lucio as denúncias de irregularidades nas compras de materiais e medicamentos.
Leônidas 'Lulu' Camarinha reeleito deputado estadual (1959/1963), pela coligação 'Partido Social Democrático e Partido Social Progressista - PSD/PSP, teve aumento significativo de votos, com 9.996 eleitores, e à forra contra o grupo de Lúcio, em 1963 viu elegido o genro, Carlos Queiroz, para prefeito, e o sobrinho engenheiro, José Carlos Nascimento Camarinha, para vice. Este foi o seu último grande feito político.
Houve acirramento político, o grupo de Lucio não se abateu, e no pleito de 1966, para a Assembleia Legislativa (1967/1970), Leônidas foi rejeitado nas urnas, com apenas 4.027 votos, enquanto o rival assumiu cadeira com 12.925 votações.
O grupo político de Leônidas, segundo denúncias de adversários capitaneados por Lucio Casanova, envolvera-se em escândalos político-administrativos, carreado por Cyro de Mello Camarinha, então processado por desvios de verbas públicas e peculatos, e José Carlos Nascimento Camarinha, acusado e preso por subtração de materiais e superfaturamento em obras do governo, além de outro Camarinha, o Benedito, complicado na onda de falsos diplomas escolares e incêndio na secretaria da escola.
A denominada 'época política Camarinha', após três décadas, chegava ao fim em outubro de 1969, com a trágica morte do ex-prefeito Carlos Queiroz, herdeiro político de Leônidas.
Camarinha, após a política, dedicou-se aos negócios particulares, gerenciando o Frigorífico Santa Cruz que possuía, em sociedade, visto em 1968 (DOSP: Publicações em Ineditoriais de 25, 27 e 30/01/1968) e depois em 1970, com saídas e entradas de sócios.
Leônidas também possuía, em sociedade, outros segmentos de serviços, por exemplo, comércio varejista de combustível, com dois postos de revendas – um [por tempos chamado de Posto do Pelé] na Avenida Tiradentes onde atualmente [referência 2010] as instalações da Nossa Caixa [antiga Caixa Econômica Estadual] aquisicionada pelo Banco do Brasil; o outro onde o Posto Confiança I, ao final da Euclides da Cunha esquina com a Simão Cabral.
Consta, também, Leônidas Camarinha como 'Membro do Conselho Fiscal da Itacolomy de Automóveis S/A' (DOSP/Ineditoriais, 02/04/1966: 32).
Faleceu aos 23 de agosto de 1971.

3.2. O prefeito nomeado que nem tomou posse 
Para substituir o deposto Leonidas Camarinha, o interventor paulista Macedo Soares nomeou o seu amigo pessoal, o médico e político Pedro Cezar [Cesar] Sampaio, que não tomou posse e teve sua nomeação tornada sem efeito, por Decreto de 16 publicado aos 17 de maio de 1946 [DOSP].
—Macedo Soares tinha fazenda na região e era bastante relacionado com os políticos santa-cruzenses.
A nomeação de Cesar Sampaio provocara tremenda crise política em Santa Cruz do Rio Pardo, inclusive a causar dissidência no 'PSD-paulista', assim como o ato que tornou sem efeito a nomeação, igualmente causou danos no governo estadual, com a autodemissão de Romeu Tortima, diretor do 'Departamento das Municipalidades', esclarecido que não houve desistência de Cesar Sampaio no ato da nomeação e nem pedido seu de exoneração.
—Cesar Sampaio compreendera as razões do amigo, sem aparentes mágoas entre eles, segundo comentário familiar.
No lugar de Pedro Cesar Sampaio a interventoria paulista comissionou, como prefeito, Mario Campos Pacheco - mesma fonte DOSP, no sistema 'intervenção branca', depois substituído por Mario Botelho do Amaral, em 1947, e daí uma série de ocupantes interinos de curta duração, todos ainda em 1947: 'João Ferreira Vasconcelos, Francisco Gonzaga de Oliveira, Philadelpho Aranha Junior, João Palma Villas Boas e José Osiris Piedade'.
—O exonerado 'Lulu' Camarinha optou por se candidatar a deputado estadual, elegendo-se.
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